O Presidente do MPLA que, por inerência, é também Presidente da Re(i)pública de Angola, diz que o abandono do papel de mediador (que até mereceu a atribuição da designação de “campeão da paz”) do conflito no leste da Republica Democrática do Congo (RD Congo) não significa “inimizade” com ninguém e rejeitou a possibilidade dos guerrilheiro do M23 atravessarem a fronteira angolana.
O general João Lourenço falava aos jornalistas após uma visita de à Lunda Sul, onde inaugurou a Circular de Saurimo, com 39 quilómetros, e reafirmou que o ramal ferroviário que liga Luena (Moxico) a Saurimo (Lunda Sul), no leste de Angola, “vai acontecer”.
Questionado sobre eventuais preocupações com o conflito na Republica Democrática do Congo (RD Congo) e uma eventual incursão do M23 (movimento rebelde que combate as forças governamentais democrático-congolesas) na fronteira angolana, João Lourenço, rejeitou esta possibilidade.
“Mas, se vier a acontecer, é fácil de se resolver. Vamos arranjar uma farda e uma arma e entregá-la a si e mobilizá-la para as Forças Armadas. E pronto, fica o problema resolvido”, ironizou.
Angola e RD Congo partilham uma vasta fronteira terrestre e fluvial de 2.511 quilómetros com um movimento migratório intenso de pessoas e bens.
O chefe de Estado angolano desvalorizou o facto de ter abandonado a mediação, garantindo que “isso não é nenhum sinal de inimizade com absolutamente ninguém”.
O general João Lourenço anunciou, segunda-feira, que iria deixar o papel de mediador do conflito entre a RD Congo e o Ruanda, para se concentrar nas prioridades definidas pela União Africana, organização cuja presidência rotativa foi recentemente assumida por Angola.
O abandono da mediação angolana surgiu depois de, há uma semana, os Presidentes da RD Congo e do Ruanda, Félix Tshisekedi e Paul Kagame, respectivamente, se reunirem em Doha com o emir do Qatar, para discutir o conflito que opõe as forças governamentais ao Movimento 23 de Março (M23), apoiado pelo Ruanda – segundo a ONU e países como os Estados Unidos, Alemanha e França.
Nesse mesmo dia 18 de Março era esperada em Luanda uma primeira ronda de conversações entre o M23 e uma delegação da RD Congo, “acção abortada in extremis por um conjunto de factores, entre eles alguns externos e estranhos ao processo africano que decorria”, segundo um comunicado da presidência angolana.
A surpresa face ao sucedido foi manifestada pelo ministro das Relações Exteriores de Angola, Téte António, citado pelo órgão oficial do MPLA, Jornal de Angola, que considerou que “todos os esforços para a resolução de conflitos são bem-vindos”, mas, observou, os problemas africanos deveriam ter solução africana.
A actividade armada do M23 – um grupo constituído principalmente por tutsis vítimas do genocídio ruandês de 1994 – recomeçou em Novembro de 2021 com ataques contra o exército governamental no Kivu do Norte, tendo avançado em várias frentes e ameaçando escalar para uma guerra regional.