O Produto Interno Bruto em medidas de volume. O PIB em volume apresenta uma variação sinusoidal acentuada com mínimos nos 2.os Trimestres e máximos nos 1.os e 4.o Trimestres, aparentemente sazonais, com variações de cerca de +/- 7-8% à volta do valor do período base (Set de 2022, o início da actual legislatura).
Por Heitor Carvalho (*)
Em termos homólogos, o PIB cresce +1,4%, com uma variação acumulada ao 3.º Trimestre de +0,6% e de -1,2% face à média de 2022. Em termos práticos, o PIB em volume estagnou!
A nossa previsão é de que o PIB em volume anual se situe próximo da previsão governamental de +0,4%, contrariando a nossa anterior previsão de -0,3%.
Em volume per capita (por habitante) o PIB decresce 1,6%, com uma variação acumulada ao semestre de -2,5%, e de -3,8%% face à média, o que significa que, em valor acumulado ao 3.º Trimestre, as quantidades produzidas por cada pessoa residente no país se reduziram em cerca de 3%, ou seja, em linguagem menos rigorosa mas mais simples, os rendimentos dos angolanos reduziram-se em cerca de 3% até ao 3.º Trimestre de 2023.
O Produto Interno Bruto em valor deflacionado. O índice do PIB em volume mede apenas a variação das quantidades produzidas, como se o valor relativo de todas as mercadorias não se alterasse, enquanto o PIB em valor deflacionado mede a variação do valor da produção, tendo em conta a variação das quantidades e do preço relativo das mercadorias. De forma um pouco mais técnica, o PIB em volume compara a variação das quantidades produzidas, enquanto o PIB deflacionado compara o valor da produção expurgado da variação da moeda face ao conjunto de bens e serviços transaccionados no mercado interno. Esta última forma traduz, na nossa opinião, de forma mais adequada a variação dos rendimentos.
Apresentamos o PIB em valor deflacionado com um cálculo misto que consiste num procedimento pouco ortodoxo de somar a despesa interna em produtos internos deflacionada do INPC (evitando as distorções da variação cambial) com a despesa interna em produtos internos (exportações) deflacionada da inflação mundial (evitando as distorções do cálculo da inflação do INE). Se o INPC estivesse bem calculado usaríamos apenas esse deflator.
Em termos homólogos regista-se um variação de -10,5%, com uma variação acumulada ao 3.º Trimestre de -10,8% e de -11,0% face à média de 2022. Até ao fim do 3.º Trimestre, o rendimento médio total da produção interna reduziu-se em cerca de 11%, sendo de esperar a manutenção desta tendência até ao final do ano, melhorando ligeiramente face a nossa previsão anterior de -12%.
Dividindo o PIB em Despesa Interna em Produtos Internos (DIPI), o que se “consome” internamente da nossa produção, e Despesa Externa em Produtos Externos (DEPI), o que se “consome” externamente da nossa produção, temos a seguinte variação.
A DIPI apresenta um forte crescimento que atinge 13,4% em valor acumulado a Setembro, mas as “exportações” decrescem 38,1% no mesmo período, determinando a queda global de 11% dos rendimentos.
O valor per capita desce, em termos homólogos, -13,2%, com uma variação acumulada ao 3.º Trimestre de -13,5% e de -13,4% face à média de 2022. Em termos simples, o rendimento médio dos angolanos reduziu-se em cerca de 13,5%, sendo de esperar a manutenção desta tendência até ao final do ano de 2023.
“Consumo”. O “consumo” per capita, foi medido pela soma da despesa interna de produtos internos com as importações de bens e serviços, deflacionada da inflação mundial, excluindo apenas os bens de investimento e os serviços às petrolíferas (incluímos a construção no “consumo”). O valor trimestral foi depois dividido pela população estimada pelo INE e por 3 (para se obter o “consumo” mensal).
Observe-se a figura 1. Este indicador sobe de 240 para 282 USD até ao 4.º Trimestre de 2022, caindo depois para 210 USD mensais, com o mínimo da série no 3.º Trimestre de 2023. A variação mostra uma subida nos 4.º Trimestre de 2022 e 1.º de 2023, de 9% e 2% face ao período base, respectivamente, mas, com a crise cambial, uma queda abrupta de 17- 19%, bastante mais acentuada do que a do PIB per capita deflacionado, provavelmente relacionada com a necessidade de destinar uma boa parte das exportações ao pagamento da dívida, porque a variação do investimento é residual nestas análise.
Este parece ser um bom indicador da variação do nível de vida dos angolanos, que, nos últimos 2 Trimestres se reduz perto de 18% face ao início da legislatura!
(*) Cinvestec.com