A UNITA, o maior partido da oposição angolana que o MPLA ainda permite que exista, denunciou hoje um ataque a militantes do seu braço juvenil, a JURA, do qual resultou um ferido, associando o episódio a mensagens “de intimidação” do MPLA, partido no poder há 49 anos.
Em declarações à Lusa, o secretário-geral da JURA, Nelito Ekuikui, explicou que o ataque aconteceu no domingo no Lopitanga, município do Andulo, província do Bié, por volta das 18 horas, quando os jovens saiam de um acampamento e se depararam na estrada com uma barricada com troncos e pedras erguida por militantes da JMPLA, organização juvenil do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA).
A maior parte dos membros da Juventude Unida Revolucionária de Angola (JURA) conseguiram escapar ao ataque com paus e pedras que terá sido perpetrado por jovens da Juventude do Movimento Popular de Libertação de Angola (JMPLA), excepto um deles que não conseguiu fugir “e foi barbaramente espancado”, segundo Nelito Ekuikui.
Fotografias mostram o homem de 32 anos com cortes profundos na cabeça que o levaram a ser assistido no Cuemba, sendo posteriormente transferido para o hospital central do Kuito.
Nelito Ekuikui adiantou que os jovens seguiam numa viatura “com a sua propaganda e entoavam as suas canções” e que o secretário provincial da JURA vai apresentar queixa junto das autoridades.
“Estamos à espera a toda a hora que as autoridades competentes se pronunciem sobre o caso”, afirmou.
O acampamento foi realizado no âmbito das festividades alusivas ao aniversário do fundador da UNITA, Jonas Savimbi, morto a 22 de Fevereiro de 2002, e natural da aldeia de Lopitanga, para onde os seus restos mortais foram transferidos em 2019.
A JURA expressou através de um comunicado o seu mais “profundo e veemente repúdio contra o bárbaro ataque” que sofreu Isaac Eduardo Chitengui que “foi brutalmente agredido e espancado até quase a morte por militantes da JMPLA”.
“Este crime hediondo não é apenas uma afronta directa à integridade física de um jovem, mas também um ataque violento contra os princípios democráticos e a liberdade de expressão em Angola”, disse a JURA, exigindo às autoridades uma “investigação imediata, transparente e rigorosa”.
A UNITA já denunciou este ano outros episódios de intolerância política visando os seus dirigentes e militantes.
“Situações desta natureza têm-se registado com alguma frequência nos últimos anos, depois das eleições de 2022”, sublinhou Nelito Ekuikui, acrescentando que se quer transmitir uma mensagem de intimidação.
“O partido do regime perdeu grande expressão e popularidade e quer com essas atitudes intimidar o povo no sentido de o povo recuar e não apoiar a UNITA”, insistiu o dirigente.
Eis, na íntegra, o comunicado do Secretariado Executivo da Comissão Permanente do Comité Nacional da JURA:
«A JURA vem a público expressar seu mais profundo e veemente repúdio contra o bárbaro ataque sofrido pelo nosso membro Isaac Eduardo Chitengui. No dia 4 de Agosto de 2024, pelas 18h, Isaac Eduardo Chitengui foi brutalmente agredido e espancado até quase à morte por militantes da JMPLA, na aldeia do Chiwissa, Regedoria de Machalo, comuna de Sachinemuna. Este atentado covarde ocorreu enquanto Isaac saía do acampamento da JURA, realizado na aldeia de Lopitanga.
Este crime hediondo não é apenas uma afronta directa à integridade física de um jovem, mas também um ataque violento contra os princípios democráticos e a liberdade de expressão em Angola.
A violência política é intolerável e repugnante, representando a face mais desprezível do autoritarismo e da repressão. Não podemos, nem iremos, aceitar que cidadãos angolanos sejam vítimas de tamanha crueldade por exercerem seus direitos políticos.
A JURA exige das autoridades uma investigação imediata, transparente e rigorosa, para que os responsáveis por este acto abominável sejam rapidamente identificados e punidos com todo o rigor da lei. Não permitiremos que a impunidade prevaleça. A justiça deve ser feita sem demora.
Condenamos igualmente a cumplicidade e a omissão de qualquer pessoa ou instituição que permita que tais actos de violência continuem a ocorrer. É inadmissível que, em pleno século XXI, Angola ainda seja palco de violência política utilizada como ferramenta de intimidação e repressão.
Este ataque vil não calará a JURA. Pelo contrário, aumenta nossa determinação de lutar contra a opressão e por um país verdadeiramente democrático e justo. Não nos calaremos diante da violência e da intolerância. Nossa luta é pela paz, justiça e dignidade de todos os angolanos.
Apelamos toda a sociedade angolana a se unir a nós nesta batalha contra a intolerância política e a violência partidária. Não descansaremos até que todos os cidadãos possam viver em um país onde suas vozes sejam respeitadas e onde a violência não tenha lugar.
Abaixo a intolerância política!
Abaixo a perseguição de quem pensa diferente!»