FUTURO ESTÁ NAS BICLAS

O sector petrolífero angolano recuou 8% no último trimestre, revelou hoje o ministro de Estado para a Coordenação Económica, José de Lima Massano, que descreveu um cenário “com momentos de ligeiro crescimento, mas volta e meia, de forte recuo”. Nada de alarmante.

José de Lima Massano falava durante uma reunião com operadores industriais de bens alimentares, que decorreu na unidade industrial Foodetec, no Polo Industrial de Viana, para analisar o estado do sector, avaliar os desafios e oportunidades.

Segundo José de Lima Massano, é necessário que a economia angolana tenha solidez suficiente para compensar esse comportamento do sector petrolífero, que continua a ter um peso na economia angolana de quase 20%, mas que tem estado a recuar, com “o agro a subir”, seguido do sector do comércio.

“Daí a importância de termos o sector não petrolífero com um grande dinamismo e, particularmente, lá onde Angola tem, à partida, elevado potencial, e aqui falamos do sector primário, isto em encontro com o sector transformador alimentar, pelo impacto que tem”, referiu José de Lima Massano.

O governante sublinhou que Angola tem procurado uma interacção estável com os países vizinhos, por serem um mercado importante para a expansão da sua actividade, destacando ainda o acordo de parceria estratégica assinado, segunda-feira, em Luanda, com os Emirados Árabes Unidos, “que também abre uma nova janela de oportunidades”, além do mercado regional e continental.

José de Lima Massano realçou que Angola tem um grande potencial e as oportunidades têm de ser aproveitadas, lembrando que o país regista já um alto nível de auto-suficiência em frutas e hortícolas, bem como em tubérculos.

“Temos hoje a batata-doce, a batata rena, que também o nível de autonomia é relevante. No domínio das pescas, o quadro é conhecido, temos alguns desafios para a nossa organização de toda a cadeia, permitindo que estes produtos também possam chegar de forma mais competitiva aos consumidores e a um preço mais justo, na produção de carne também temos iniciativas interessantes a ocorrer um pouco por todo o país”, descreveu o ministro.

Relativamente à carne suína existem iniciativas concretas que vão também, “num horizonte temporal muito curto provocar grandes transformações”, com a perspectiva de que em 2026, o país alcance um grau maior de autonomia, estando fora de preocupação a produção de carne caprina, frisou José de Lima Massano.

Por outro lado, em declarações à imprensa, o ministro da Indústria e Comércio de Angola, Rui Miguêns de Oliveira, adiantou que foram abordadas na reunião questões sobre a intensificação da capacidade de produção alimentar essenciais que o país consome, bem como a forma de garantir a qualidade dessa produção e sua distribuição.

Rui Miguêns realçou o crescimento significativo, “sustentável e constante” da produção industrial alimentar, com capacidade de cobertura total de bens de amplo consumo da população, em alguns segmentos.

No encontro os empresários apresentaram como preocupações a questão da regulamentação, a intervenção dos organismos públicos sobre as suas necessidades e com a evolução que o mercado possa vir a ter.

“O que nós garantimos é que, em primeiro lugar, o Governo continua apostado a prestar o suporte nos mecanismos e instrumentos de financiamento público, onde for possível e necessário, e também nas infra-estruturas o Governo vai garantindo que continuam a ser a nossa principal aposta”, adiantou o ministro.

Ao mesmo tempo, prosseguiu Rui Miguêns de Oliveira, o Governo tem olhado para a desburocratização dos processos, “algo que também tem estado a acontecer”.

ÁFRICA AJOELHOU E VAI TER DE REZAR

José de Lima Massano destacou no passado dia 25 de Junho hoje o momento “ímpar” e os acordos assinados durante a cimeira de negócios EUA-África, que serviu, afirmou, para dar visibilidade aos países africanos.

José de Lima Massano falava à imprensa no final da cerimónia de encerramento da 17.ª Cimeira de Negócios Estados Unidos da América-África, co-organizada pelo Governo angolano e pelo Corporate Council on Africa (CCA), que decorreu, em Luanda.

A cimeira, que contou com mais de 1.500 participantes, entre os quais chefes de Estado, governantes e empresários, acolheu 490 empresas angolanas, 202 africanas e 73 americanas, tendo sido assinados nove instrumentos jurídicos, em vários sectores.

Segundo José de Lima Massano, a participação de pessoas de todas as geografias, mas particularmente do continente africano, revelou a capacidade de mobilização e organização de Angola.

O governante angolano sublinhou que foram assinados muitos acordos, mas “mais do que estes acordos, é sobretudo a visibilidade que se dá aos países, particularmente Angola”, naquilo que são “as oportunidades, os desafios” e a vontade africana “de transformar, de fazer acontecer”.

A cimeira, afirmou, foi “um momento ímpar”, bem como “tudo o resto que vai acontecer nos próximos tempos, com base no que foi possível demonstrar ser o potencial de uma nação”.

Relativamente ao Corredor do Lobito, uma infra-estrutura ferroviária estratégica, que liga o Porto do Lobito, em Angola à República Democrática do Congo (RDCongo), passando pela Zâmbia, para facilitar o escoamento de minerais e mercadorias, José de Lima Massano regozijou-se com os resultados alcançados até ao momento, pretendendo-se agora bons projectos privados para a captação dos recursos financeiros disponibilizados.

“O corredor já está, o que nós precisamos agora são projectos de qualidade, que possam capturar os recursos financeiros que estão a ser disponibilizados, porque não são recursos para financiar investimentos púbicos, são essencialmente recursos para apoiar iniciativas privadas”, vincou.

José de Lima Massano frisou a existência de um plano director para o Corredor do Lobito, onde se pretende instalar as zonas logísticas, de produção agrícola, mas é preciso haver iniciativas privadas, capitalizando os recursos que “felizmente”, Angola continua a receber dos EUA, da União Europeia de muitas instituições multilaterais africanas.

Durante a cimeira foi assinado um acordo entre o Fundo Soberano de Angola e o empresário israelita Haim Taib para o lançamento de uma plataforma independente para acelerar investimentos em sectores como a agricultura, infra-estruturas, saúde, indústria, educação e inclusão digital, que visa mobilizar mil milhões de dólares para o Corredor do Lobito, com investimento inicial de 100 milhões de dólares.

Os países africanos não têm condições de continuar a assumir as dívidas na forma como são feitas hoje, prosseguiu José de Lima Massano, enfatizando que existem limitações.

“Mais dívida pode levar-nos a um ponto em que a nossa capacidade de servir essa dívida começa a ser questionada, mas as necessidades estão presentes, as infra-estruturas têm que continuar a ser desenvolvidas, então precisamos de trazer o sector privado”, defendeu.

Um dos desafios, disse o ministro angolano, continua a ser a atracção de capital privado para a construção de infra-estruturas, deixando o Estado livre de endividamentos.

“Este é o desafio que temos e que vai levar-nos, mesmo do ponto de vista legal, a fazer reformas, como aconteceu recentemente com o sector da energia, em que a transmissão, por exemplo, é um serviço que hoje pode ser prestado pelo sector privado, mas que se coloca, por exemplo, o desafio do preço”, salientou.

“se tivermos um preço abaixo do mercado dificilmente conseguimos atrair este investimento, então temos que encontrar os equilíbrios, em que o serviço está disponível, é acessível, os capitais são empregues, mas rentabilizados. São os equilíbrios que os nossos países têm de encontrar e o caminho que Angola também se propõe fazer”, enfatizou.

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