Angola vive um momento de verdadeiro exotismo político, com o partido do regime a manietar o sistema judicial-eleitoral (exclusivamente aprovado pelo MPLA), visando mobilizar e integrar apêndices ideológicos difusos, como novos ente-jurídicos, no léxico partidário, ao arrepio das normas constitucionais e legais, para contínua manutenção no poder.
Por William Tonet
A Bíblia, a grande constituição para os cristãos, um dos livros mais vendidos no mundo, relata a fase atribulada da vida do rei Davi, ante a contínua degradação do império. Mesmo assim, alguns servos e bajuladores, não deixaram de engendrar a fórmula “pau de Cabinda”, acreditando que, “caloreando” o monarca, ele teria novo vigor físico e mental.
O calor-revigorante é um eufemismo para prossecução sexual, baseado na ilusão de que diante de uma “catorzinha”, virgem, como a Abisague, seria capaz de aquecer o leito do debilitado rei.
O rei Davi era velho e avançado em idade; e embora o cobrissem com roupas, ele não conseguia se aquecer. 2 Então seus servos lhe disseram: “Que se procure uma jovem virgem para meu senhor o rei, e que ela sirva ao rei, e seja sua serva; que ela se deite em seu seio, para que meu senhor o rei se aqueça”. 3 Assim procuraram uma moça bonita por todo o território de Israel, e encontraram Abisague, a sunamita, e a trouxeram ao rei. 4 A moça era muito bonita. Tornou-se serva do rei e o serviu, mas o rei não a conheceu sexualmente. Face a fragilidade política por meio da impotência sexual (1 Rs 1.1-4).33, por o tempo ser implacável e grande mestre.
O acúmulo de controvérsias políticas, levou Adonias a tentar ocupar o trono, alegando fragilidade de Davi, ante a vitalidade contínua de Bate-Seba, ex-mulher de Urias, um dos mais valorosos comandantes do reino, mandado para uma frente de batalha, como forma de o rei encobrir o adultério desta, ao engravidar do Rei Davi. Este foi um dos seus maiores pecados… E o caminho da derrocada final, aproximou a lógica de quem dormisse com uma das mulheres do rei, se tornaria monarca. Absalão, irmão de Salomão, desafiou a realeza de Davi dormindo com as suas mulheres…
O Executivo de Angola deve tirar ilações. O MPLA também, porque num mar de borradas, nem as virgens ajustam a bússola.
E… O REINO DO MPLA COMO ENFRENTARÁ OS INIMIGOS
Angola está mal. Não tem rei, formalmente… Mas, na prática, o Presidente da República tem muitos poderes. Acumulou mais aos herdados do antecessor, para impor uma política de terror. Conseguiu.
Domou, em 2018, a corte do MPLA. Banalizou os antigos, ameaçando-os com algemas e masmorras. Abriu caminho para a formação da maior monarquia, com jovens virgens, na política.
A incipiente democracia, cansada com os 38 anos de poder absoluto de José Eduardo dos Santos, a ascensão de empreendedores e empresários angolanos, no controlo e domínio da soberania económica, foram selvaticamente arredados do caminho, com a implantação da política do ódio, raiva e vingança. A nova casta destruiu o paradigma herdado. Não era o melhor, pois concentrava os benefícios, num grupo da mesma elite partidária.
Era preciso, com inteligência, corrigir. Inovar. Dar arejamento político-democrático, para robustecer e consolidar as instituições de viés fascista, que controla(va)m toda máquina eleitoral e político-administrativa do Estado.
A esperança de renovador, ainda em 2018, para desgraça colectiva, cedo se esfumou, com a implantação de medidas totalitárias e discriminadoras. Até hoje, nada mudou.
Tendo ciência dos egos e fantasmas, desde o primeiro dia de mandato do Presidente João Lourenço (nada contra ele), coloquei reticências, sobre um desempenho patriótico e nacionalista…
Muitos amigos crucificaram-me, à época, face ao elixir pulverizado, que encantava os incautos… KFC; semáforos, praias, condecorações a perseguidos de JES, promessas, promessas… Ainda assim, em homenagem ao sol, não mudei de barricada. O tempo tratou de mostrar onde está a razão… Oito anos depois, mudou o que nada mudou! O verniz, estalou! O país está pior. Sem rumo. No precipício. Vejamos apenas esta cópia.
Por casmurrice e demonstração de força, o Titular do Poder Executivo ordena e a bancada maioritária do MPLA, aprova, em Agosto a criação de três novos ente geográficos-administrativos, dentre os quais o Moxico-Leste, que só em Dezembro de 2024, vê nomeado um membro da JMPLA, Crispiniano dos Santos, como governador.
Mas o insólito não acaba, aqui. O Presidente que quer estar imune a críticas, não proibiu que o exército de bajuladores, lhe estendesse, um tapete vermelho, na areia… Indescritível!
