MPLA IGNORA O POVO ANGOLANO. E OS EUA TAMBÉM!

Estudantes angolanos defenderam hoje que o Presidente norte-americano, Joe Biden, deve visitar Angola com “boas intenções” para ajudar a desenvolver o reino que o MPLA (des)comanda há 49 anos, considerando que as “boas relações” entre Luanda e Washington devem continuar a crescer.

Centenas de estudantes de instituições públicas e privadas participam na segunda edição da Feira dos Estados Unidos da América (EUA) 2024, que decorre no Memorial (genocida) António Agostinho Neto, em Luanda, e alguns enalteceram as relações de cooperação entre os dois países.

A iniciativa da Embaixada dos EUA em Luanda congrega várias exposições de empresas e universidades norte-americanas, que apresentam aos estudantes as oportunidades de emprego e formação, e também instituições angolanas.

Atentos às exposições e palestras sobre como trabalhar com negócios americanos, roteiro do visto para estudante e programas de intercâmbio da embaixada, os estudantes falaram sobre a importância da feira e da visita de Joe Biden a Angola, prevista para a primeira semana de Dezembro.

“A relação [entre Angola e os EUA] tem vantagens, acho que durante os anos vai ter mais estudantes angolanos a irem para as universidades americanas e vai ajudar para agregar mais conhecimento”, disse à Lusa a jovem estudante do Colégio Angolano Talatona (CAT) Bibiana Arcanjo, que espera concluir a formação superior nos EUA.

Érica Fontes, também estudante do CAT, aplaudiu a iniciativa da embaixada americana em manter os estudantes em contacto com a realidade norte-americana, a qual, defendeu, deve concorrer para a melhoria, no futuro, da economia de Angola.

A jovem considerou que a feira indicia as boas relações entre os dois países e que, “se continuar a crescer (…), só vai melhorar e trazer mais benefícios” para Angola.

“Se Joe Biden vier cá com boas intenções de ajudar e estabelecer novas parcerias para desenvolver o país, será bem-vindo, agora se for apenas por um passeio não será bom para nós”, afirmou.

Entre os estudantes que lotaram o principal auditório do Memorial em homenagem ao primeiro Presidente de Angola, único herói nacional permitido pelo MPLA e genocida responsável pelos massacres de 27 de Maio de 1977 onde forram assassinados milhares de angolanos (talvez 80 mil), estava Aguinaldo Leal, presidente da Associação dos Estudantes do Colégio 7 Saberes, que definiu a iniciativa como “encontro de criatividade e de intenção de progredir”.

Aguinaldo Leal entende que as relações entre Angola e os EUA “são muito boas”, sobretudo devido aos apoios do gigante americano a Angola, classificando a feira como “um ganho muito importante para os estudantes”.

Sobre a visita de Joe Biden, remarcada para a primeira semana de Dezembro, o líder estudantil disse que o país deve recebê-lo de “braços abertos”, acreditando que esta será histórica e trará “novas oportunidades e soluções” para os problemas de Angola.

“Esperamos muita mudança, um Presidente norte-americano em Angola vai ficar na história, porque é um Presidente poderoso e vindo para Angola significa que está em busca de novas oportunidades e soluções para os nossos problemas”, concluiu o estudante.

A Feira dos Estados Unidos da América 2024 (US FAIR, na sigla inglesa) decorre sob o lema “Construindo Pontes para o Futuro: Potencializando Oportunidades”.

Em 2019, um decreto aprovado pelo Presidente general João Lourenço, afirmava que Angola iria enviar, anualmente, 300 licenciados para “as melhores universidades do mundo”, iniciativa governamental que iria permitir aos estudantes angolanos “beneficiarem do contacto com as experiências formativas e científicas e dos efeitos da aprendizagem em contexto de alta exigência”.

