MOÇAMBIQUE. O ex-Presidente moçambicano, Joaquim Chissano, criticou hoje a bipolarização das conversações de paz em Moçambique, considerando que a solução para o problema político passa por um debate profundo e inclusivo sobre o modelo de governação que o povo quer.
“O diálogo que temos hoje é de dois partidos, mas a solução devia ser encontrada por todos”, declarou o antigo chefe de Estado moçambicano, à margem de uma cerimónia na residência oficial da Presidência moçambicana, no palácio da Ponta Vermelha, por ocasião do Natal e final do ano.
Para Joaquim Chissano, a bipolarização do processo negocial para o fim da crise política e militar entre o Governo da Frelimo e a Renamo, principal partido de oposição, pode prolongar um problema cuja solução exige, além do povo, o envolvimento de outros partidos políticos.
“Este processo é muito mais complexo do que se pensa”, referiu Chissano, que a ponta a interiorização da cultura democrática entre os moçambicanos como um pressuposto básico para a construção do Estado de Direito.
Além de uma “definição concreta” do modelo que o país precisa, Joaquim Chissano entende que a descentralização, exigida pela oposição, é um processo que “levará o muito tempo” e, mais do que uma revisão constitucional, é preciso levar a informação sobre a relevância desta mudança às populações.
“Pode haver inclusão sim, mas é preciso que tudo isto seja antes definido, num trabalho sério e profundo por todo país”, afirmou o antigo chefe de Estado, acrescentando que “perde-se muito tempo a discutir quem vai governar aqui ou acolá, enquanto a prioridade devia ser os que moçambicanos realmente querem”.
Moçambique atravessa uma crise política e militar marcada por confrontos, no centro do país, entre o braço armado do principal partido de oposição e as Forças de Defesa e Segurança, além de denúncias mútuas de raptos e assassínios de dirigentes políticos das duas partes.
A Renamo acusa a Frelimo de ter viciado as eleições de 2014, que deram a vitória ao partido no poder há mais de 40 anos, e exige governar em seis províncias onde reivindica vitória no escrutínio.
As autoridades moçambicanas têm responsabilizado a Renamo por várias ataques a alvos civis e emboscadas nas principais estradas do centro do país, onde a circulação está condicionada a escoltas militares obrigatórias.
Apesar dos casos de violência, o Governo e a Renamo voltaram às negociações em Maputo, mas não são conhecidos avanços.