O ministro dos Recursos Minerais, Petróleo e Gás angolano, Diamantino de Azevedo, disse hoje que mantém a intenção de dispersar o capital da petrolífera estatal (do MPLA) Sonangol em bolsa, mas persistem “desafios” como o subsídio aos combustíveis.
Diamantino de Azevedo falava à imprensa no final de uma audição parlamentar promovida hoje pela Comissão de Economia e Finanças da Assembleia Nacional, que, entre outros assuntos, questionou a situação do processo de privatização da Sonangol.
Segundo o ministro, o Governo decidiu pela dispersão até 30% do capital da Sonangol em bolsa, em várias etapas, começando pela Bodiva, bolsa local, mas olhando também para bolsas externas.
“Também está determinado que essa dispersão irá contemplar acções preferenciais para os trabalhadores da Sonangol, acções para angolanos singulares e para as empresas angolanas”, referiu, sublinhando que se trata de um processo que implica a reestruturação da empresa.
“É um processo que está em curso. Temos aspectos endógenos, que são responsabilidade da gestão da Sonangol e do ministério da tutela, mas temos outros aspectos que ultrapassam a própria gestão da empresa e posso aqui citar, por exemplo, a questão dos subsídios aos derivados dos petróleos. É algo que impacta negativamente nas contas da empresa, então temos que resolver esse aspecto”, frisou.
Outro desafio, realçou o ministro, prende-se com o excesso de pessoal na Sonangol, na ordem de 2.000 pessoas, para as quais é preciso “encontrar solução”.
“E esses dois aspectos não são só de responsabilidade de gestão da empresa”, disse o ministro, rejeitando o despedimento de trabalhadores.
“Nós não estamos a partir do princípio de dispensar os trabalhadores, nós estamos a encontrar soluções para esses trabalhadores. Não nos passou pela cabeça dispensar esses trabalhadores, as soluções passam, por exemplo, nós orientarmos a Sonangol para ser uma empresa de energia, para não se restringir apenas aos hidrocarbonetos e já estamos a ver investimentos da Sonangol na energia solar”, frisou Diamantino Azevedo.
Com investimentos na área dos biocombustíveis, prosseguiu o governante angolano, a Sonangol pode criar espaço para esses trabalhadores.
“A Sonangol tem é que procurar mais investimentos, fazer mais projectos, e irmos encaixando esses trabalhadores excedentários nesses projectos, não estamos a pensar nesses trabalhadores fora da Sonangol”, sublinhou.
Questionado sobre quando terá início o processo de dispersão do capital em bolsa, inicialmente previsto para este ano, Diamantino Azevedo respondeu que “a intenção continua”, mas ainda não consegue avançar datas.
“Neste momento, nós estamos a rever esse processo, a ver as acções possíveis de fazer, o que temos que fazer. Há acções de responsabilidade da gestão da empresa, há outras que ultrapassam a gestão da empresa, mas a intenção continua, não posso é afirmar aqui quando é que poderemos passar para esta componente efectiva do processo de dispersão de capital da Sonangol em bolsa”, vincou.
Sobre o excesso de trabalhadores na Sonangol, o parlamento sugeriu que a petrolífera angolana encontre uma solução, por exemplo o seu contributo em outros sectores, como o da educação.
“Se esses quadros se encontram em condição ociosa, alguns estão a ser remunerados para ficar em casa (…) estariam a dar um contributo – que fosse em poucas horas, não estamos a falar de uma jornada laboral de oito horas -, mas é preciso o sector com os seus pares encontrar um aproveitamento mais útil desta força de trabalho, que provavelmente é necessária em muitos sectores de actividade da nossa economia nacional”, disse Aia-Eza Troso, presidente da Comissão de Economia e Finanças da Assembleia Nacional.
E ENTÃO OS CAMARADAS DOS EUA?
Em Março deste ano, a Sonangol participou numa reunião em Houston para convidar os investidores norte-americanos a apostarem na exploração e produção de petróleo no país, apresentado como “um parceiro competitivo”.
