Não hesitaria em dizer sim, quando me refiro à história recente do Zaire cujo esquema se desenhou diante de nossos olhos, no porto de Pointe Noire, com um Mobutu fraco, Humilhado por Laurent Désiré Kabila diante dos olhos dos mediadores Nelson Mandela e Pascal Lissouba a bordo do navio de guerra sul-africano «Untenika».
Por Osvaldo Franque Buela (*)
Ainda hoje tenho a impressão de que a história do futuro da RDC e da provável queda do regime de Tshisekedi está a ser escrita em Luanda, perante um mediador que mantém boas relações com Paul Kagame, que se recusa, como presidente da União Africana, a tomar uma posição clara e sanções contra o regime Kigali.
Tshisekedi, que conseguiu obter algumas sanções contra o regime de Kigali, cujos resultados no terreno militar não lhe são favoráveis, sempre pediu para dialogar com kagamé, (que é o apoiante declarado e reconhecido do M23/AFC), é convidado no dia 18 a dialogar com o M23 por João Lourenço, para que fins ? quando se sabe que o resultado seria o mesmo que nas negociações anteriores, ou seja, mistura e mistura dos efectivos do M23 dentro das FARDC para enfraquecê-los ainda mais, e incorporação dos responsáveis políticos nas instituições da RDC, é certamente um retorno ao ponto zero da história sem resolver o problema de fundo que é o Ruanda, o promotor de todas as agressões contra a RDC.
Paul Kagamé que tinha fugido do último encontro com Tshisekedi em Luanda, não recebeu nenhuma sanção da parte da UA, pelo contrário foi acelerar a tomada das cidades de Goma e do norte kivu pelos seus peões do M23,enquanto Tshisekedi percorria as capitais ocidentais para obter sanções.
Ao convidando o presidente Tshisekedi ao diálogo com o M23 no momento em que este multiplica as vitórias militares e os abusos no terreno, sem a presença de Paul Kagamé, a armadilha parece fechar-se sobre Tshisekedi que aparece quase contre a parede, com um exército fraco e um regime de latidos, pontuado com as saídas mediáticas do ex-presidente Joseph Kabila, o artífice de toda esta mascarada de guerra e elemento histórico da AFDL que fez cair Mobutu e assassinou Laurent kabila quando quis defender o conceito do Congo aos congoleses.
Quando se prega o dialogo e a paz aos outros, deve-se ser o perfeito exemplo a seguir. Caso contrário é a pregação da impostura.
Ora, o presidente João Lourenço nunca foi um homem de paz, para ele a paz é apenas um pretexto que usa maravilhosamente para intimidar e apavorar os angolanos e os cabindas para consolidar o seu poder militarista, ele que nunca foi eleito nominalmente. João Lourenço tem, portanto, interesse em salvaguardar a estabilidade da RDC, pois a instabilidade neste país vizinho pode ter repercussões na segurança do seu próprio país, nomeadamente em Cabinda.
Se para o presidente angolano, a paz é a ausência de guerra no seu país, é uma visão seca de toda a realidade de que não está em sintonia com o povo cabinda, e no momento em que lhe escrevo estas linhas, a FLEC-FAC acaba de reivindicar um ataque armado que causou a morte de nove soldados angolanos na aldeia Kinsembo-Maduda situada na zona fronteiriça entre Cabinda e a RDC, e todos sabemos que vencer a guerra é mais fácil do que ganhar a paz.
Quando assumiu o cargo de presidente da UA, João Lourenço disse a François Soudan durante uma entrevista à revista Jeune Afrique sobre o Conflito em Cabinda”, que a FLEC não representa nenhuma ameaça para Angola e Cabinda, e três dias depois, a FLEC e o seu braço armado as FAC responderam com um ataque que causou a morte de 24 soldados angolanos, incluindo oficiais, neste caso como promover a paz e o diálogo aos outros e recusar-se a aplicá-lo no próprio país e até pela sua imagem de estadista? Isto é um comportamento de impostor de qualidade.
Pessoalmente, tenho a impressão de estar assistir a uma manobra de diversão que poderia nos levar um dia a ver Kinshasa cair sem que todos esses países que colaram sanções contra o Ruanda possam se mover, porque convidar o M23 ao diálogo com Tshisekedi sozinho, Kagame fica quase protegido da continuação do conflito que poderia derrubar Tshisekedi,como se fosse um problema puramente congolês, e basta ver a retórica dos rebeldes e as saídas mediáticas do ex- presidente Joseph Kabila para se dar conta.
Na verdade, a paz é um comportamento e um estado de espírito positivo que levam a fazer o bem e a fugir do mal enquanto traz primeiro ao seu povo e depois aos outros, o mínimo vital necessário para o seu desenvolvimento num clima de amor e convívio, de outra forma, a paz não pode ser reduzida a uma situação em que o poder os chamados rebeldes teleguiados compartilham as riquezas como um cartel mafioso, enquanto isso, as populações continuarão a apodrecer na miséria mais absoluta, em processos sucessivos de mistura, mixagem e partilha de postos.
Infelizmente, na RDC, assiste-se sem perceber a armadilha da mediação angolana, que acaba de fazer da ausência de Kagame, um homem que fez da paz uma aposta superior, quando está na origem de todos os conflitos devastadores no leste deste país.
Para quem não conhece João Lourenço, saiba que ele é um homem para o qual a paz é apenas um instrumento político que serve para aterrorizar a população e aprisionar os opositores políticos.
Mais uma vez, o destino de Tshisekedi vai se jogar em Luanda, e no estado actual, nenhum processo pode garantir a sobrevivência do regime de Kinshasa quando se vê os países que concederam e favoreceram a criação da AFC serem juízes e partes.
Desarmado, sem coesão interna e uma oposição que não mais jura sobre a infelicidade das populações que são massacradas no leste do país mas que rezam pela saída de Tshisekedi a qualquer custo, não vejo como este regime poderia sobreviver, se não por um milagre, porque ninguém quer morrer no lugar dos congoleses, no lugar do seu exército sem disciplina.
Que Deus abençoe a RDC, a história nos dirá.