ÁFRICA NÃO É POBRE. POBRES SÃO OS AFRICANOS

À medida que os fluxos globais de capital evoluem e a ajuda ao desenvolvimento tende a diminuir, África encontra-se num momento decisivo. A 28 de Maio, durante os Encontros Anuais de 2025 do Grupo Banco Africano de Desenvolvimento, líderes de alto nível, decisores políticos e especialistas financeiros reuniram-se para definir um novo rumo para o futuro financeiro do continente – um rumo baseado nos recursos e na criatividade africanos.

Organizado pelo Departamento de Mobilização de Recursos e Parcerias do Grupo, em colaboração com a iniciativa Making Finance Work for Africa, sediada pelo Banco, este evento paralelo reuniu eminentes especialistas africanos.

Com uma queda de 10% na ajuda ao desenvolvimento e um recuo de 12% nos investimentos estrangeiros directos, que caíram para 40 mil milhões de dólares, a urgência de mobilizar recursos internos torna-se premente. O continente enfrenta um défice anual de financiamento de infra-estruturas entre 68 e 108 mil milhões de dólares, atraindo apenas 2% dos investimentos globais neste sector.

“A verdadeira questão não é saber se o capital existe – ele existe. A questão é saber como mobilizá-lo em grande escala para investimentos produtivos e de alto impacto”, afirmou o vice-presidente do Grupo Banco Africano de Desenvolvimento responsável pelo Sector Privado, Infra-estruturas e Industrialização, Solomon Quaynor.

“África não é pobre. Os nossos investidores institucionais – fundos de pensões, fundos soberanos, companhias de seguros e até bancos centrais – gerem colectivamente mais de 2,1 biliões de dólares em activos”, afirmou Quaynor na abertura da sessão. “Se apenas 5% desses fundos fossem direccionados para infra-estruturas e para o sector privado, isso permitiria libertar mais de 100 mil milhões de dólares de capital a longo prazo para o continente”, exemplificou.

O evento destacou modelos inovadores liderados por africanos para mobilizar capital institucional. Por exemplo, a InfraCredit Nigeria, uma instituição pioneira em reforço de crédito, ajudou a garantir mais de 300 milhões de dólares em financiamento de longo prazo em moeda local para projectos de infra-estruturas.

“O risco real associado aos activos de infra-estrutura é muitas vezes sobrestimado. Não registámos nenhuma perda na carteira de mais de 20 projectos em 12 sectores em oito anos”, garantiu Chinua Azubike, director-geral da InfraCredit.

Tafara Ethiopis, vice-presidente da Sociedade Financeira Internacional (SFI, filial do Banco Mundial para o sector privado) para África, insistiu na necessidade de reforçar a bancabilidade dos projectos através de mecanismos de partilha de riscos mais eficazes.

“É essencial calibrar correctamente a distribuição de riscos e benefícios entre os sectores público e privado para que os projectos sejam financiáveis”, sublinhou.

Os intervenientes identificaram também os principais obstáculos à mobilização de capital institucional e propuseram soluções concretas. Boitumelo Mosako, diretora-geral do Banco de Desenvolvimento da África Austral (DBSA), destacou o papel central da boa governação e da preparação rigorosa dos projectos. “É necessário investir em mecanismos de preparação de projetos para estruturá-los, reduzir os riscos e torná-los atraentes para os investidores institucionais”, alertou.

O director-geral da Comissão de Valores Mobiliários da Nigéria (SEC), Timi Agama, insistiu na importância das reformas regulamentares, da protecção dos investidores e da educação financeira: “Para libertar o capital doméstico, é preciso instaurar a confiança. Isso passa por mecanismos de supervisão, mas também por uma educação financeira aprofundada”.

Denis Charles Kouassi, director-geral da Caixa Nacional de Protecção Social da Costa do Marfim, destacou a alinhamento estratégico dos fundos de pensões com as prioridades de desenvolvimento nacionais: “Todos os produtos que geramos são reinvestidos directamente na economia nacional para financiar os nossos serviços e estimular o crescimento”, afirmou.

Boitumelo Mosako apelou a uma maior integração regional e a uma maior colaboração dentro do continente africano: “Sim, precisamos de governação e responsabilização, mas, como africanos, também temos de aprender a confiar uns nos outros”, salientou.

O Departamento de Mobilização de Recursos e Parcerias do Grupo Banco Africano de Desenvolvimento está a levar a cabo várias acções destinadas a mobilizar o capital institucional africano, nomeadamente através de instrumentos como o Fundo Fiduciário para o Desenvolvimento dos Mercados de Capitais e parcerias estratégicas com partes interessadas regionais e mundiais.

“O momento exige visão. Exige também inovação. E, acima de tudo, exige acção”, defendeu Solomon Quaynor. “Vamos reunir o nosso capital, as nossas ideias e a nossa vontade para construir uma África onde as infra-estruturas se tornem alavancas, e não obstáculos, à prosperidade”.

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