“A não inserção das línguas nacionais no Currículo Escolar e a transição geracional que se assiste no país poderão levar ao desaparecimento de muitas línguas em Angola”, a preocupação face à ausência de uma política linguística do Executivo para a valorização e preservação das línguas dos grupos etnolinguísticos falados em território nacional, é manifestada pelo docente universitário e jornalista da TPA para a língua Kimbundu, José Soladi, em entrevista ao Folha 8.
Por Geraldo José Letras
A não inserção das línguas nacionais no Currículo Escolar e a transição geracional que se assiste no país poderão levar ao desaparecimento de muitas línguas em Angola. A preocupação foi manifestada pelo docente universitário e jornalista da TPA (Televisão Pública de Angola) para a língua Kimbundu, José Soladi, ao denunciar a ausência de uma política linguística do Executivo para a valorização e preservação das línguas dos grupos etnolinguísticos falados em território nacional.
“A única maneira de se preservar, difundir e perpetuar uma língua é por intermédio do seu uso diário e da sua inserção no Currículo Escolar, se tal não acontece, elas tendem a desaparecer com os seus falantes”, observou.
A elaboração do Currículo Escolar é da responsabilidade de três níveis: “Nível Político – quer dizer que depende do mais alto mandatário do país e da Assembleia Nacional; Nível de Gestão – os técnicos e especialistas do Ministério da Educação; Nível Pedagógico – que compreende os professores que aplicam e fazem cumprir na sala de aula aquilo que foi idealizado por lei e por quem governa”.
“Quer dizer que a inserção das Línguas Nacionais no Currículo Escolar Angolano não depende exclusivamente da Ministra nem do Ministério da Educação, porque em Angola, os cargos ministeriais são apenas auxiliares ao Titular do Poder Executivo”, enquadrou o docente universitário para quem as línguas nacionais só não são implementadas no Sistema Nacional de Ensino por via de um Currículo Escolar que reflicta a realidade sociolinguística dos povos de Angola por falta de vontade política do Presidente da República, João Lourenço, que a pesar de propalar separação de poderes no funcionamento político-administrativo, detém o poder de decisão em todos os sectores institucionais e ministeriais.
Em pronunciamento no Dia Internacional das Línguas Maternas, que é a que o indivíduo adquire, e por intermédio dela se comunica e se socializa na infância, momento em que se dá início à sua escolarização, o docente universitário lamentou a sobrevalorização das Línguas Maternas face ao Português, que em Angola goza do estatuto linguístico de Língua Oficial, e as línguas estrangeiras – Inglês e Francês – que diferente das línguas nacionais são promovidas no Sistema Nacional de Ensino e estabelecidas nas instituições públicas e privadas como competências básicas para o processo de contratação e admissão no mercado de trabalho – , recorrendo ao artigo 19° da Constituição da República de Angola (CRA), na sua alinha número 1 que consagra o Português como Língua Oficial e, na sua alinha 2, diz que o Estado valoriza e promove o estudo, o ensino e a utilização das demais línguas de Angola, bem como as principais línguas de comunicação internacional (inglês e francês).
“Pode-se dizer que, em nosso próprio solo pátrio, as Línguas Angolanas de origem Bantu são relegadas para o terceiro plano, porque em segundo plano vemos as Línguas Estrangeiras a serem ensinadas nas nossas escolas a partir da 7ª classe. Por que até hoje não se pauta por uma equidade linguística, ou seja, ao tratamento igual a todas elas? De facto, não são notórias, na prática, acções que visem a preservação das Línguas Bantu que constituem a base de identidade cultural da maior parte da população angolana”, disse José Soladi.
“Ante a ausência das Línguas Nacionais no Currículo Escolar Angolano, não é possível falar-se em preservação das nossas línguas, pelo contrário, muitas delas correm risco iminente de deixar de existir com o desaparecer da geração actual de falantes das Línguas Angolanas. As Línguas Bantu de Angola estão mais ameaçadas do que preservadas”, alertou o docente universitário.
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