A oposição angolana, com toda a legitimidade e razão, responsabiliza a má governação do MPLA (no poder desde 1975, relembre-se) pela crise económica. Do outro lado, o regime manda os seus sipaios dizer que é tudo passageiro e que, talvez com mais 30 anos no poder, o MPLA consiga fazer o que não foi capaz nos últimos 40.
Por Orlando Castro
Nos últimos dias, e com clara tendência de agravamento, os preços dos produtos e serviços em Angola não param de subir o que deixa uma grande maioria da população com muito pouco, ou nulo, poder de compra. O regime sabe que o rastilho está aceso.
O secretário executivo da CASA-CE, Leonel Gomes, fala em ”desgovernação” do país há 40 anos como a razão fundamental da crise.
”Este Governo está sem soluções, sem ideias porque nunca foi patriótico, um país que não produz, importa quase tudo, as divisas foram delapidadas, roubadas e distribuídas pela oligarquia no poder, sem divisas, não há importação, sem produção, tem como resultado miséria, fome, destruição de lares, desespero das pessoas, fruto da desgovernação do país há 40 anos”, acusa Leonel Gomes, reflectindo aquele que é o sentimento crescente dos angolanos.
Por seu lado, o deputado Raúl Danda, da UNITA, alinha no mesmo pensamento e diz que o Governo perdeu norte: ”Em Cabinda houve uma invasão aos armazéns da Angoalissar porque num dia o preço do saco de arroz estava a dois mil kwanzas, no outro já estava a 10 mil, e os armazéns abrem às oito horas e fecham às nove horas porque não existe uma política de preços nesta terra, cada um pratica o preço que quiser, o Governo está claramente sem soluções para resolver isto”.
Eis então quando chega à ribalta circense o palhaço (sem ofensa para estes) João Pinto, deputado pela bancada do MPLA, figura proeminente do regime que, com elevada categoria, alia a sua elevadíssima PMD (Propensão Marginal para o Disparate) com o seu não menos elevadíssimo PIB (Produto Interno Bruto) para dizer que os terroristas (todos os que não são do MPLA) “andam aí a apregoar com um sensacionalismo, um populismo doentio e exacerbado” – a crise.
No meio dos seus grunhidos foi perceptível que, segundo ele, “não é aconselhável, é preciso prudência e bom senso, que isto vai passar porque já vivemos momentos piores, muita gente não gosta de ouvir isto”. Para ter a certeza que todos, sobretudo os seus chefes, ouviam bem o que dizia, João Pinto optou por zurrar: “Isto vai passar, apesar de haver um pouco de ansiedade, mas temos que transmitir confiança e mudar de hábitos todos nós”.
E, à laia de conclusão, o deputado latiu então que “se comíamos bifes caros, vamos comer bifes de atum, e é preciso que aqueles que comiam muitos pratos reduzam para um”.
Um vasto histórico simiesco
Quando, em Outubro do ano passado, nos Estados Unidos da América detiveram várias pessoas acusadas de apoiarem a organização terrorista “Estado Islâmico”, logo apareceu este mesmo João Pinto a dizer que, tal como em Angola (caso dos jovens activistas), a prisão de várias pessoas acusadas de quererem derrubar o governo é algo “perfeitamente normal”.
As detenções nos EUA foram debatidas na Televisão Pública do MPLA, tendo do dono da televisão mandado um sipaio zurrar sobre a similitude entre o caso norte-americano com a detenção dos 15+2 jovens que, armados com 12 esferográficas BIC (azuis), um lápis de carvão (vermelho), três blocos de papel (brancos) e um livro sobre a ditadura, se preparavam para fazer um golpe de Estado.
De facto, quem melhor do que o bobo da corte, o hermafrodita político João Pinto, deputado do MPLA, invertebrado para todos os serviços encomendados pelo “querido líder”, para afirmar que, tanto nos EUA como em Angola, não se pode brincar com a segurança do Estado?
“Na América e em Angola há leis; em qualquer tentativa de criar desordem as instituições do Estado, a Procuradoria, devem agir e os tribunais decidem”, relinchou o João Pintainho nua sua vã tentativa de, com doses industrias de esteróides, almejar um dia chegar a galo… do regime.
“Com aspectos de segurança não se brinca. Esperamos que os cidadãos aprendam. Aí está um exemplo que afinal de contas se dá na maior potência democrática do mundo”, acrescentou o histrião para deleite do seu dono.
Certamente à espera de dar impulso à sua vocação de comediante, uma das muitas a que se presta, João Pinto até acredita que é um ser racional e que por isso pensa. Embora só tenha uma vaga ideia do que significa o que lhe mandam dizer, lá vai ora grunhindo, ora zurrando.
Como aqui recordou o nosso Director, William Tonet, quem conheceu João Pinto, o irreverente jovem que calcorreava as ruas de Lisboa, com os livros a tiracolo, durante a licenciatura em Direito, não acredita, que o mais severo crítico, contra o regime de Eduardo dos Santos, a quem vertia todos os impropérios possíveis e inimagináveis, se converteria, com o peso das mordomias, no mais adastrado dos bajuladores do regime que antes vilipendiava.
Não se condenam as mudanças de barricada ideológica, o que se condena é a falta de memória e de verticalidade mental, como tem feito de forma recorrente e abjecta João Pinto.