O Governo angolano reconheceu hoje que o país tem “muito por fazer”, mas com razões para celebrar os resultados dos 40 anos de independência, alertando para a “oferta de primaveras” que resultaram em “infernos destruidores”.
A posição foi assumida pelo ministro da Administração do Território de Angola, Bornito de Sousa, e coordenador da comissão interministerial organizadora dos festejos da independência nacional, no discurso que marcou o acto central das comemorações.
Poderia igualmente ter sido feita pelo embaixador itinerante de Eduardo dos Santos, António Luvualu de Carvalho. É certo que para este o que se passou na Líbia é igual ao que se passou na Tunísia. Mas com algumas explicações o rapaz é capaz de chegar lá. Só precisa de tempo.
Bornito de Sousa admitiu que em Angola, como em toda a parte, nem tudo é perfeito, havendo ainda muitas realizações por se executar.
Segundo o ministro, a paz foi a maior conquista alcançada pelos angolanos depois da proclamação da independência, salientando que as vitórias que se lhe seguiram são resultado do empenho e dedicação de milhões de angolanos e angolanas.
Para a tarefa do desenvolvimento, o político sublinhou a importância do papel da juventude angolana (certamente purgada de perigosos “terroristas” como Luaty Beirão) , que sob o espírito de unidade, é chamada a tratar dos desafios de Angola em prol do trabalho, nomeadamente do empreendedorismo, da diversificação da economia da melhoria do ensino e saúde, da transparência das instituições públicas.
O ministro lembrou que as gerações do pan-africanismo, das independências, e de defesa da pátria e da integridade territorial também eram jovens, “mas a sua luta foi para a promoção do progresso e não do retrocesso, da provocação política, da injúria ou do apelo a mudanças desconformes ou contrárias à Constituição”.
Razão tem Kim Jong-un pois ele cumpre a Constituição da República Popular Democrática da Coreia (do Norte) e, por isso, ninguém o pode criticar.
O governante angolano referiu ainda desconhecer “Estado algum no mundo, onde todos e cada um dos seus cidadãos estão unanimemente de acordo com os seus governantes”, realçando que em todos os casos o melhor caminho a seguir é o respeito pela escolha da maioria dos cidadãos feita em critérios da democracia pluralista e normas constitucionais.
Luvualu de Carvalho não sabia, mas talvez Bornito de Sousa nos possa dar um exemplo – só um – de uma democracia que tenha o mesmo presidente há 36 anos.
“Os angolanos rejeitam assim as iniciativas no sentido de se cortar atalhos para perturbar a regularidade eleitoral já alcançadas a troco da oferta de primaveras, que noutros países demonstraram ser infernos destruidores”, destacou o ministro.
Citando os exemplos da Síria e da Líbia (Luvualu de Carvalho acrescentou a Tunísia), países de médio desenvolvimento que “recuaram literalmente à pré-história”, Bornito de Sousa disse que os efeitos dessas primaveras seriam sempre “terríveis e devastadores para todos os angolanos e um retrocesso para as conquistas já alcançadas”.
“Os que nos estão a tentar vender essas soluções querem, na verdade, deitar fora o bebé com a água do banho, mas isso não acontecerá”, reafirmou, referindo que “a paz em Angola só se fez quando tratada entre angolanos e no respeito da Constituição e das leis”.
A independência angolana foi proclamada em Luanda a 11 de Novembro de 1975 por António Agostinho Neto, líder do MPLA, e no Huambo por Holden Roberto (FNLA) e Jonas Savimbi (UNITA).