O programa integrava a Estratégia Nacional de Desenvolvimento de Recursos Humanos, do Programa Nacional de Formação de Quadros (PNFQ) e o Programa de Emprego e Formação Profissional, nos quais estavam previstas acções direccionadas a “assegurar a formação e qualificação de recursos humanos que correspondam às necessidades de desenvolvimento do país”, ficando a sua coordenação a cargo do ministro de Estado do Desenvolvimento Económico e Social e a sua execução pelo Ministério do Ensino Superior, Ciência, Tecnologia e Inovação.

Segundo o decreto presidencial, o Estado deveria identificar as “melhores instituições de ensino superior e de investigação estrangeiras, com o apoio das embaixadas angolanas”.

Abrangidos por este programa estariam angolanos a residir em Angola que tenham obtido mérito académico e angolanos no estrangeiro que frequentassem uma pós-graduações em instituições de ensino superior de referência e não fossem beneficiários de bolsa de estudo por parte do Governo.

Além da nacionalidade angolana, os interessados deviam corresponder a um conjunto de requisitos, como ter até 30 anos, no caso de mestrado, ou 35 anos, no caso de doutoramento, ter completado o grau académico anterior àquele em que pretendem ingressar, uma média igual ou superior a 16 nos níveis académicos precedentes e, no caso dos candidatos do sexo masculino, ter a situação militar regularizada.

Aos candidatos seleccionados seria concedida uma bolsa de estudo de acordo com os critérios de candidatura para as despesas no país de acolhimento. “Complementarmente, os bolseiros seleccionados receberão um subsídio anual de mil dólares, para o nível de doutoramento, e de quinhentos dólares para o nível de mestrado, para o desenvolvimento da investigação científica e participação em eventos científicos e para a apresentação dos resultados da investigação”, lê-se no documento, que apontava que o pagamento referente à inscrição, matrícula e propinas seria feito “directamente à instituição de ensino”.

“Elaborou-se uma estimativa de orçamento anual para 300 estudantes, multiplicando-se o valor por cinco anos, para o cumprimento da totalidade do programa, orçando em 10.930.555.382,50” kwanzas (cerca de três milhões de euros). Além deste valor, o Executivo calculou um valor anual de 200.000 dólares (cerca de 176.500 euros) destinados à componente da investigação científica e para a participação em eventos científicos.

A par de mais faculdades no país

O Governo do MPLA (o único que Angola conheceu desde que se tornou independente, em 1975) assumiu a promessa de construir sete novas faculdades públicas até 2022 e elevar a mais de 33.000 o número de estudantes que anualmente saem formados das instituições de ensino superior do país.

A pretensão (promessa, demagogia) consta do Plano de Desenvolvimento Nacional (PDN) 2018-2022, aprovado pelo Governo e contendo um conjunto de programas com a estratégia governamental para o desenvolvimento nacional na anterior legislatura.

Especificamente para “melhorar a rede de instituições de ensino superior”, o PDN incluiu um programa para “permitir o crescimento de cursos e de pós-graduações”, além de “melhorar a qualidade do ensino ministrado”. Nem mais nem menos. Vale tudo.

“Evidencia, ainda, a importância que o Executivo atribui ao desenvolvimento da investigação científica e tecnológica, nomeadamente através da carreira de investigador”, sublinha o plano elaborado pelo Governo do MPLA para os próximos anos e que, neste como noutros sectores, prometeu fazer até 2022 o que o MPLA não conseguiu fazer em 49 anos de independência. Nada de novo, portanto.

Frequentavam o ensino superior em Angola em 2017 cerca de 255.000 estudantes, um aumento de 5,6% face ao ano anterior, distribuídos por 24 universidades públicas e 41 privadas, segundo dados oficiais.

Entre as metas deste programa estavam a formação, até 2022, de mais de 33.000 graduados em cada ano, bem como a abertura de sete novas faculdades, nove institutos e quatro escolas superiores, no mesmo período.

Estava também previsto o apoio para formação de 772 novos mestres e 125 novos doutores, no exterior, até 2022, bem como a capacitação de 1.500 docentes universitários.

