Para aprofundar o meu ponto de vista e desenvolver esta afirmação que é crucial, em relação à actual situação política e associativa do território que já está a ser assaltado por operações de charme eleitoral por parte de actores de partidos políticos angolanos, gostaria, em primeiro lugar, de desenvolver o que me surpreende na elite política e associativa angolana.
Por Osvaldo Franque Buela (*)
Eu já havia publicado aqui, no espaço “opinião” deste grande jornal (Folha 8, é claro!) que dá voz aos que não têm voz, no dia 24 de Junho, um artigo de opinião intitulado “CABINDA ENTRE A UNITA E O PRA JA”, dizendo que Cabinda já estava se tornando, antes do tempo, um campo de batalha eleitoral para os partidos políticos da oposição angolana, além do MPLA que sempre usa a fraude e a razão da força para subjugar o povo cabindense.
Testemunhámos, quase antes de meados do ano, uma grande ofensiva da UNITA, que continuava e certamente continuará a ser o partido líder e impulsionador da coligação da FPU, abrindo as suas jornadas parlamentares em Cabinda. A excitação foi enorme, assim como as expectativas, e os resultados dessas jornadas foram positivos, na minha opinião, uma vez que a FLEC-FAC respondeu positivamente às propostas da UNITA, proclamando um cessar-fogo para dar uma oportunidade às negociações num clima de paz.
Abel Chivikuvuku veio também dizer aos cabindenses o que pensa poder conseguir para Cabinda, chegando a afirmar que Cabinda tem os seus donos, e que ele era um deles, convidando mesmo a FLEC-FAC a aliar-se ao PRA JA para encontrar soluções para Cabinda, declarações que acabaram por suscitar bastantes comentários nos meios nacionalistas e independentistas cabindenses.
Para mim, todos estes discursos, promessas e outras declarações não passam de uma ofensiva de charme, sem qualquer diferença na substância do pensamento, do ponto de vista da UNITA do que do PRA JA, ainda que a UNITA pareça seduzir mais uma população, que a aceita não pelo que representa mas por ódio político ao MPLA e aos 50 anos do seu regime colonial e repressivo no território.
Além disso, em vez de tomar as declarações de Abel Chivukuvuku como provocações, a FLEC-FAC terá aceite a sua proposta para ver como Abel a deveria justificar perante a lei e o regime, que considera a FLEC-FAC como algo que não existe, mas que combate com mais de 50.000 soldados das FAA no território.
Os actores políticos e associativos de Angola têm um ponto em comum: a capacidade de falar em uníssono sobre o que pensam sobre Cabinda, ou seja, mantê-la sob o seu controlo e dentro da integração angolana a todo o custo, propondo soluções sem ter em conta as opiniões legítimas do povo cabindês.
A única diferença entre eles é a forma, e se os outros partidos políticos da oposição acham que Cabinda deve ter maior autonomia, o MPLA fá-lo pela força, pela violência, pela corrupção e por todas as outras formas de repressão, mantendo-nos a reboque.
Somos, e corremos o risco de ficar demasiado tempo a reboque das políticas e promessas dos partidos políticos angolanos, incapazes de nos projectarmos noutras formas de luta neste contexto de integração em Angola, ainda que forçada, mas que é uma realidade há muito tempo.
A reboque, atrás pelo que fazemos e sempre faremos a cama destes partidos políticos angolanos, ao aliarmo-nos às suas listas em momentos eleitorais, incapazes de nos projectarmos como partido político nacional, e de irmos perante toda a sociedade angolana propor o que queremos para uma Angola melhor possível, dizer-lhes o que somos capazes de fazer não só pelo nosso território mas por todo o país, porque a integração para mim não é uma fatalidade de vítimas sobre a qual devemos chorar mas pode tornar-se numa força para a abertura de mais um espaço de luta.
Se eles têm propostas para uma Angola unida e unitária, para nós povo cabindês, também, deveríamos ser capazes de fazer o mesmo e não nos limitarmos a lhes-repetir o Tratado de Simulambuco, a traição de Portugal e toda a embalagem da nossa história que eles conhecem melhor do que nós, e se obrigarem a varrer para debaixo do tapete. Teremos que tomar politicamente o caminho político das propostas em sentido contrário, ir ao fundo de Angola e dizer-lhes o que somos e o que queremos para todos nós, se se juntarem a nós.
Temos de sair desta imposição de fazer eleições e ser atores dessas mesmas eleições, porque temos condições para pesar no equilíbrio económico de todo o país, e falar com todo o país com os nossos próprios instrumentos políticos para pôr em prática, neste contexto de integração, mesmo que seja forçada.
Para além de tudo isto, o que me surpreende e o que não admiro é a nossa forma de fazer, os nossos limites ideológicos unilaterais, sem olhar e aprender as lições de tudo o que acontece à nossa volta, neste mundo que se está a tornar multipolar.
Temos uma grande capacidade de falar, de dizer o que sentimos, de lutar por um ideal comum, mas a nossa maior capacidade é odiarmo-nos enquanto rimos e nos olhamos cara a cara.
Sair deste activismo político que consiste em lutar pela independência sem dar um passo, e fazer a verdadeira política como ciência salvadora, continua a ser o maior desafio que devemos assumir para não mais sofrer a vergonha e o desprezo dos angolanos no nosso próprio território, para ir à conquista da Angola profunda, com ou sem caixa térmica, mas com um grande líder… basta ousar e acreditar.