MPLA CONDECORA MANUEL ALEGRE

O poeta, político e velho amigo do MPLA, Manuel Alegre, que lutou contra o colonialismo português, é um dos nomes incluídos na próxima cerimónia de condecorações no âmbito dos 50 anos da Independência Nacional de Angola, que decorrerá sexta-feira e sábado, em Luanda.

Manuel Alegre, que esteve preso em Luanda pela PIDE em 1963 durante seis meses, acusado de tentativa de golpe contra o regime do Estado Novo, serviu como alferes miliciano em Angola a partir de 1962 e foi detido na sequência de uma tentativa de revolta militar.

Durante a temporada na prisão conviveu com escritores como Luandino Vieira e António Jacinto, referências da literatura angolana e da resistência e, após a libertação, exilou-se em Argel, onde apelou à revolta dos portugueses através da Rádio Voz da Liberdade. O seu filho, Francisco Alegre Duarte, é (mera coincidência, com certeza) actualmente o embaixador de Portugal em Angola.

A 7.ª cerimónia de condecorações vai distinguir 774 personalidades e instituições, distribuídas por duas categorias: a Classe Independência, com 130 nomes, dedicada a figuras da luta anticolonial e da libertação nacional; e a Classe Paz e Desenvolvimento, com 644 condecorados, que reconhece contributos nas áreas da educação, cultura, economia, religião e outras áreas

Além de Manuel Alegre, destacam-se outros nomes internacionais como Marcelino dos Santos (Moçambique), fundador da Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo, partido irmão do MPLA); Igor Sechin (Rússia), presidente da petrolífera Rosneft; e Pierre Victor Mpoyo (República Democrática do Congo), ex-ministro e empresário.

No plano nacional destacam-se religiosos como Dom Belmiro Chissengueti, bispo da Diocese de Cabinda, e o argentino Dom Tirso Blanco, já falecido, a empresária Leonor Carrinho, Irene Agostinho Neto, filha do primeiro Presidente de Angola que foi o responsável pelos massacres de 27 de Maio de 1977 onde morrem cerca de 80 mil angolanos, casada com o empresário Carlos São Vicente, que actualmente cumpre pena de prisão por crimes económicos, as deputadas da UNITA Navita Ngolo e Mihaela Webba, entre outras.

Na vertente cultural, musical e desportiva, figuram Kid MC, rapper; DJ Malvado, produtor musical; Ana Joyce, cantora; Lito Vidigal, treinador de futebol; Patrício Batsikama, historiador e investigador; e o artista luso-angolano “Puto Português”.

Entre as instituições e organizações distinguidas estão a Academia Angolana de Letras, a Fundação Kissama, as Aldeias de Crianças SOS Angola, o Movimento de Apoio Solidário de Angola (MOVANGOLA) e a Associação Nacional de Luta contra as Drogas (ANLD).

Quem sai, ou não, aos seus…

No dia 30 de Maio de 2010, o então secretário-geral do PS, José Sócrates, propôs, formalmente, o apoio dos socialistas portugueses à candidatura presidencial de Manuel Alegre. “O PS é um partido de responsabilidade” e “não se abstém” perante as principais decisões, afirmou José Sócrates, citado por um dos presentes na reunião da Comissão Nacional do PS.

A digestão poderia não ser fácil, mas não há nada que uns tantos “enos” não resolvam. E, de facto, para digerir tantos sapos, bem foi preciso uma dose industrial. Quer para o secretário-geral do PS, quer para o próprio candidato.

Em tempos, no auge da poética frase “a mim ninguém me cala”, Manuel Alegre escreveu num artigo de opinião publicado no jornal Público, intitulado “Contra o medo”, que era contra “a confusão entre lealdade e subserviência” que, segundo ele, se verificava no Governo de… José Sócrates.

Como diria outro poeta, mudam-se os tempos, mudam-se as vontades. É, e continua a ser, a política “made in Portugal”.

“Há um clima propício a comportamentos com raízes profundas na nossa História, desde os esbirros do Santo Ofício até aos bufos da PIDE”, escreveu Manuel Alegre, acusando o Partido Socialista de “auto-amordaçar-se”.

Pois foi assim. A partir da sua escolha para candidato presidencial, Manuel Alegre deixou de falar dos “esbirros do Santo Ofício até aos bufos da PIDE”, passando a elogiar a democracia e o sentido patriótico de José Sócrates e companhia… embora limitada.

Tão limitada que, por exemplo, o então presidente da Federação Socialista de Setúbal considerou, na altura, que o PS deveria dar “liberdade de voto” aos militantes.

Acontece que, para a direcção de então, Vítor Ramalho e muitos outros militantes que fazem do silêncio a melhor arma, nada valem. Bem disse o presidente do PS, Almeida Santos: “Se não votamos em Manuel Alegre, votamos em quem?”

Manuel Alegre bem foi perguntando ao longo do tempo à “gente que passa, por que vai de olhos no chão. Silêncio — é tudo o que tem, quem vive na servidão”. E na servidão vivem muitos socialistas.

É claro que quando a servidão é relativa aos outros é um defeito abominável, no entanto, quando é a favor dos nossos é uma das mais nobres qualidade.

Um ano antes, Abril de 2009, o presidente do PS, Almeida Santos, considerou que a direcção do partido não devia a Manuel Alegre o pedido de desculpa público exigido pelo deputado socialista.

“Ele tem direito às suas opiniões, eu tenho direito às minhas”, declarou Almeida Santos à agência Lusa. Entre o PS talvez seja assim. Quem não tem direito a opiniões diferentes são os portugueses de segunda (todos aqueles que não são do PS).

No programa “Quadratura do Círculo” da SIC Notícias, transmitido a 23 de Abril de 2009, Manuel Alegre disse estar à espera de um pedido de desculpas público do primeiro-ministro, José Sócrates, bem como da direcção do PS.

Mesmo sendo do PS, Manuel Alegre teve de esperar sentado. É que com Sócrates não havia pedidos de desculpa a ninguém.

O dirigente socialista relembrou as declarações de José Lello, que o acusou de “falta de carácter” e “falta de solidariedade”, em reacção à vontade expressa por Manuel Alegre de ser candidato independente a deputado, se tal fosse possível.

É de espantar, aliás, que Manuel Alegre acreditasse que o PS tem capacidade para pedir desculpa. Alegre deveria saber que, sendo dono da verdade, o cidadão José Sócrates só poderia pedir desculpa ao secretário-geral do PS, José Sócrates, e este só pode pedir desculpa ao primeiro-ministro, José Sócrates. Tal como hoje acontece com António Costa.

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