Peritos médicos da União Europeia (UE) estão em Angola para “compreender” a epidemia de febre-amarela que em cinco meses matou – segundo as pouco credíveis informações oficiais – quase 300 pessoas, sobretudo em Luanda, nomeadamente para “avaliar as implicações para a Europa”.
Recorde-se que é esta mesma União Europeia que o Governo de sua majestade o rei de Angola, José Eduardo dos Santos, acusa de fomentar actos contra o poder instituído.
A informação foi divulgada hoje pela delegação da UE em Luanda, acrescentando, em nota enviada à comunicação social, que a missão integra peritos da Alemanha, Portugal e Bélgica, elementos da Comissão Europeia e especialistas do Centro Europeu de Prevenção e Controlo de Doenças, ao abrigo do Corpo Médico Europeu (EMC), lançado em Fevereiro deste ano.
Promover uma “melhor compreensão do surto, avaliar as implicações para a Europa, e analisar a possibilidade de um maior apoio especializado para o país” são os objectivos desta missão, que se prolongará por duas semanas, indica a delegação da UE.
A epidemia de febre-amarela que atinge Angola provocou 293 mortos – até 5 de Maio – e 2.267 casos suspeitos em quase cinco meses, segundo o mais recente boletim oficial sobre a doença.
A delegação da UE recorda que a EMC permite que equipas e equipamentos dos estados-membros possam “intervir rapidamente para fornecer assistência médica e especialização em matéria de saúde pública”, dentro e fora do espaço comunitário europeu.
“Estamos a destacar uma primeira equipa de peritos na área da saúde pública. Estas acções complementarão os esforços desenvolvidos pelo Governo angolano e serão desenvolvidas em estreita colaboração com a Organização Mundial de Saúde e outros parceiros internacionais no terreno, para lidar com o surto de febre-amarela. Juntos, podemos compreender e deter melhor e mais rapidamente o surto”, explica o Comissário Europeu responsável pela Ajuda Humanitária e Gestão de Crises, Christos Stylianides, citado na nota.
As autoridades de saúde internacionais identificaram casos suspeitos importados de Angola na China, Quénia, República Democrática do Congo e a Mauritânia.
Desde a detecção de casos, iniciou-se uma campanha de vacinação em larga escala com vista a vacinação de 6,7 milhões de pessoas em Luanda, epicentro da epidemia, e que está a ser alargada a outras províncias.
“A equipa de peritos médicos tem como objectivo promover uma melhor compreensão da epidemiologia da doença, avaliar os riscos de propagação regional e internacional, as implicações para a Europa e para os europeus que viajam na região, e analisar formas de transferir conhecimentos mais especializados para Angola, nos seus esforços de atenuação”, conclui a mesma nota.
A EMC faz parte da Capacidade Europeia de Resposta de Emergências, também conhecido como reserva voluntária, criado no âmbito do mecanismo de protecção civil da UE.
Angola já registou surtos de febre-amarela em 1971, durante o tempo colonial português, e posteriormente em 1988, sendo o actual considerado o mais grave de todos.
Recorde-se que os partidos da oposição, bem como a sociedade civil em geral, há muito que insta o Governo angolano a trabalhar intensamente com parceiros nacionais e internacionais para corrigir as graves distorções no combate à epidemia de febre-amarela.
Do mesmo modo apelam às autoridades governamentais para adoptarem urgentemente acções que resguardem o sector da saúde da crise económica que Angola enfrenta actualmente, decorrente da baixa do preço do barril do petróleo.
Isto porque, de uma forma geral, consideram catastrófica a degradação da situação sanitária a que se assiste no país. Assim sendo, o surto de febre-amarela é considerado como o corolário da falência do sistema sanitário do país em relação ao qual o executivo tem respondido com tibieza, com medidas pouco articuladas e com falhas gritantes no que diz respeito à comunicação, aspecto fundamental para assegurar a adesão das populações e o êxito das acções a empreender.
Recorde-se que a Organização Mundial de Saúde (OMS) considerou no passado dia 6 que o surto de febre-amarela em Angola “continua de elevada preocupação”, depois de as autoridades angolanas terem dado a epidemia como controlada.
“O surto em Angola continua de elevada preocupação devido à transmissão local persistente em Luanda apesar de quase seis milhões de pessoas terem sido vacinadas; há registo de transmissão local em seis províncias (zonas urbanas e portos principais) e há um alto risco de propagação aos países vizinhos”, escreve a OMS num relatório sobre a situação da febre-amarela.
A posição da Organização Mundial de Saúde surgiu depois de a directora provincial da Saúde de Luanda, Rosa Bessa, ter anunciado – reproduzindo as ordens superiores – que a epidemia de febre-amarela estava controlada.
A OMS considera que há um risco elevado de estabelecimento da transmissão local em outras províncias onde não há ainda registo de casos autónomos.
A OMS informa ainda, no relatório, que apesar da campanha de vacinação a decorrer em Luanda, Benguela e Huambo, os números apontam para uma cobertura insuficiente nas três províncias.