No seu discurso que marcou o arranque de mais um ano legislativo, o Presidente da República (no poder há 37 anos e nunca nominalmente eleito), José Eduardo dos Santos, fez uma radiografia perfeita sobre aquilo que é o actual estado do seu reino. Quanto à Nação Angolana, passou ao lado.
Por Óscar Cabinda
Um reino que é, como o Presidente teve ocasião de bem sublinhar, marcado por uma conjuntura económica adversa, fruto de um contexto internacional desfavorável para quem tem alergia mortal à democracia e ao Estado de Direito.
Não obstante essa grande contrariedade, sua majestade o rei teve a oportunidade de enumerar toda uma série de conquistas de carácter esclavagista entretanto feitas e que deixam perceber a existência de condições para que o problema se agrave,
Para isso, o Executivo monárquico aprovou na sua última reunião o Orçamento Geral do Estado para 2017 onde, como era de esperar, a grande parte dos recursos será direccionada para os mesmos de sempre, acólitos da corte, e não para dar de comer a quem tem fome, dar assistência a quem precisa, dignificar os angolanos.
Mas, para já e fruto de uma série de medidas prometidas, entre as quais se destaca o processo de diversificação económica que deveria ter começado em 1975 ou, pelo menos, em 2002, o reino consegue estar muito próximo de conseguir ensinar os seus escravos a viver sem comer.
Neste momento, algumas indústrias que haviam paralisado por falta de matéria-prima (culpa, obviamente, da oposição e nunca de sua majestade o rei) já retomaram a sua produção, o que irá ajudar a reempregar alguns trabalhadores e a aumentar a capacidade da oferta nacional para um mercado interno que tenta reajustar-se de modo a sobreviver. Fruto da suposta aposta no aumento da produção nacional, sobretudo de bens alimentares, e ao contrário da propaganda do regime, assiste-se a um aumento do preço da generalidade dos produtos alimentares que estão incluídos na denominada “cesta básica”.
Dizem os arautos do regime que em breve chegarão ao reino produtos alimentares que ainda não são produzidos internamente, acrescentando que dessa forma estarão criadas as condições para a satisfação das necessidades básicas da população com reflexos na diminuição da inflação e consequente aumento do seu poder de compra.
Para além de ser uma tese tão velha (e por isso já morreu) todos sabemos que a economia está de rastos e que a inflação está próxima dos 40%. Não é que isso preocupe a monarquia. Os que deveriam estar preocupados continuam a sobreviver com fuba podre e peixe podre, certos que levarão porrada se refilarem.
Tudo isto foi radiografado artesanalmente e com dados mistificados por sua majestade José Eduardo dos Santos no seu discurso sobre o estado do seu reino, o último antes do próximo e sobre o qual a oposição reagiu com clareza mostrando, aliás, que o rei vai nu e que, como sempre, os seus acólitos dizem ir vestido com fatos confeccionados pelos maiores estilistas do mundo.
É normal, diga-se, que o MPLA (igualmente alérgico às mais elementares regras da democracia) critique os partidos da oposição, apesar desta ser por regra muito suave (a sobrevivência física dos seus líderes a isso obriga). O que já não é normal é que essas críticas dos sipaios do regime, invariavelmente, não sejam acompanhadas não só de argumentos sólidos como, também, de alternativas que possam servir para que todos nós tenhamos uma ideia daquilo que faria se estivesse na oposição.
O momento que o reino vive, a um ano da realização de eleições, merecia que o debate político fosse feito com mais seriedade, com cada um dos diferentes intervenientes a assumir as suas responsabilidades perante os cidadãos, esperando-se ingenuamente que o exemplo partisse do MPLA.
Mas não é isso que se passa. Mais uma vez, a Oposição encarou a Nação, olhando-a nos olhos, colocando o acento tónico no presente para garantir um futuro melhor. O rei não gostou.
O MPLA, novamente, engoliu em seco e recorreu a frases feitas e aos serviços sabujos dos seus sipaios para mostrar que não está minimamente preparado para assumir as responsabilidades quando Angola for uma democracia e um Estado de Direito.
O povo, que vive determinado em tudo fazer para superar a crise, mais uma vez rendeu-se à clarividência da Oposição até porque sente os efeitos ultra-negativos das medidas que têm sido tomadas pelo Executivo, e não se revê nos jogos florais com que o MPLA/Regime oposição os tenta entreter.