A província não tem infra-estruturas, para funcionamento digno, dos órgãos da Administração do Estado, tanto assim é que só em Junho de 2025, João Lourenço procedeu ao lançamento da primeira pedra para a construção da capital provincial, na inóspita (tal como o resto da província), vila de Cazombo (tem uma estrada de “terra esburacada”).
E o que deveria envergonhar a nata dirigente, encheu-lhes de soberba, ao ponto do Presidente da República, no 06.06.25, ofender, gratuitamente, cerca de 51% de cidadãos, que não o votaram, em 2022.
“Mandámo-los passear”! Disse ao referir-se às críticas cidadãs, sem apresentar algo sustentado, como um plano director, definindo o que é e o que deve ter uma localidade, para ser considerada, sanzala; aldeia; comuna; município; província e capital.
A inexistência desse quadro, 50 anos depois, até para os mais cépticos, é desolador, provocador, discriminador, bélico. “Houve forças políticas que se opuseram à criação de novas províncias. Tudo fizeram para nos desencorajar. Se nós fossemos fracos de espírito podíamos desistir, mas mandamo-los passear. Porque tudo que o Executivo faz para o bem da população, para a oposição é perda de dinheiro. Entre eles (os opositores) e o povo, para nós o mais importante é o povo. É uma meia-dúzia de pessoas que mandámos passear em nome do povo”.
Em democracia, ainda que tivessem sido 49%, os eleitores, nunca, em discurso presidencial, podem ser tratados como “meia-dúzia”. Mas do Presidente, monarquicamente, tudo se espera, como a redacção de um discurso, desconexo, assente na raiva, discriminação, soberba, num terreno (Leste) onde o MPLA não tem boa reputação.
Muito pelas almas colhidas desde a luta de libertação, na denominada Frente Leste, onde muitos filhos da terra foram assassinados, destacando-se o comandante Paganini e outros, atirados vivos numa fogueira em 1968, acusado de feitiçaria e tentativa de destronar a direcção em Brazzaville.
Poucos esquecem, que no Campo Prisional de Kalunga, foram deportados cerca de 15 mil cidadãos, acusados de fraccionistas, no 27 de Maio de 1977. Só de lá terão saído vivos, pouco menos de 2 mil. No 30 de Janeiro de 2021, houve um genocídio em Kafunfo, com o bárbaro assassinato de mais de 158 cidadãos de uma etnia e língua identitária: Tchokwe. O Presidente não se distanciou do macabro acto policial/militar…
Ademais, a experiência pretérita do MPLA, no quesito divisão administrativa é má. Em 1978, Agostinho Neto dividiu a Lunda, em Norte e Sul, lançou a pedra para criar a capital da Lunda Norte, em Lucapa. Até hoje, ficou-se pela pedra e o desvio criminoso de milhões e milhões de dólares, contribuindo para o aumento da corrupção e miséria, principalmente, numa zona rica em minerais.
Mas o país, a começar nos arredores do palácio presidencial, não tem saneamento básico, água, luz, escola, posto médico.
Os monturos de lixo, verdadeiras maternidades da cólera, paludismo e malária, que calcorreiam Angola, na óptica dos governantes, assemelham-se a parques de recreio, que nem sequer levam os seus cães a passear, daí as mais de 600 mortes desde o início do ano, com 19.605 casos registados, estando Luanda, onde vive o presidente e todos os ministros, no epicentro da cólera com 6.285 infecções e 208 das 650 mortes no país.
Os jovens nestes últimos oito anos, emigram como nunca antes, o desemprego aumenta e os estrangeiros controlam, para tristeza dos nacionalistas, a economia e finanças, numa nova e confrangedora colonização.
E, nesta hora, é importante rememorar. Benguela seria a Califórnia. Falhou! A corrupção, uma praga a banir. Aumentou. As ordens superiores deveriam ser enterradas, tornaram-se uma instituição. As autarquias prometidas para 2020, foram assassinadas. A democracia que seria um verdadeiro pilar das liberdades, foram trocadas, pela ditadura fascista. As eleições gerais, livres, justas e transparentes, nunca serão, pelo MPLA implantadas. A fraude e batota eleitoral, fazem parte do seu ADN.
Assim, de 2017-2025, tudo fracassou, vingando apenas o pedestal da destruição, assassinato das liberdades, entrega da soberania económica aos especuladores ocidentais, asiáticos e fundamentalistas islâmicos.
O marasmo sócio–económico, causado pelas políticas catastróficas do MPLA, numa região, que no período colonial, era potência na produção de arroz (exportava), milho, mandioca, laranja, feijão, banana, gado bovino e caprino, não confere legitimidade a ninguém, para atirar pedras ao telhado da oposição e sociedade civil livre.
Em democracia, pensar diferente não é crime. Crime é crucificar a diferença de pensamento, principalmente, quando não se consegue fazer melhor, do que impor a lei da força. É preciso o império da humildade, mas do ataque voraz aos adversários…