A conquista da Independência Nacional (a 11 de Novembro de 1975) era uma questão existencial para o povo angolano e um meio para se alcançar a construção de uma sociedade de paz, justiça, progresso social e prosperidade. Esta afirmação foi feita pelo ministro de Estado e Chefe da Casa Civil do Presidente da República, Adão de Almeida, durante a cerimónia de lançamento do Programa Oficial das Comemorações dos 50 Anos da Independência Nacional.
Por Orlando Castro
No seu discurso, o ministro de Estado referiu que o percurso da proclamação da Independência Nacional até “aos nossos dias não foi linear. Tivemos de enfrentar vários desafios, tanto no plano interno, quanto no plano internacional”.
Adão de Almeida realçou que a bravura, a determinação, o patriotismo e, sobretudo, o espírito de perdão fizeram com que a guerra desse lugar à paz definitiva e a desavença cedesse espaço à reconciliação… desde – é claro – o MPLA se eternizasse no Poder.
Hoje, sublinhou, a política é feita nas instituições, pela força dos argumentos e não nos campos de batalha. A guerra deixou de ser um meio de continuação da política. Será, quiçá, por isso que o MPLA reserva para si a exclusividade da razão da força, deixando para os outros a força da razão.
“Conseguimos sempre manter, mesmo nos momentos mais difíceis, os mais altos valores da nossa pátria. O solo angolano continua uno e indivisível. A unidade nacional é um valor de que não abdicamos. Somos um só povo e uma só nação!”, declarou o ministro de Estado e Chefe da Casa Civil.
Durante o acto, testemunhado por auxiliares do poder executivo, corpo diplomático, líderes de organizações nacionais e internacionais, bem como figuras proeminentes da sociedade civil, Adão de Almeida referiu que, de 1975 para cá, inúmeras foram as transformações ocorridas em Angola em todos os domínios da vida.
A população aumentou de cerca de 6,5 milhões para cerca de 35 milhões. A taxa de alfabetização cresceu de cerca de 5 por cento para cerca de 76 por cento, sustentou.
“Graças ao empenho e ao trabalho abnegado de milhões de filhos da nossa terra ao longo dessas cinco décadas de Estado independente, temos sabido encarar os desafios, reconhecer os nossos erros e nunca desistir de acreditar e de trabalhar para a construção de um futuro melhor para todos”, assinalou.
Quanto à jornada de celebração dos 50 anos da independência, que irá decorrer sob o lema “Preservar e valorizar as conquistas alcançadas, construindo um futuro melhor”, o governante exaltou que o “nós” (do MPLA) deve prevalecer sobre o “eu” (dos outros), mencionando os versos do Hino Nacional “Honramos o passado e a nossa história / Construindo no trabalho um homem novo”.
Durante as celebrações que encerram no dia 31 de Dezembro de 2025, várias figuras vão ser homenageadas, fruto do seu contributo em prol da conquista da independência, sua preservação, salvaguarda da integridade territorial, alcance da paz e da reconciliação nacional e do desenvolvimento de Angola.
O acto central das celebrações vai acontecer em Luanda, no dia 11 de Novembro de 2025, na Praça da República, contígua ao Memorial do genocida que mandou assassinar milhares e milhares (talvez 80 mil) de angolanos nos massacres de 27 de Maio de 1977, António Agostinho Neto.
Em Novembro do ano passado, Adão de Almeida afirmou, em Saurimo, Lunda-Sul, que Angola tem tudo “para ser uma terra de oportunidades para todos”, onde cada angolano pode realizar o seu sonho. É uma meia verdade. Angola tem tudo, mas os angolanos nada têm. Basta ver, por exemplo, que temos mais de 20 milhões de pobres e cinco milhões de crianças fora do sistema de ensino.
Ao discursar no acto central do 48º aniversário da troca de colonialistas – saíram os portugueses e entraram os do MPLA – em representação do Presidente (não nominalmente eleito) general João Lourenço, igualmente Presidente do MPLA e Titular do Poder Executivo, Adão de Almeida continuou a gozar com os escravos, defendendo que se continue a investir numa sociedade de valores e de princípios, onde o bem comum esteja acima dos interesses dos indivíduos, se proteja o património público, respeite os poderes democraticamente instituídos, em que se promova a boa gestão da coisa pública e se combata com firmeza a corrupção.
