PARA SER INCOMPETENTE NÃO É PRECISO USAR FARDA

O Presidente angolano, general João Lourenço, disse hoje ao novo ministro do Interior para não recear o cargo que passa a assumir, sendo civil, porque “não é na farda onde está a força”, mas sim na inteligência. Faltou, contudo, referir que a inteligência é algo (como nos tem sido ensinado há 49 anos) exclusivo de quem for do MPLA.

O chefe de Estado (não nominalmente eleito) falava na tomada de posse de Manuel Homem, que deixa o cargo de governador de Luanda para assumir a pasta do Ministério do Interior, em substituição de Eugénio Laborinho.

Segundo o general João Lourenço (também presidente do MPLA, Titular do Poder Executivo e – por falar em farda – Comandante-em-Chefe das Forças Armadas), a nomeação inédita de um civil como ministro do Interior, vem quebrar uma tradição.

“Entendemos quebrar algo que tem que sido tradição, ao nomearmos um ministro do Interior civil, mas gostaria de lhe pedir que não tivesse medo da farda. A farda não faz mal a ninguém, não é na farda onde está a força, a força está na inteligência, na determinação dos homens”, referiu o general Presidente.

João Lourenço apelou a Manuel Homem que exerça as suas funções “sem nenhum tipo de complexo, sem receio algum”, porque confia nas suas capacidades, acreditando que vai “dar num bom ministro do Interior”. Se “sua Santidade” o general dos generais o diz…

Em declarações à imprensa, Manuel Homem disse que vai começar por fazer um diagnóstico da situação actual do Ministério do Interior e dará sequência às várias acções que estão a ser desenvolvidas já pelo sector, destacando o combate à criminalidade, a melhoria da segurança pública no país, ao Serviço de Migração de Estrangeiros e à Guarda de Fronteira.

“Como sabem, temos assistido nos últimos tempos a várias acções nesse domínio, de invasão das nossas fronteiras e teremos que prestar alguma atenção para conseguirmos melhorar a actuação dos órgãos”, referiu.

Manuel Homem salientou que vai também investir na capacitação e formação dos recursos humanos para garantir cada vez mais melhores quadros, para responder às necessidades que a polícia e os órgãos do Ministério do Interior exigem.

A problemática do contrabando de combustível vai igualmente merecer atenção, bem como a apropriação ilegal de várias outras riquezas do país, “que são vandalizadas, roubadas”.

“Vamos fazer este trabalho para permitir que possamos ter o Ministério do Interior e a Polícia Nacional com maior dinâmica para actuar neste e noutras acções que temos ao nível do Ministério”, acrescentou.

O Presidente general exonerou, na quinta-feira, Eugénio Laborinho, cuja liderança na pasta do Interior ficou marcada por diversas polémicas, embora tenha sido um dos mais duradouros ministros do executivo de João Lourenço, que o nomeou em 2019 e o manteve no seu segundo mandato, supostamente conquistado nas eleições gerais de 2022.

Na semana passada, João Lourenço exonerou os directores nacionais do Serviço de Migração e Estrangeiros e do Serviço de Investigação Criminal, pouco depois de, no seu discurso sobre o Estado da Nação, a 15 de Outubro, ter acusado políticos e parlamentares de estarem ligados a crimes de contrabando e vandalização de vens públicos.

Na altura, o general João Lourenço afirmou que “o aumento do contrabando de combustíveis, o dano ambiental resultante da exploração ilegal de minerais estratégicos e de madeira”, e o reinvestimento público necessário devido à vandalização de bens públicos, obriga a unir esforços numa “cruzada nacional contra estes tipos de crime”.

Recorde-se que Manuel Homem tem somado êxitos, mesmo sem farda. Em Julho de 2020, na sua qualidade civil de ministro das Telecomunicações Tecnologias de Informação e Comunicação Social, defendeu, em Luanda, a promoção do acesso à Internet em todos os estratos sociais e em todo o país. Embora dê jeito haver electricidade, crê-se que o Governo a vá tornar “potável” através de ligação a candeeiros a petróleo (recuperando, talvez, os petromax) ou a velas de cera…

Na altura, por todos os cantos e esquinas do país multiplicaram-se as manifestações de júbilo e elogios à tese de Manuel Homem, um dos mais emblemáticos sipaios (sem farda) do general João Lourenço. A população dos Gambos, por exemplo, e daquelas localidades do Cuando Cubango, onde continuavam a morrer crianças devido à fome, receberam a notícia com muita alegria. Tanta alegria que foram logo comprar computadores para os filhos e velas para fornecer energia para os computadores poderem funcionar.

Alguns pais, pouco informados sobra e ciclópica capacidade do governo do MPLA, perguntam se as crianças, para terem acesso a electricidade, iriam ligar os computadores no tronco ou nos ramos das árvores. Esqueceram-se, lamentavelmente, que a os computadores podem funcionar ligados a candeeiros ou a velas de cera.

Manuel Homem, que falava à imprensa no termo de uma visita de constatação ao Instituto Nacional de Fomento da Sociedade de Informação (INFOSI), considerou que a expansão do sinal da Internet deve permitir e facilitar o acesso a todos. “Temos de continuar a trabalhar na promoção do acesso à Internet em todos os estratos sociais por via dos programas de massificação e inclusão digital em curso um pouco por todo o país”, frisou o então ministro (depois governador de Luanda e agora ministro) sem que alguém lhe lembrasse que não fica bem falar de coisas como electricidade (mesmo que na versão “potável”) a um povo que tem 20 milhões de pobres. Isto se é que esses pobres são gente, se é que são… angolanos. Talvez agora que é ministro do Interior nos esclareça se esse exército (sem farda) de pobres é constituído, ou não, por angolanos.

Manuel Homem manifestou-se, igualmente, satisfeito com o nível de organização do Instituto Nacional de Fomento da Sociedade de Informação do ponto de vista técnico e administrativo, o que vai facilitar o processo de apoio à modernização dos sistemas da administração pública em curso no país, no âmbito dos programas e projectos de massificação digital.

Com a implementação dos Programas e Inclusão Digitais, o Ministério das Telecomunicações Tecnologias de Informação e Comunicação Social estava a desenvolver o Projecto “Angola Online”, que já permitira montar (para os financiadores verem) alguns pontos públicos de acesso (quando calha) à Internet, em todo o território nacional.

Acresce que, com esse acesso à Internet, os nossos pobres podem mostrar ao mundo que são dos melhores na disciplina basilar implementada pelo MPLA há 49 anos e que, por isso, constitui o seu ADN: Aprender a viver sem comer. É claro que o resultado não é 100 por cento positivo. Isto porque muitos quando estão quase, quase mesmo, a saber viver sem comer… morrem.

Manuel Homem disse ainda que, além do Projecto “Angola Online”, existiam outros, com destaque para “Andando com as TIC”, que permitiu, igualmente, melhorar os índices de acesso às tecnologias de informação e comunicação nas zonas mais recônditas do país.

O ministro garantiu, igualmente, estarem criados os programas e plataformas tecnológicas em todos os departamentos ministeriais e instituições públicas para a realização de reuniões e outros encontros de trabalho.

“Estão criadas as condições para assegurar que os serviços públicos continuem a funcionar de forma normal”, disse.

Por outro, reconheceu a necessidade de se continuar a imprimir esforços para garantir que mais serviços possam surgir com o ambiente digital, de maneira a garantir que os cidadãos, em casa, continuem a realizar contacto com a administração pública de forma mais célere e segura.

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