O jornal Gulf Times, do Qatar, publicou este mês um suplemento sobre Angola, em que apresenta o reino nas mais variadas dimensões, com realce para os aspectos económicos, diplomáticos, turísticos, culturais e desportivos. Faltou espaço para falar do país real, dos 20 milhões de pobres, das lixeiras onde se alimentam milhões e angolanos…
O suplemento, conta a (pudera!) Angop, baseado em matérias publicadas numa revista produzida, em inglês, pela Embaixada de Angola (rabo escondido com gato de fora!) no Qatar, em associação com o jornal Gulf Times, refere que o Executivo aprovou, recentemente, a Estratégia de Longo Prazo ANGOLA – 2050, que assenta numa economia diversificada e próspera, com ênfase nos sectores da agricultura, pecuária, pesca, indústria transformadora, recursos minerais e turismo, para gerar empregos e renda sustentável para as famílias.
Sem limites na publicidade (enganosa) e na propaganda, indica que para o relançamento da agricultura e a diversificação da economia, o governo apostou fortemente na captação de investimento estrangeiro, seja público como privado, com vista a catapultar o desenvolvimento multifacetado do país, com reflexos na melhoria da qualidade de vida dos angolanos.
No domínio diplomático, a publicidade/paga (se preferirem, na publireportagem) ressalta que o Presidente João Lourenço tem priorizado activamente a promoção da paz e estabilidade no continente africano e globalmente, e que, na sua qualidade de Campeão da União Africana para a Paz e Reconciliação em África, tem efectuado numerosas deslocações ao exterior e promovido reuniões em Angola, como parte da sua agenda diplomática.
“Fruto do seu empenho nessa vertente, o Presidente tem conquistado a simpatia e o encorajamento de parceiros para a prevenção e resolução de conflitos em África, valendo-se da sua experiência nacional e liderança, no quadro da hoje reconhecida “Doutrina Angolana de Resolução de Conflitos”, salienta a publicação com o típico conteúdo da subserviência comprada e que, aliás, deveria acrescentar que o MPLA fez muito mais em 50 anos do que os portugueses em 500…
No plano turístico (como em todos os outros), o Governo comprou a “assinatura” da publicação e esta escreveu no suplemento que a promoção do turismo é uma das prioridades do Executivo, que tomou várias iniciativas, como a medida de isentar cidadãos de 98 países de vistos de turismo para entrada em Angola, o que permitiu uma maior dinamização da actividade turística no país.
Relativamente à cultura, o MPLA escreve que o longo período de guerra que Angola viveu antes e depois da independência nacional não foi capaz de destruir a ancestralidade de uma nação, tendo mostrado ao mundo o seu potencial cultural ao organizar aquela que é até hoje considerada a maior festa da cultura nacional, o Festival Nacional de Cultura (FENACULT), na década de 1980.
Quanto ao desporto, realça que Angola já mostrou ao mundo o seu potencial desportivo, mormente nas modalidades colectivas como o futebol, basquetebol e andebol, mas também nas disciplinas individuais, nos últimos anos.
Mas o andebol e o basquetebol são, sem dúvidas, as modalidades que mais sucesso conseguiram a nível continental, em particular, e mundial, em geral.
A publicação também vendeu espaço para dizer que o novo Aeroporto Internacional de Luanda – “Dr. António Agostinho Neto”, considerando que tem potencial para impulsionar o crescimento do transporte aéreo nacional e internacional, beneficiando perto de 415 milhões de pessoas e contribuindo para o aumento do turismo e a captação de investimento estrangeiro para Angola, bem como promover a imagem do país no mundo.
A 3ª edição da Bienal de Luanda – Fórum Pan-Africano para a Cultura de Paz, realizada na capital angolana, de 22 a 24 de Novembro de 2023, também mereceu menção do suplemento, ao considerar que a mesma privilegiou a partilha de visões sobre a cultura de paz, segurança, cidadania africana, democracia, edificação de sociedades mais pacíficas, transformando atitudes e abordagens nos domínios político, económico e social, para o fortalecimento dos pilares do crescimento integral de África.
A revista em que se baseou o Gulf Times para produzir o suplemento apresenta várias outras facetas de Angola, como o clima, fauna, flora, entre outras informações úteis.
Na nota de abertura, o embaixador de Angola no Qatar, António Coelho Ramos da Cruz, refere que desde o estabelecimento das relações diplomáticas entre os dois países, em 2006, cultivou-se uma relação marcada por valores partilhados, compromissos de alto nível e uma cooperação frutífera em vários domínios.
“A visita oficial a Doha do Presidente da República de Angola, João Lourenço, em Setembro de 2019, foi um marco significativo, sendo que, durante esta visita, foram assinados vários acordos de cooperação, lançando as bases para uma parceria bilateral robusta”, escreveu o embaixador.
Vejamos, a propósito do Dia Mundial do Turismo 2023 , a narrativa da Angop: “Com uma tacada rente ao relvado, o Presidente da República, João Lourenço, abriu o torneio internacional de Golfe que se disputou no Campo dos Mangais, Barra do Kwanza”.
