FARSA POLÍTICA CHAMADA “UNIDADE NA DIVERSIDADE”

Unidade na diversidade, uma farsa política irrealizável para os políticos cabindenses, por falta de um líder carismático que a materialize. Esta afirmação é minha, humildade obriga e sem ser doadora de lições, mas basta olhar para o percurso histórico dos movimentos políticos cabindenses para o afirmar, e não faltam exemplos neste domínio, para nos ensinar.

Por Osvaldo Franque Buela (*)

Após 50 anos de ocupação forçada, ou seja, da anexação do território de Cabinda por Angola sob a bênção de Portugal, a união tão desejada pelo povo cabindês de ver os seus líderes falarem a uma só voz para levar bem alto as suas reivindicações sempre brilhou com um verniz de hipocrisia, apesar da maior inteligência de que os actores políticos de Cabinda se gabam.

Baseio este raciocínio, sem prejudicar nenhum dos meus compatriotas, no simples facto de muitos de nós termos o hábito de argumentar em voz alta que podemos fazer como fizeram os movimentos políticos angolanos quando partiram para assinar os acordos de Alvor em Portugal, esquecendo que foi por vontade de Portugal que foram para lá, de um lado, para defender um ideal comum que era o seu direito à independência e, por outro lado, e sobretudo, para os levar a concordarem todos sobre o destino de Cabinda, cujo potencial geoestratégico deveria ser salvaguardado em benefício do colonizador e das superpotências, dado o contexto da época.

Esta diversidade de vozes não ajudou os angolanos a atingirem, nas regras da arte, este ideal comum que deveria servir de base soberana a todos os angolanos, pois após o seu regresso, os portugueses fizeram a opção de acentuar as suas divisões promovendo um movimento político (MPLA) que se apresenta até hoje como o único que conquistou a independência do país, seguindo-se de uma longa guerra civil que destruiu todo o país, cujas consequências continuam até hoje a prejudicar o desenvolvimento do país, por medo de perder o poder que continuam a usurpar 50 anos após a chamada independência.

Quando tento observar os movimentos de luta de libertação de certos territórios ou povos oprimidos, vejo que poucos tiveram sucesso nesta teoria da unidade na diversidade, é claro que aqueles que estavam unidos desde o início conheceram cisões muito depois de terem alcançado o seu objectivo, devido às ambições pessoais e não a qualquer outra coisa, mas todos os movimentos que lutam divididos continuam assim até hoje, com consequências desastrosas para os povos e territórios pelos quais lutaram, basta ver o Hamas e a OLP como caso concreto.

É assim que a causa de Cabinda se encontra hoje entalada entre uma nova geração que quer assumir o seu destino, o que não os podemos impedir nem proibir de fazer, e uma velha classe que tem dificuldade em passar o testemunho, tudo sob o controlo, vigilância e agitação do MPLA, que espalha e alimenta as sementes da divisão através de notícias falsas, da manipulação, empobrecimento, subjugação da corrupção e a repressão de qualquer acção política tendente a desestabilizar o regime no território.

Com que direito podemos impedir os jovens de fazer política e impor-lhes uma união que nós, os mais velhos, fomos incapazes de materializar a longo prazo, quando a FLEC foi criada pela união de três movimentos (MLEC, ALLIAMA, CAUNC), ou quando estávamos na Holanda para criar o Fórum Cabinda para o Diálogo? Não só já existe um conflito geracional que se estabelecerá a longo prazo mais, sobretudo, o status quo será reforçado porque estamos longe de priorizar aquilo que nos deveria unir.

Não estaremos certamente aqui amanhã, mas no dia em que compreendermos que a Unidade na Diversidade não deve ser uma ideia vazia, uma visão simples, mas algo mais concreto, uma entidade política com uma formulação capaz de funcionar em coerência e na prática, estaremos a marcar um grande passo para a conquista das nossas aspirações, porque do outro lado também, o MPLA não permanecerá eternamente no poder, mesmo que seja uma outra história.

Que Deus ilumine e o povo de Cabinda e abençoe este rico e pequeno território

(*) Refugiado político em França

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