“Angola que estamos a construir para as actuais e futuras gerações é também uma pátria solidária que não deixa ninguém para atrás, que promove e valoriza o papel da mulher e capaz de assegurar a inclusão e o bem-estar dos mais vulneráveis”, sublinhou a criatura dando razão aos que o chamam de Anão de Almeida e bobo da corte (bobo: “Indivíduo que faz parte da corte dos reis e do pessoal dos nobres, para os divertir fazendo figuras ridículas”).
O ministro de Estado afirmou que qualquer angolano que se sinta patriota deve assumir o compromisso de respeito ao passado e honra ao 11 de Novembro.
Adão de Almeida exortou, igualmente, os angolanos a uma visão acertada no presente e compromisso inquebrável para com o amanhã, garantindo ser o que a Pátria exige de cada um dos seus filhos, bem como o que se espera de qualquer patriota. “Ter compromisso com a pátria é honrar o 11 de Novembro”, disse.
A história de Angola, frisou, regista com orgulho o momento fundacional em que, a partir da praça da Independência, “na voz do saudoso Presidente Agostinho Neto” (o único herói nacional que o MPLA permite e, igualmente, o genocida que mandu assassinar cerca de 80 mil… angolanos nos massacres de 27 de Maio de 1977), foi anunciado o feito, perante a África e o Mundo. Relembre-se que a Independência também foi declarada no Huambo por Jonas Savimbi e Holden Roberto.
Compreende-se que o bobo da corte desconheça a história porque nasceu dois anos depois de o assassino Agostinho Neto ter ordenado os massacres, tendo a sua mãe a sorte de não ter sido envolvida na matança.
Voltemos ao “nosso” Adão. O ministro de Estado assinalou a concretização de um sonho há muito esperado, sublinhando que, em face disso, “honraram-se as vidas” que muitos compatriotas “doaram às nossas causas”, bem como “deu-se significado ao sangue derramado” pelos valorosos combatentes.
Adão de Almeida lembrou que, na altura, a Independência era um fim, mas também um meio, tendo justificado que era importante sermos independentes para nos livrarmos da opressão, termos dignidade e sermos “donos do nosso próprio destino”. Destino que, ao fim de 49 anos sempre nas garras do MPLA, fez com que Angola tenha hoje mais de 20 milhões de pobres.
“Mas também era necessário sermos independentes, para construirmos uma Angola próspera para todos os seus filhos, capaz de promover o progresso e o bem-estar dos angolanos”, acrescentou, socorrendo-se, a seguir, de uma frase de Agostinho Neto, proferida no discurso proclamador, segundo o qual “a nossa luta não termina aqui. O objectivo é a independência completa do nosso país, a construção de uma sociedade justa e de um homem novo”. E como Adão de Almeida só lê o que lhe mandam ler…
Quarenta e nove anos depois, Adão de Almeida diz que faz todo o sentido enaltecer as páginas douradas que registam para todo o sempre a bravura e a resistência dos nossos antepassados que, tendo suportado cinco séculos de dominação colonial, não deixaram de sonhar com a liberdade e a autodeterminação.
Citou, a título de exemplo, os incontornáveis Ngola Kiluanji, Njinga Mbandi, Ekuikui, Mandume, Mutu Ya Kevela, que “ousaram não se conformar com a ocupação colonial, tão-pouco com o estatuto insignificante”, imposto aos seus povos e travaram duras batalhas pela sua dignidade. O ministro de Estado disse, ainda, que a história de resistência de Angola ensinou que o seu povo “não desiste dos objectivos”, nem nos momentos mais difíceis ou perante os mais fortes dos adversários. E quando não estão de acordo com os donos dos actuais escravos já sabem qual é a sentença – peixe podre, fuba podre, panos ruins e porrada (ou tiros) se refilarem.
Na visão de Adão de Almeida, após a conquista da Independência, os angolanos precisavam acabar com o conflito interno, tendo ressaltado o ano de 2002 como tendo sido marcante, ao trazer consigo a segunda maior conquista, enquanto angolanos.
