Na sessão de abertura do VIII Congresso Extraordinário do MPLA que arrancou esta segunda-feira, 16, em Luanda, o presidente dos camaradas, João Lourenço, anunciou que vai substituir por jovens a velha guarda do Bureau Político do partido onde se destacam nomes como Bornito de Sousa, Carlos Feijó, Bento Bento, Fernando da Piedade Dias dos Santos, Isaac dos Anjos, João de Almeida Martins, João Ernesto dos Santos “Liberdade”, Jorge Dombolo, Irene Neto, António Pitra Neto, Norberto dos Santos “Kwata Kanawa”, Mário Pinto de Andrade, Archer Mangueira. O objectivo passa por “enfrentar os novos desafios” políticos e eleitorais.
Por Geraldo José Letras
Ora então, “depois de encerrado este congresso, vamos realizar de imediato uma reunião do Comité Central, para nos ajustarmos aos grandes desafios que teremos de enfrentar, rejuvenescendo o bureau político e o seu secretariado”, avisou no seu discurso de abertura do VIII Congresso Extraordinário, João Lourenço, que para a materialização dos seus objectivos eleitorais e políticos no Congresso Ordinário, que servirá para a eleição do cabeça-de-lista pelo círculo nacional para candidato a Presidente da República em 2027 e Presidente do partido em 2026, voltando ao sistema da bicefalia, começa a preparar de modo estratégico a substituição de todos que lhe venham a fazer oposição no Bureau Político e Secretariado do partido.
O VIII Congresso Extraordinário vai permitir que os mais de 2.700 delegados debatam e aprovem a tese “MPLA – Da Independência aos Nossos Dias – Os Desafios do Futuro”, além de procederem ao ajustamento dos estatutos do partido, “algo que acontecerá pela sexta vez num congresso extraordinário do nosso partido, o que demonstra a capacidade que o MPLA tem em acompanhar e permanentemente se adaptar à dinâmica da própria vida interna do partido, da sociedade e da conjuntura internacional”, como disse João Lourenço durante o seu discurso.
Para aprofundar a democracia interna entre os camaradas proibidos de questionar as suas orientações, sob pena de merecerem o mesmo destino do Jornalista e membro do Comité Central, Valdir Cónego de Malanje, um dos poucos a intervir de forma crítica contra o seu líder e o partido que (des)governa Angola há 49 anos, João Lourenço jurou de dedinhos cruzados “fazer respeitar o papel e as competências dos órgãos de direcção eleitos aos mais diferentes escalões da hierarquia do partido, conforme os estatutos”.
Ao intervir em Outubro do ano em curso, numa das reuniões do Comité Central do MPLA, que visava analisar a tese do então VIII Congresso Extraordinário e a proposta de alteração dos estatutos, o jornalista e membro do CC do partido, Valdir Cónego de Malanje, questionou o seu líder João Lourenço “o porquê de aprovar um tema sem ‘draft’ (sem ter uma proposta escrita/esboço)”. Ou seja, João Lourenço não explicou aos militantes os motivos do ajustamento do Estatuto do partido, na certeza de que ninguém teria sanidade intelectual para ler os documentos e ousadia para questioná-lo.
Para os mais atentos, a irritação denunciada por João Lourenço face à intervenção de Valdir Cónego de Malanje denunciou o plano estratégico do presidente do MPLA que passa por em 2026 alterar o artigo 120º dos estatutos em seu benefício, sem se importar em prejudicar e fragilizar o partido nas próximas eleições gerais de 2027.
João Lourenço quer continuar a ser presidente do partido alterando o artigo 120° que passará a defender que o cabeça-de-lista a Presidente da República não é necessariamente o presidente do partido, isto permitiria que ele continuasse como Presidente do MPLA, e assim indicar para a sua própria sucessão alguém que exerceria as funções de Presidente da República sob sua orientação ou manipulação.
“Trata-se de um Congresso Extraordinário que vai debater e aprovar a tese “MPLA – Da Independência aos Nossos Dias – Os Desafios do Futuro” e fazer ajustamentos aos estatutos do partido, algo que acontecerá pela sexta vez num congresso extraordinário do nosso partido, o que demonstra a capacidade que o MPLA tem em acompanhar e permanentemente se adaptar à dinâmica da própria vida interna do partido, da sociedade e da conjuntura internacional”, disse João Lourenço quando discursava.
João Lourenço que já começa a elaborar o esboço do discurso de campanha pré-eleitoral em 2027 para o seu possível substituto na Presidência da República de Angola disse que, “é com o MPLA, que o país conhece um grande programa de reconstrução nacional e construção de novas infra-estruturas como portos, aeroportos, estradas, barragens hidroeléctricas, parques fotovoltaicos de energia solar, linhas de transmissão, estações de captação e adução de água, estabelecimentos escolares e hospitalares em todo o país e de todos os níveis”. Internamente, enumerou ainda vários feitos do partido na governação de Angola e também ao nível das relações externas, referindo “maior credibilidade junto das instituições financeiras e de crédito internacionais”, e destacando a recente visita do Presidente dos Estados Unidos da América, Joe Biden.
“O que nos deixa a todos muito orgulhosos pelo que isso significa para a imagem de Angola e as perspectivas de atracção do investimento privado estrangeiro e a possibilidade de os empresários angolanos investirem no mercado americano”, frisou.
Para João Lourenço, o engajamento e financiamento norte-americano no Corredor do Lobito, “uma infra-estrutura mais segura, rápida e barata de transporte, logística e do comércio mundial, vai contribuir para a segurança alimentar, para a transição e segurança energética mundial e, consequentemente, para o combate às alterações climáticas e suas consequências”.