O ministro do Interior de Angola, Ângelo Veiga Tavares, apelou hoje, em Luanda, à serenidade dos principais órgãos daquele ministério face às “campanhas difamatórias” que nos últimos dias têm surgido nas redes sociais.
Ângelo Veiga Tavares discursava na abertura do II Conselho Metodológico da Direcção-Geral do Serviço Penitenciário, tendo-se referido a denúncias que circularam nos últimos dias, com a divulgação de fotos, sobre o mau estado de saúde de reclusos nas cadeias de Luanda.
Outros relatos apontam a morte de supostos criminosos alegadamente por efectivos do Serviço de Investigação Criminal (SIC) e o envolvimento sexual de responsáveis dos serviços penitenciários com reclusas, na província do Cuanza Sul.
“Deveremos manter a serenidade, verificando no entanto todas as denúncias, acatar as críticas fundadas e corrigir as nossas debilidades e insuficiências e criando condições para que os cidadãos de boa-fé possam, em segurança, denunciar todos aqueles que violem as leis e regulamentos e, tal como já nos referimos, sancioná-los exemplarmente”, disse o ministro.
Ao pretender demonstrar que existe exagero e falsidade nas denúncias feitas, muitas aqui no Folha 8, Ângelo Veiga Tavares acaba por dizer que, afinal, há muita verdade nessas denúncias.
Justifica o ministro que, em 2015, foram aplicadas 721 sanções, destacando-se 189 demissões, das quais 132 na Polícia Nacional, incluindo o SIC e 28 no Serviço penitenciário.
Então, senhor ministro? Se só num ano existiram tantas sanções e tantas demissões deveu-se a quê? Foi por os sancionados e demitidos estarem a ajudar as velhinhas a atravessar a rua, ou porque exorbitaram as suas funções?
No primeiro semestre deste ano, há registo de 412 sanções, entre demissões, despromoções, multas, repreensões e outras, sem descurar a detenção e o procedimento criminal para os que cometem acções criminosas, algumas no exercício das suas funções.
Pois é. Nós (e muitos outros) exageramos nas denúncias, segundo o ministro do Interior. No entanto, Ângelo Veiga Tavares reconhece que continuam a existir prevaricadores mais nas estruturas sob sua tutela.
O titular da pasta do Interior pediu mais atenção aos órgãos daquele ministério, salientando que são conhecidas “as manobras” para a sua desestabilização, espírito de coesão e criação de factos políticos.
Em que é que ficamos, senhor ministro Ângelo Veiga Tavares? São manobras de desestabilização denunciar o que se passa, ou apenas actos cívicos de quem se preocupa com as injustiças? É que, se não temos razão, não se compreende que venha falar que, só no primeiro semestre deste ano, existam de 412 sanções, entre demissões, despromoções, multas, repreensões e outras.
“E o Serviço Penitenciário é um órgão do Ministério do Interior visado nesta campanha, em que com recurso ao cobarde anonimato, alguns se escondem para recorrer à difamação e à calúnia, pelo que apelamos à capacidade de análise dos angolanos e particularmente dos órgãos de comunicação social no tratamento destas matérias”, frisou.
Recurso cobarde ao anonimato? Recorrer à difamação e à calúnia? Que mais será preciso para que o ministro Ângelo Veiga Tavares compreenda a verdade dos factos? Não bastam as fotos, os depoimentos, os vídeos?
O ministro agradeceu o apoio do Ministério da Saúde no tratamento aos reclusos doentes, devendo os órgãos de saúde do Ministério do Interior dedicar particular atenção àqueles portadores de doenças mais graves, nomeadamente seropositivos e tuberculosos.
“O Serviço Penitenciário deverá redobrar a sua vigilância no sentido de prevenir situações que mancham o bom nome da instituição, devendo, para isso, aumentar o trabalho das áreas de educação moral e patriótica e continuar a sancionar exemplarmente todos os que enveredarem por práticas incorrectas”, apelou o ministro.
Folha 8 com Lusa