O Governo do MPLA queria ainda – de acordo com o seu calendários de promessas – 40 novos investigadores doutorados nas áreas da ciência e tecnologia e 300 projectos de investigação científica e tecnológica financiados até 2022, bem como financiar a reabilitação e apetrechamento de 26 laboratórios de investigação científica em Instituições de Ensino Superior.

A atribuição de “pelo menos” 6.000 bolsas de estudo a estudantes universitários, a construção de seis reitorias universitárias e a implementação da Academia de Ciências de Angola eram outros dos objectivos do Governo assumidos no PDN.

O objectivo passava, desde logo, por “aumentar o número de graduados no ensino superior, em especial em áreas de formação deficitária”, mas também “dotar o corpo docente nacional com maiores níveis de qualificação”, para “melhorar a qualidade do ensino superior em Angola”.

Se João Lourenço manda dizer…

O Executivo iria dotar (diz) o Sistema Nacional de Ciência e Tecnologia e Inovação de um mecanismo de financiamento para que as instituições e actores singulares pudessem candidatar-se à execução de projectos, acções e actividades de suporte ao Plano de Desenvolvimento Nacional 2018-2022, anunciou o Presidente da República, general João Lourenço.

Se cumprirem (só) metade das promessas… Angola será um excelente país.

João Lourenço adiantou (26 de Fevereiro de 2018 em Saurimo) que a falta deste mecanismo de financiamento tem sido um dos maiores constrangimentos da prática da investigação científica em Angola, onde se verifica uma falta gritante de quadros altamente qualificados e com experiência comprovada.

Fica bem, de vez em quando, ser também o Titular do Poder Executivo a “inventar” a pólvora. E para constatar o óbvio não é necessária muita investigação científica. Basta olhar para o que o MPLA prometeu ao longo de dezenas de anos e nunca cumpriu.

Recém-chegado ao poder (só lá está há quase… 50 anos) o MPLA descobriu agora (entre outras pérolas) que Angola precisa de mais qualidade nas instituições universitárias.

O general João Lourenço lembra (mas se calhar não se lembra) que o país “continua a exportar as suas riquezas em estado bruto para o exterior” (exportar para o exterior não está mal, não senhor), para depois comprar de volta os produtos transformados a preços exorbitantes. Além disso, sublinhou, a atitude contribui para dar emprego aos operários de outros países em detrimento dos angolanos.

“Precisamos de encontrar o ponto de equilíbrio entre a necessidade da formação massiva de quadros que o país precisa e o rigor na qualidade desses mesmos quadros superiores”, diz João Lourenço, para acrescentar: “Devemos encorajar e promover a cultura de premiar o mérito no ensino, o mérito no trabalho e em tudo o que fazemos”.

Ou seja, João Lourenço diz que os angolanos devem olhar para o que o MPLA diz mas não, é claro, para o que faz. Isto porque se no regime existisse de facto a cultura do mérito, muitos dos seus quadros, ditos superiores, estariam a cultivar loengos no deserto.

De acordo com o “querido líder” do MPLA, o crescimento que o país vive na construção de estradas, caminhos-de-ferro, barragens hidroeléctricas, fábricas, portos e aeroportos, hospitais e fazendas agrícolas, deve ser acompanhado de formação de quadros que possam garantir a continuidade e manutenção dos projectos. “Apesar da maior necessidade que o país tem na formação de quadros é necessário assegurar a sua qualidade a todos os níveis de ensino”, diz João Lourenço.

João Lourenço recorda (numa manifesta passagem de um atestado de matumbez aos angolanos) que o MPLA sempre estabeleceu como prioridade a educação e o ensino nos seus programas de governação, através de atribuição de bolsas de estudo para países como Cuba, Rússia, Portugal, França, Reino Unido, Itália, EUA, Nigéria e Marrocos.

“Foram milhares os quadros angolanos superiores formados em diferentes áreas do saber nesses países e que hoje contribuem para o desenvolvimento do nosso país”, disse.

Folha 8 com Lusa

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