O coordenador geral do PRA-JA Servir Angola, Abel Chivukuvuku, disse hoje que a plataforma da oposição Frente Patriótica Unida (FPU) tem de ser reformulada, o que deve passar pela sua transformação numa coligação formal.
Abel Chivukuvuku falou aos jornalistas na Assembleia Nacional, após uma audiência com a presidente do Parlamento angolano, Carolina Cerqueira, depois de suspender o seu mandato de deputado, e apontou 2026 como o ano em que deverá realizar-se o primeiro congresso do seu partido recém-legalizado.
Dos 12 deputados do PRA-JA Servir Angola, sete suspenderam os mandatos e cinco, sem funções directivas na estrutura do partido, permanecem na Assembleia.
Abel Chivukuvuku salientou que tal decorre do cumprimento da lei, já que “um cidadão não pode ser dirigente de outro partido e estar no pParlamento em nome de outro partido”.
Os deputados do PRA-JA Servir Angola foram eleitos na lista da UNITA, que se apresentou nas eleições de 2022 no âmbito de uma plataforma da oposição, a Frente Patriótica Unida (FPU), ao lado do PRA-JA Servir Angola e do Bloco Democrático, integrando ainda um representante da sociedade civil (Francisco Viana).
“Se eu quisesse ficar na Assembleia Nacional, eu tinha que deixar de ser o coordenador-geral da Frente Patriótica, do PRA-JA. É uma questão imperativa legal e, no nosso caso, ninguém foi forçado, ninguém foi coagido, ninguém. A lógica foi, quem quer ficar nos órgãos de direcção do PRA-JA, sai do Parlamento”, disse.
Abel Chivukuvuku reforçou que “quem quer ficar no Parlamento, fica, mas não vai para os órgãos de direcção do PRA-JA”, salientando que “a lógica é essa, simplesmente”.
O coordenador geral do PRA-JA Servir Angola, que foi um elemento destacado da UNITA antes de deixar o partido em 2010, realçou o ambiente “cordial” do Parlamento, onde são “todos irmãos e amigos”, e afirmou o objectivo de manter a Frente Patriótica Unida.
“Reforçar, reformular e, se necessário, alargar. E eu quero deixar claro, reformular significa irmos para um exercício formal (…). A Frente Patriótica não pode ser só uma ideia, uma visão, tem que ser um exercício formal, uma coligação formal, é isso reformular”, vincou.
Abel Chivukuvuku realçou que o conceito de reformulação tem a ver com a necessidade de dar um estatuto legal à Frente Patriótica Unida, que integra vários partidos.
“No caso do Bloco Democrático, se não encontrarmos uma reformulação que permita um estatuto legal à Frente Patriótica Unida, o Bloco não pode concorrer connosco, com a Frente Patriótica, porque senão seria automaticamente extinto. Portanto, é um imperativo, é preciso reformular, encontrar um modelo que permita legalmente preservar a Frente Patriótica Unida”, justificou.
Sobre a realização do congresso do partido, adiantou que o ano de 2025 tem “uma agenda própria de fortalecimento e crescimento”, pretendendo em meados deste ano realizar a conferência do órgão nacional provisório, que vai convocar o congresso.
“A nossa previsão é 2026, é o ano para fazermos o congresso, que vai eleger os órgãos definitivos e permanentes do PRA-JA e também dar início, no segundo semestre de 2026, à pré-campanha eleitoral”, adiantou, sem dizer se vai ser candidato às eleições presidenciais de 2027.
“Isso, há tempo. Eu ainda não sei se vou conseguir ganhar o congresso. Tenho que ganhar primeiro no nosso congresso em 2026”, disse o político, salientando que será um congresso com múltiplas candidaturas.
No dia 11 de Outubro de 2024, Malundo Kudiqueba assinou aqui no Folha 8 o artigo “Abel Chivukuvuku cobiçado pelo MPLA e pela UNITA”, cuja parte final recordamos por ser relevante para entender o que se passa e o que, previsivelmente, se passará:
«Abel Chivukuvuku é, sem sombra de dúvidas, um dos nomes mais resilientes e carismáticos da política angolana. Com uma trajectória marcada por coragem, convicção e uma visão de Angola que transcende as divisões partidárias, ele coloca-se como uma figura que, em 2027, terá todas as condições para fazer parte do governo – independentemente de quem vencer as próximas eleições.
Por isso, é quase inevitável que, quem quer que vença, precisará de Abel Chivukuvuku ao seu lado. Não por conveniência, mas por necessidade. Ele traz consigo algo que falta em muitos líderes: a capacidade de unir em vez de dividir, de inspirar confiança onde há descrença e de promover o diálogo onde só existe o conflito.
