O crédito concedido pelos bancos angolanos atingiu em Agosto o valor mais alto do ano, cerca de 22 mil milhões de euros, com o comércio por grosso e retalho a liderar por sectores de actividade.
S egundo dados do Banco Nacional de Angola (BNA), trata-se de um aumento de meio ponto percentual face a Julho, num ano marcado por várias oscilações no total de crédito concedido.
Esse total atingiu em Agosto o máximo de ano, cifrando-se em 3,335 biliões de kwanzas (21,9 mil milhões de euros), de acordo com um relatório mensal do banco central angolano.
Deste total, 621,1 mil milhões de kwanzas (quatro mil milhões de euros) – uma quebra de 1,2% face a Julho – correspondem a crédito concedido ao sector do comércio por grosso e retalho, logo seguido pelas actividades ligadas ao imobiliário e serviços de construção, com 459 mil milhões de kwanzas (três mil milhões de euros).
O crédito total concedido directamente a privados, segundo dados do BNA, elevou-se ligeiramente em Agosto, para 650,4 mil milhões de kwanzas (4,2 mil milhões de euros).
Angola vive uma crise financeira, económica e cambial, decorrente da forte quebra da cotação internacional do barril de crude, que motivou uma descida para cerca de metade nas receitas fiscais com a exportação de petróleo e por consequência na entrada de divisas no país, condicionando toda a actividade económica.
Os lucros da banca angolana caíram para metade em 2014, influenciados pela situação no ex-Banco Espírito Santo Angola (BESA), segundo a análise que a consultora Deloitte apresentou a 22 de Setembro último, em Luanda.
Angola contava em 2014 com 23 bancos e o resultado líquido do sector caiu para 45,4 mil milhões de kwanzas (300 milhões de euros), comparando com o ano anterior, devido ao ‘caso BESA’, que foi transformação em Banco Económico, após intervenção do Banco Nacional de Angola.
“Não considerado esse efeito [ex-BESA], os resultados líquidos do sector teriam registado um crescimento de 12%”, conclui a 10ª edição do estudo “Banca em Análise”, que analisou dados do BNA.
“A banca angolana mostrou mais uma vez a resiliência que tem demonstrado nos últimos anos, crescem os principais indicadores, ao nível do crédito e dos depósitos, do volume total de activos. Face ao contexto em que estamos, eu diria que [o sector] está bem”, enfatizou na ocasião Nuno Alpendre, da Deloitte.
O estudo da Deloitte refere ainda que o crédito líquido a clientes em Angola aumentou 8% face a 2013, ultrapassando, em valores agregados, os 2,930 biliões de kwanzas (19,2 mil milhões de euros).
Contudo, o crédito vencido também disparou, 11,2%, e ascende actualmente a 14,5% do total, equivalente por isso a cerca de 2,8 mil milhões de euros.
“Continuam a manter-se alguns desafios relevante, devendo o sector estar atento à evolução desfavorável dos rácios de crédito vencido que se verificou neste último ano”, alertou Nuno Alpendre.
A Deloitte prevê que a banca angolana continue a crescer em 2015, apesar de ser um ano “um bocadinho difícil”.
Reservas internacionais
As Reservas Internacionais Líquidas (RIL) angolanas subiram em Agosto mais de 1,4%, para 24.510 milhões de dólares, mas continuam em mínimos do ano.
Segundo dados do BNA, depois de quedas consecutivas, estas reservas voltaram a subir de Julho para Agosto, tal como tinha acontecido apenas em Maio.
Ainda assim, entre Janeiro e Agosto, Angola viu estas reservas, necessárias para garantir nomeadamente as importações nacionais de matéria-prima ou de alimentos, reduzirem-se em quase 9%, fruto da crise da cotação internacional do petróleo, que diminuiu as receitas e a entrada de divisas no país.
Apesar do ligeiro aumento destas reservas em Agosto, trata-se do segundo pior registo mensal de 2015, depois dos 24.170 milhões de dólares (21,5 mil milhões de euros) em Julho.
Desde Janeiro, as RIL angolanas já perderam 2.351 milhões de dólares em valor, facto a que não é alheia a crise cambial que o país vive há vários meses e que levou o BNA a aumentar, entre Maio e Junho, a injecção de divisas (dólares) nos bancos comerciais.
No final de 2014, as RIL fixavam-se em 27.478 mil milhões de dólares, montante suficiente para garantir à volta de seis meses das necessidades de importações por Angola.
Na revisão do Orçamento Geral do Estado (OGE) para 2015, aprovado em Março e que surgiu face à forte quebra nas receitas com a exportação de petróleo, o executivo angolano já previa uma descida dessas reservas para cinco meses de importações.
As reservas contabilizadas pelo BNA são constituídas com base em disponibilidades e aplicações sobre não residentes, bem como obrigações de curto prazo.
Incluem-se ainda as reservas de ouro, que em Agosto aumentaram para 84.639 milhões de kwanzas (556 milhões de euros).
Devido à crise da cotação do crude, que fez as receitas fiscais petrolíferas de Angola caírem para cerca de metade nos últimos meses, e, por consequência, a entrada de divisas (dólares) no país, o Governo prevê uma redução de 28,4% nas mesmas reservas em 2015.
“Na eventualidade de a situação de crise perdurar durante todo o ano, a perda de RIL poderá elevar-se a -8.005,39 milhões de dólares, posicionado o ‘stock’ de RIL em 19.277,18 milhões de dólares”, lê-se no documento que sustenta o OGE revisto de 2015.
Na crise petrolífera de 2009, as RIL angolanas reduziram-se até aos 13 mil milhões de dólares, o que obrigou o Governo angolano a pedir um empréstimo ao Fundo Monetário Internacional no valor de 1.375 milhões de dólares.