«EM 2027 DEIXAREI A PRESIDÊNCIA SEM DEIXAR O PODER…»

Aliás, esta parece ser a mensagem que João Lourenço começou timidamente e agora mais abertamente, a passar aos angolanos em geral e a todos aqueles que se apresentam como seus adversários internos no MPLA, numa postura de arrogância, firmeza e controlo absoluto do seu poder e do MPLA, e Higino Carneiro e Fernando da Piedade estão avisados das suas nobres e firmes intenções… enfim, uma linha vermelha a não ser ultrapassada.

Por Osvaldo Franque Buela (*)

João Lourenço aprendeu bem a lição e aplicou-a eficazmente contra quem lhe deu o poder, querendo mantê-lo e controlá-lo a nível do partido, e todos sabemos o que se passou entre ele e Eduardo dos Santos para pôr fim à dualidade de poder que se queria instalar no topo do Estado, a famosa bicefalia…

João Lourenço assumiu o controlo total do MPLA, começando por enfraquecer Bronito de Souza, seu vice-presidente e muito próximo de Eduardo dos Santos, esvaziando-lhe as prerrogativas, e empreendeu uma remodelação e reformulação de um MPLA sujeito à sua vontade, atropelando certas regras e regulamentos.

O mesmo tratamento será aplicado a Fernando da Piedade Dias dos Santos “Nando” que acabará por ser destituído da sua cadeira amovível de presidente da Assembleia Nacional, e que será substituído por uma mulher sob a vontade de João Lourenço, que nos bastidores é tentado por uma candidatura à presidência do MPLA, corredor aberto para acesso à candidatura e provável futuro presidente da república.

Os todo-poderosos generais Leopoldino, Kopelipa e Zé Maria vão experimentar a justiça e a privação de liberdades pela mão poderosa de uma justiça sob as ordens de João Lourenço, sob o olhar atento dos famosos generais “Miala” e “Furtdo”, o novo círculo influente em torno de João Lourenço.

João Lourenço, salvo um violento golpe de Estado, o que considero impossível por parte deste exército, está no auge do seu poder e domínio dentro do partido e do Estado, não tem medo da oposição política clássica, mas sim daqueles que ousam desafiar a sua autoridade dentro do MPLA, esses cruzarão o seu caminho e não serão tratados com gentileza e respeito.

A tentação de manter o poder, de manter sob o seu controlo um grande número de alavancas de poder se não se voltar a candidatar é tanto mais forte, nos seus discursos e nas suas atitudes, não querendo viver o que fez viver Eduardo dos Santos, a sua família e os seus colaboradores.

Como qualquer chefe de Estado e autoritário africano, João Lourenço não é excepção: as vantagens, o estatuto e a influência associados à presidência são consideráveis. A perspectiva de perder estes privilégios pode ser um poderoso motivador na tentativa de manter ou controlar eficazmente o poder, mesmo nos bastidores.

Tem consigo o exército, consigo os serviços de segurança e todo o MPLA, os outros eduardistas e frustrados não podem estar à sua frente, mesmo que organize uma abertura de candidaturas dentro do MPLA, a cobardia e a perda de privilégios para um grande número não serão opção para eles cobiçarem o poder Lourenço.

MAS QUE PENSAR DE UMA DITA LUTA INTERNA DENTRO DO MPLA?

O MPLA tem uma longa história de lutas internas caracterizadas por expurgos violentos e assassinatos em massa, desde o sangrento 27 de maio, todos aqueles que queriam corrigir a revolução encontraram destinos trágicos, e isso não mudou até hoje, os métodos dos expurgos sim, mas o funcionamento e a forma de esmagar a oposição interna ainda são relevantes hoje.

Quando João Lourenço diz que o próximo presidente do país deve ser aquele que fizer melhor do que ele, isso significa simplesmente que ninguém está à altura da tarefa, excepto ele, e ninguém no partido se atreve a contradizê-lo; todos baixam a cabeça e aplaudem.

Quando João Lourenço diz que o próximo presidente do país deve ser um jovem bem preparado, quer dizer simplesmente que o perfil que nos apresenta está em preparação e, sendo jovem, deveria ser o fantoche mais consumado em termos de incompetência e submissão quando lhe derem o poder, uma espécie de Medvedev que não ousará emancipar-se de Lourenço, por isso está bem preparado.

Quando João Lourenço diz que nós (ele e o seu gangue, porque não está sozinho) não vamos deixar o país nas mãos de «um qualquer», quer simplesmente dizer que ele e os seus amigos estão prontos a bloquear o caminho a quem se atrever, mesmo que isso implique usar métodos violentos ou judiciais para os silenciar ou ridicularizar.

Perante tais afirmações, que não são apenas extremamente violentas e uma negação do direito do povo angolano de escolher livremente um presidente através do voto, estas afirmações não são mais do que ameaças abertas e Higino Carneiro deve ter recebido e compreendido a mensagem.

Higino Carneiro é um oficial general com um real e reconhecido percurso militar, a quem podemos emprestar uma certa legitimidade para querer ser candidato à presidência do MPLA e posteriormente à presidência da república, não tem tomates entre as pernas para fazer uma revolução interna no MPLA, não goza da confiança dos jovens lobos que tomaram de assalto o partido, à excepção de certos caciques que já não pesam nem representam nada para os jovens angolanos de hoje, todos eles participaram no enriquecimento ilícito e na pilhagem dos recursos do país.

Se Higino Carneiro se sente preparado e em condições de convencer metade dos militantes do MPLA, não deve esquecer a cultura de cobardia e lisonja há muito enraizada no partido, e muitos não arriscarão perder as suas vantagens para o seguir nesta aventura dentro do actual MPLA, a não ser que eu esteja muito emocionado e tenha feito uma análise errada.

Higino Carneiro deve conhecer os métodos de fraude eleitoral utilizados contra o MPLA. Será que se atreverá a revoltar-se contra aquele que ajudou a roubar os votos angolanos nas eleições de 2022? De quem estamos a falar? Alguém como Corneil Nanga, na RDC, que acabou por pegar em armas e formar uma rebelião para expulsar Tshisekedi, a quem ele próprio proclamou vencedor das eleições congolesas?

Se Higino Carneiro está pronto para governar o país, que tenha a coragem de juntar todos os desiludidos como ele, a começar por Nando e todos os outros, para criar um partido político que consiga seduzir metade do MPLA, fazer parte de uma coligação eleitoral e ir ao encontro dos angolanos por todo o país e explicar o seu projecto político para cimentar uma base eleitoral real, essa é a força de um homem que quer governar e creio que tem condições financeiras para o fazer, porquê confinar-se e fazer campanha pelo MPLA como se sem o MPLA não conseguisse convencer o povo e vencer?

O país precisa de líderes que possam estar acima das linhas partidárias para servir o povo e não de um Presidente da República de angolanos do seu partido. Que Higino Carneiro saia de casa e vá para a rua, para os campos, aldeias e províncias para nos explicar o seu projecto, como tão bem o faz Abel Chivukuvuku. De quem precisa ele para governar o país? De militantes do MPLA ou do povo angolano sem distinção?

O país precisa de um homem capaz de elevar o país às mais altas esferas políticas e diplomáticas, não de querelas de um partido que durante 50 anos coloniza e empobrece o seu próprio povo a cada dia que passa, saiam do MPLA, destruam este partido mafioso e caminhem com o povo para elevar Angola ao nível da sua riqueza e da sua influência geopolítica em África.

Que Deus abençoe e ilumine o povo angolano

(*) Escritor, pan-africanista e refugiado político em França

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