Na verdade, nada escapou ao jornalista da Angop. Atentemos: “Segurando o taco com as duas mãos, o Chefe de Estado bateu na bola meio em força que percorreu o espaço em direcção ao buraco -1, abrindo o evento ímpar no país, enquadrado no “Fórum Mundial do Turismo”.
Já agora, continuemos com o texto integral da Angop: “A prova conta com a participação de mais de 50 atletas em representação dos países da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC), Reino Unido, Japão e Turquia.
Além da componente desportiva, Angola busca, com o “Presidential Golf Day”, a interacção entre homens de negócios visando parcerias no âmbito do programa do Executivo de diversificação da economia nacional.
Após a abertura da competição, João Lourenço, acompanhado da Primeira-dama, Ana Dias Lourenço, da Ministra da Juventude e Desportos, Ana Paula do Sacramento Neto, e do Turismo, Ângela Bragança, inaugurou a escola de equitação do clube Mangais”.
O presidente do Fórum Mundial do Turismo, Bulut Bagci, almoçou no dia 12 de Março de 2019, à beira mar, em Luanda. Ementa? Talvez trufas pretas, caranguejos gigantes, cordeiro assado com cogumelos, bolbos de lírio de Inverno, supremos de galinha com espuma de raiz de beterraba e queijos acompanhados de mel e amêndoas caramelizadas, e bebendo de Château-Grillet 2005. Com ele estavam os nossos anfitriões, vestindo – é claro – Hugo Boss, Ermenegildo Zegna e usando relógios de ouro Patek Phillipe e Rolex…
“Que grande, enorme, maravilhoso é este país”, terá pensado (e bem) Bulut Bagci. Vai daí não esteve com meias medidas. Anunciou que o Fórum Mundial do Turismo iria investir nos próximos anos 1.000 milhões de dólares (870 milhões de euros) para apoiar o desenvolvimento do sector turístico em Angola.
Ali bem perto estavam alguns dos 20 milhões de angolanos pobres que subsistem quando encontram nas lixeiras peixe podre, fuba podre, panos ruins e porrada se refilarem. Mas esses não contam. São apenas uma espécie menor de angolanos…
O anúncio foi feito à imprensa no final do “Breakfast Meeting”, alusivo ao “Presidential Golf Day – Angola 2019”, evento que antecedeu a realização do Fórum Mundial de Turismo, que Luanda acolheu em Maio de 2019.
“Ao longo dos próximos anos, o Fórum Mundial do Turismo vai investir 1.000 milhões de dólares no sector do Turismo em Angola, cujo destino será definido durante os trabalhos do Fórum a realizar em Angola”, afirmou Bulut Bagci, acrescentando (depois de um discreto arroto a caviar) que, nas reuniões que manteve com as autoridades angolanas, ficou decidido que o investimento iria obedecer ao Plano de Desenvolvimento do Turismo Nacional, integrado, por sua vez, no Plano de Desenvolvimento Nacional (PDN) 2918/22.
O presidente do Fórum Mundial de Turismo esteve em Luanda em Fevereiro (2019), e foi recebido, na ocasião, pelo chefe de Estado, João Lourenço, bem como pelo Presidente do MPLA (João Lourenço) e pelo Titular do Poder Executivo (João Lourenço), tendo considerado que Angola tem grandes potencialidades no sector do Turismo e indicado que a realização do fórum na capital ira trazer oportunidades de investimento para os sectores da construção, transportes e na criação de empregos.
Por outro lado, Bulut Bagci assinou com a então ministra do Turismo, Ângela Bragança, um protocolo de cooperação destinado a atrair investimento e impulsionar o turismo nacional.
Na ocasião, Ângela Bragança disse tratar-se de um acordo de parceria com a organização que detém a marca, onde estão definidas as responsabilidades do Fórum Mundial de Turismo e do ministério que tutela.
Segundo a ministra, o evento, em que estimava a presença de 1.500 delegados, “envolve uma máquina organizativa e logística forte”, pelo que os responsáveis do sector em Angola estavam a desenvolver o trabalho necessário para mostrar o potencial turístico do país.
O “Presidential Golf Day” é uma iniciativa mobilizadora que presta um tributo aos esforços para atrair investimentos multi-sectoriais para a economia e promover oportunidades de negócios, com particular realce a dinamização do turismo.
A então ministra considerou que o “Presidential Golf Day – Angola 2019” e o fórum apresentam-se como uma “excelente oportunidade” para fechar negócios e conhecer melhor o potencial turístico de Angola.
Segundo Ângela Bragança, o sector estava já a gerar sinergias com outras áreas da esfera económica, dado a transversalidade que apresenta, pois, com a prática do golfe, podem-se unir-se várias valências, “como turismo, desporto, saúde, ambiente saudável, parceria e negócio, amizade e desenvolvimento”.
Ângela Bragança disse que, com o evento, que terá um carácter anual, “abre-se uma oportunidade para o turismo do golfe como um nicho do mercado bastante promissor”.
“O golfista tem como característica o desejo de viajar e, neste ponto, Angola apresenta vantagens pela diversidade de clima, paisagens, topografia e belezas naturais”, sublinhou.
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