A legalização do PRA-JA Servir Angola, liderado por Abel Chivukuvuku, introduz uma nova dinâmica no cenário político angolano, com implicações profundas para a oposição, em especial para a Frente Patriótica Unida (FPU). Esta coligação, formada por UNITA, PRA-JA e o Bloco Democrático, foi crucial para unificar as forças de oposição nas eleições de 2022, proporcionando um desafio histórico ao MPLA. Com o PRA-JA agora legalizado, surgem vencedores e perdedores neste processo.
Sem dúvida, o principal vencedor deste processo é Abel Chivukuvuku. Após anos de luta judicial, a legalização do PRA-JA dá-lhe um novo fôlego e reafirma o seu papel central na política angolana. Chivukuvuku, uma figura carismática e experiente, já havia sido peça-chave na FPU, mas agora, com o seu próprio partido legalizado, ele tem mais liberdade para definir a sua própria estratégia.
Chivukuvuku volta ao centro do tabuleiro político como uma força independente, com potencial para mobilizar uma base significativa de eleitores descontentes com o bipartidarismo entre MPLA e UNITA. O PRA-JA, com a sua promessa de renovação, pode atrair não só antigos apoiantes, mas também jovens e outros sectores da sociedade civil que buscam uma alternativa viável.
Paradoxalmente, o MPLA também pode ser visto como um beneficiário indirecto da legalização do PRA-JA. A fragmentação da oposição, com Chivukuvuku agora liderando o seu próprio partido, pode reduzir a coesão e o vigor que a FPU demonstrou nas eleições de 2022. Com a UNITA perdendo um aliado tão importante, o MPLA pode encontrar uma oposição menos unida, facilitando a sua estratégia de manter-se no poder.
Embora a popularidade do MPLA tenha diminuído nas últimas eleições, a divisão da oposição pode ser um alívio estratégico, permitindo que o partido no poder mantenha a vantagem em 2027, principalmente se a oposição não conseguir coordenar-se de maneira eficaz.
A FPU foi a grande força motriz da oposição nas eleições de 2022, com a união entre UNITA, PRA-JA e o Bloco Democrático. Essa aliança deu à oposição um vigor inédito, mobilizando eleitores que ansiavam por mudança. No entanto, com a legalização do PRA-JA, a FPU enfrenta um cenário de fragmentação. Chivukuvuku, que antes actuava como aliado dentro da coligação, agora tem a opção de concorrer separadamente com o seu partido, o que pode enfraquecer a união que foi tão eficaz.
A FPU perde força, pois a saída de Chivukuvuku como líder do PRA-JA pode diluir a coesão entre os partidos da oposição. Sem a unidade que caracterizou 2022, o apelo ao voto contra o MPLA pode não ser tão forte, em especial se os partidos não conseguirem alinhar uma agenda comum.
A UNITA emerge como um dos grandes perdedores desse processo. Em 2022, a liderança de Adalberto da Costa Júnior, em aliança com Chivukuvuku, impulsionou a oposição para um dos seus melhores desempenhos eleitorais. Agora, sem a certeza de contar com Chivukuvuku na mesma plataforma política, a UNITA enfrenta o risco de perder eleitores que simpatizam mais com a abordagem mais moderada e independente do líder do PRA-JA.
A UNITA pode ver a sua base eleitoral dividida entre aqueles que preferem a linha mais dura do partido e os que se identificam com o estilo pragmático e conciliador de Chivukuvuku. Essa divisão pode reduzir a capacidade da UNITA de galvanizar um movimento amplo contra o MPLA, enfraquecendo as suas chances em 2027.
Entre os perdedores, também estão os eleitores que desejam ver uma oposição forte e unida. A legalização do PRA-JA pode fragmentar o voto da oposição, tornando mais difícil um resultado eleitoral contundente contra o MPLA. Com uma oposição dividida entre a UNITA, o PRA-JA e outros pequenos partidos, há o risco de desperdiçar votos que, unidos, poderiam ser decisivos para mudar o cenário político.
Sem uma oposição unificada, o eleitorado que busca uma alternativa ao MPLA pode sentir-se frustrado. A falta de coordenação e alianças claras dentro da oposição pode reduzir a confiança na capacidade de qualquer partido ou coligação realmente conseguir uma transição de poder.
Com o PRA-JA agora legalizado, o desafio principal será entender se Chivukuvuku irá optar por se manter como uma força independente ou se irá tentar renegociar alianças com a UNITA e outras forças de oposição. A chave para 2027 será a capacidade da oposição em manter algum nível de coesão. Caso contrário, o MPLA poderá explorar essa fragmentação a seu favor.
Por outro lado, Chivukuvuku poderá optar por posicionar o PRA-JA como um partido de centro, atraindo eleitores moderados de ambos os lados do espectro político. Este movimento pode transformar o PRA-JA numa peça central nas futuras negociações políticas, independentemente de quem estiver no poder. A sua capacidade de construir pontes e de agir como moderador poderá ainda torná-lo um nome viável para coligações governamentais, seja com UNITA ou até mesmo com o MPLA. Abel Chivukuvuku poderá fazer parte do próximo governo angolano de 2027. »