No texto de apresentação do evento lê-se: “A Sonangol aumentou a sua competitividade e capacidade como operador através de um processo de privatização iniciado pelo Governo e que ficará completo em 2026; agora, a Sonangol está activamente à procura de parceiros para projectos de exploração e produção, e está a convidar as companhias norte-americanas a envolverem-se nas oportunidades de Angola”.
Os organizadores da Angola Oil & Gas 2024, a exposição petrolífera que decorrerá em Luanda este ano, afirmam que o evento “será uma plataforma para os investidores norte-americanos e a Sonangol forjarem parcerias estratégicas e explorarem sinergias que potenciem o crescimento mútuo”.
A Sonangol já tem parcerias estratégicas com petrolíferas norte-americanas, como a ExxonMobil ou a Chevron, mas também no sector das energias renováveis, como a Azule Energy.
Recorde-se que a Sonangol anunciou no dia 23 de Fevereiro um resultado líquido de 3,1 mil milhões de dólares (2,8 mil milhões de euros) em 2023, contra os 5,3 mil milhões de dólares (4,8 mil milhões de euros) de 2022.
Este resultado representa uma queda de 41,5%, num ano que a petrolífera estatal sublinha ter sido “marcado por múltiplos desafios, cujas consequências têm sido visivelmente nocivas, à escala global”.
Em 2023, o volume de negócios da Sonangol foi de 10,9 mil milhões de dólares (10 mil milhões de euros), contra os 13,4 mil milhões de dólares (12,3 mil milhões de euros) de 2022, uma descida de 18,6%.
De acordo com o comunicado sobre o desempenho operacional e financeiro da petrolífera referente a 2023, a instabilidade no ambiente geopolítico e o seu consequente impacto no comportamento dos mercados reflectiram-se no preço do barril de petróleo e na rentabilidade dos agentes económicos.
Nesse cenário, as ramas angolanas foram comercializadas ao preço médio de 82,04 dólares por barril contra os 102,21 dólares comercializados em 2022.
O EBITDA (lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização) consolidado atingiu 3,2 mil milhões de dólares (2,9 mil milhões de euros).
A petrolífera fez investimentos de cerca de 2 mil milhões de dólares (1,8 mil milhões de euros), dos quais 98% na cadeia primária de valor, com destaque para projectos de desenvolvimento dos blocos 0, 15/06 e 17/20 e desembolsos referentes aos projectos de construção das Refinarias do Lobito e de Cabinda.
Com os referidos investimentos, que representam um aumento de 41% em relação ano anterior, a empresa “reforça a posição no mercado, focando-se na cadeia primária de valor e nas energias renováveis”, salientou a Sonangol.
“Alinhada à sua estratégia de expansão das operações de exploração, a Sonangol retomou as actividades onshore na Bacia do Kwanza, com a perfuração de dois poços nos blocos KON 11 e KON 12, o que resultou na identificação de recursos prospectivos estimados em 80 milhões de barris”, refere-se no comunicado.
Em relação à promoção da autonomia doméstica em termos de produtos refinados, em 2023, a nova Unidade Platforming da Refinaria de Luanda alcançou 221.000 toneladas métricas de gasolina, um aumento de 162% em relação a 2022.
A Sonangol refere ainda que, no âmbito da privatização dos seus activos não nucleares, foram contratualizados, desde 2019, um total de 190 milhões de dólares (175,6 milhões de euros) e recebidos 66,2 milhões de dólares (61,2 milhões de euros), com 31 activos privatizados e cinco em curso.
No início deste ano ficou a saber-se também que a Sonangol adjudicou dois contratos para o fornecimento de gasolina e gasóleo à britânica BP Oil International, que foi seleccionada entre as sete empresas que submeteram propostas no concurso para importação de produtos refinados.
O concurso decorreu entre 17 de Janeiro e 15 de Fevereiro de 2024, visando a adjudicação de contratos para cada um destes produtos para um período de 12 meses.
Para o concurso foram convidadas 14 empresas, das quais sete submeteram propostas: BP, Glencore Energy, Trafigura, Gunvor, Vitol, Mercuria e Totsa.
“Após a fase de clarificações e negociações foi efectuada a avaliação da economicidade das propostas”, que resultou na escolha da BP, lê-se no comunicado da Sonangol.