E, nesse aspecto, o ministro de Estado realçou o mérito do processo “exemplarmente conduzido pelo Presidente José Eduardo dos Santos”, que culminou com a reconciliação entre irmãos da mesma pátria.
“Hoje, somos independentes e estamos em Paz. No dia 4 de Abril de 2002 a chama da esperança reacendeu e os sonhos da Independência ressuscitaram”, regozijou-se.
Da forma mais dura possível, continuou Adão de Almeida, a história ensinou-nos que a estabilidade é melhor do que a instabilidade, que a união é melhor do que a divisão, que somos um só povo e uma só nação e que a única opção disponível é caminharmos juntos, construirmos Angola juntos… desde que tudo isso aconteça sob a égide do MPLA.
Adão de Almeida apelou, ainda, para a necessidade imperiosa de se valorizar e preservar os benefícios da Independência, da paz e da estabilidade, como desafios permanentes e bens inestimáveis, alertando para os cenários de conflitos que assistimos em vários pontos do mundo.
“É uma questão de respeito para com o nosso passado e para com a nossa história”, sustentou, admitindo, de seguida, que os desafios do nosso tempo não se esgotam aí, dado o facto de que temos que pensar na Angola que queremos nos próximos 51 anos, sendo que o objectivo do MPLA (para além de já ter atingido o primeiro lugar do ranking dos partidos com mais corruptos por metro quadrado) é festejar o centenário de governação ininterrupta.
O ministro de Estado desconstruiu o lema escolhido para as celebrações da nossa Dipanda (Unidos pelo desenvolvimento de Angola) esclarecendo que não podia ser mais feliz a opção, em virtude de apelar para a compreensão da relação entre a união e o desenvolvimento, “porque todos somos poucos para construirmos a Angola que sonhamos”, com a proclamação da Independência.
“Porque só unidos seremos capazes de enfrentar os desafios do presente e do futuro e colocar o nosso país no lugar que merece na arena mundial”, assegurou.
Adão de Almeida sublinhou que os sonhos da Independência impõem ao país continuidade nos investimentos ou, para que tenhamos mais e melhor educação, as crianças e jovens sejam mais competitivos (cinco milhões estão fora do sistema de ensino) e possam estar à altura dos desafios dos seus tempos, nem que para isso tenham aulas debaixo de árvores e sentados no chão.
Os grandes desafios, segundo Adão de Almeida, passam por investir na saúde dos angolanos (indo os dirigentes tratar-se no estrangeiro), uma aposta que, na sua óptica, tem surtido os resultados esperados, confirmado pelos feitos dos últimos anos e as perspectivas para os próximos.
E como os números não mentem (quando são favoráveis ao MPLA) e ajudam a dissipar dúvidas, o ministro de Estado recorreu a eles para explicar que a esperança média de vida aumentou 4 anos, a mortalidade de crianças menores de 5 anos baixou substancialmente e o acesso aos cuidados primários de saúde triplicou. É claro que Adão de Almeida não tem números dos milhões de angolanos que continuam a aprender a viver sem comer ou, por exemplo, das crianças que são geradas com fome, nascem com fome e morrem pouco depois com… fome.
“O Serviço Nacional de Saúde conta com 3.325 unidades sanitárias e o número de camas de saiu de 13.426, em 2017, para 37.808, no ano passado. Só na última legislatura ingressaram para o serviço público de Saúde 41.093 novos profissionais”, constatou. É obra! Mesmo assim, nada melhor para tratar uma bitacaia do que os dirigentes do MPLA irem a hospital público de… Lisboa ou de Madrid, não é ministro Adão de Almeida?
A pensar no futuro, Adão de Almeida defendeu que se deve continuar a investir na melhoria das infra-estruturas necessárias ao desenvolvimento harmonioso do território nacional, sugerindo que a mesma se faça “através da reconstrução e da construção das estradas necessárias” (tal como faziam os portugueses antes de doarem Angola ao MPLA?), para assegurar a conectividade entre as diferentes regiões do nosso vasto território.