O Presidente do MPLA, nas vestes – por inerência – de Presidente angolano e presidente em exercício da União Africana, general João Lourenço, pediu hoje acções eficazes que viabilizem a justiça reparatória, defendendo que só uma estratégia comum poderá revigorar a força gerada pelo sofrimento colonial.
O presidente do MPLA e chefe de Estado angolano (não nominalmente eleito), que falava em Adis Abeba, na abertura da 2.ª Cimeira África-CARICOM, destacou também a nova dinâmica de cooperação entre África e Caraíbas e apelou a um maior protagonismo no sistema multilateral.
A cimeira, dedicada ao tema “Parceria Transcontinental na Busca da Justiça para os Africanos e os Afrodescendentes através de Reparações”, coincide com a decisão da União Africana de consagrar 2025 ao tema da justiça reparatória.
O general João Lourenço sublinhou que a cimeira é uma oportunidade para reflectir sobre os factos da história e a necessidade de pensar num modelo de acção comum, defendendo que se deve avançar para uma estratégia capaz de transformar “a dor e o sofrimento do passado colonial” numa força geradora de progresso e desenvolvimento.
O chefe de Estado do MPLA apontou instrumentos já criados no âmbito da reparação, como o Mecanismo Afro-Caribenho de Justiça Reparatória e o Fundo Global de Reparação, que deverão servir como facilitadores de colaboração entre a União Africana e a Comunidade das Caraíbas.
“Estas ferramentas permitirão alinhar políticas e promover acções eficazes e conjuntas, tanto no plano político como no jurídico”, frisou o general João Lourenço.
Destacou ainda que o objectivo é criar bases sólidas que permitam transformar compromissos em medidas práticas, capazes de romper o ciclo de pobreza que ainda afecta grande parte das populações africanas e caribenhas.
Na vertente económica, o Presidente do MPLA valorizou os progressos já alcançados, como a instalação do escritório do AfreximBank nas Caraíbas, a realização dos Fóruns Afro-Caribenhos de Comércio e Investimento e o memorando de entendimento assinado em Setembro de 2024 entre a União Africana e a Comunidade das Caraíbas.
Para o general João Lourenço, estes avanços abrem novas oportunidades de comércio, investimento e apoio mútuo em áreas estratégicas como o transporte, a educação, a ciência, a cultura e a gestão de desafios globais.
Entre os próximos passos, apontou a criação de uma plataforma conjunta de comunicação e media, a assinatura de um acordo multilateral de serviços aéreos, a revisão dos regimes de vistos e a abertura de voos directos entre África e as Caraíbas.
“Devemos potenciar esforços para implementarmos as nossas decisões e transformá-las em benefícios duradouros para os nossos povos, através de intercâmbio activo nos principais domínios da cooperação, designadamente no económico, no cultural e no social”, afirmou.
O Presidente angolano propôs ainda a institucionalização do Conselho da Juventude União Africana-CARICOM como órgão consultivo permanente, defendendo que as novas gerações devem ser o eixo em torno do qual se construirá o futuro comum.
“Em todas as estratégias que delinearmos, a juventude deve ocupar um lugar central”, sublinhou.
No plano global, o general João Lourenço alertou para os desafios que afectam de forma mais intensa os países do Sul, desde a crise climática à insegurança alimentar e energética, passando pela instabilidade geopolítica e as migrações forçadas.
Assinalou ainda a fragilização das instituições multilaterais, que “devem obrigar a um esforço de cooperação mais firme” por parte de África e das Caraíbas, considerando inevitável uma reforma das Nações Unidas, em particular do Conselho de Segurança.
João Lourenço deixou ainda uma mensagem de solidariedade ao povo palestiniano, que disse estar a enfrentar “um verdadeiro genocídio” (algo muito próximo do que em Maio de 1977 Agostinho Neto ordenou que fosse feito a milhares e milhares de angolanos), reiterando o apoio à criação do Estado da Palestina como condição para que “palestinianos e judeus possam viver em paz e harmonia”.