A UNITA, o maior partido da oposição que o MPLA ainda permite em Angola, vai celebrar a 3 de Agosto o 90º aniversário do seu fundador, Jonas Savimbi, com actos políticos, desportivos, culturais, recreativos e académicos, divulgou o secretário-geral, Álvaro Daniel. No seu livro “Eu e a UNITA”, Orlando Castro cita uma frase dita no Huambo por Jonas Savimbi, em 1975: “A UNITA, tal como Angola, não se define — sente-se”.
O secretário-geral da UNITA, Álvaro Daniel, referiu em conferência de imprensa que este ano o 3 de Agosto decorre sob o lema: “Jonas Malheiro Savimbi — o Símbolo de Unidade e Coesão Interna do Partido”.
Álvaro Daniel realçou que o acto mais alto das comemorações para celebrar a vida e a obra de Jonas Savimbi vai ser marcado pelo comício que o líder do partido, Adalberto da Costa Júnior, vai realizar no município do Andulo, província do Bié.
“Durante este período, a juventude terá a oportunidade de revisitar a história de luta da UNITA e do seu líder fundador, buscando nessa trajectória exemplos de lealdade, luta, dedicação e abnegação à causa dos angolanos”, disse.
Segundo Álvaro Daniel, o primeiro presidente da UNITA vai ser sempre uma referência na política angolana, “pelos seus feitos heróicos, pela sua trajectória de um nacionalista e patriótico convicto, pelo exemplo de luta e lealdade à pátria”.
O programa das festividades prevê também uma partida de futebol para a taça Jonas Savimbi – Mwata da Democracia e uma feira cultural e de literatura com obras deixadas quer pelo fundador da UNITA quer dos que (alguns) escreveram sobre si.
O político sublinhou que o país vive “uma crise geral, que faz o quotidiano da maioria das famílias, levando milhares de angolanos a engrossarem todos os dias os grupos mais vulneráveis da população, que é hoje obrigada a procurar alimentos nos contentores de resíduos sólidos para a sua sobrevivência”.
“Sabendo que esta não é a Angola dos sonhos de Jonas Savimbi, a quadra será igualmente uma jornada de reflexão sobre Angola sonhada por si e por outros nacionalistas e patriotas angolanos”, disse.
Vejamos o que escreveu Orlando Castro, director-adjunto do Folha 8, no seu livro “Eu e a UNITA”:
«Assim a UNITA, sob presidência de Jonas Malheiro Savimbi é criada aos 13 de Março de 1966 no Muangai, província do Moxico, apresentando aos presentes o seu projecto politico baptizado de Projecto do Muangai ou Projecto dos Conjurados.
A 4 de Dezembro de 1966, Jonas Malheiro Savimbi recebe o “baptismo de fogo” no ataque ao posto colonial de Kassamba, comandado directamente por ele.
Mas foi a 25 de Dezembro de 1966 no ataque a Teixeira de Sousa que oficialmente a UNITA, sob a liderança do seu presidente, inicia a luta armada de libertação nacional. Este ataque deu à UNITA a sua personalidade política e o seu reconhecimento nacional e internacional.
De 1 a 6 de Julho de 1967, Jonas Malheiro Savimbi é detido na Zâmbia, quando fazia uma digressão no exterior do país para angariar meios para a continuação da luta, devido aos ataques que a UNITA levava a cabo ao longo do Caminho de Ferro de Benguela (CFB).
Aprisionado durante 6 dias, Jonas Savimbi, graças à intervenção do Presidente Nasser do Egipto junto do Presidente Kaunda, é exilado no país de Nasser durante nove meses, de onde regressa clandestinamente a Angola, em Julho de 1968.
Savimbi foi o único dirigente dos movimentos de libertação nacional que se encontrava no interior do país por ocasião do 25 de Abril de 1974.
Por isso, Jonas Savimbi viu-se obrigado a deslocar-se para o exterior do país com vista a procurar uma aproximação com os outros presidentes dos movimentos de libertação para estabelecerem uma plataforma de cooperação em face da realidade político-militar.
Assim, a 25 de Novembro de 1974 em Kinshasa — Zaire, Jonas Savimbi assinou a plataforma de cooperação com Holden Roberto da FNLA.
A 18 de Dezembro de 1974 assinou a plataforma de cooperação com António Agostinho Neto do MPLA, no Luso — Moxico. De recordar que as conversações com o Presidente Neto se iniciaram em Dar es Salaam, Tanzânia, em Novembro do mesmo ano e no Luso assinou-se a plataforma.
Jonas Savimbi promoveu a Conferencia de Mombaça no Quénia em que participaram os líderes dos três movimentos de libertação, onde concordaram estabelecer uma plataforma de entendimento e cooperação criando condições conducentes à negociação com a entidade colonizadora, para a Independência de Angola. Esta conferência ocorreu de 3 a 5 de Janeiro de 1975.
Por ocasião das discussões dos Acordos de Alvor (Portugal) Jonas Savimbi apresentou o texto onde defendia a multirracialidade de Angola e enriqueceu, também, os princípios referentes às eleições gerais.
Jonas Malheiro Savimbi foi signatário dos Acordos de Alvor a 15 de Janeiro de 1975 juntamente com Holden Roberto e Agostinho Neto e os seus movimentos (FNLA, MPLA e UNITA) reconhecidos como os únicos representantes do povo angolano.
Os Acordos de Alvor eram o único instrumento político-jurídico de transição do poder do regime colonial português para os angolanos, representados pelos três movimentos de libertação. Esta transição passaria por eleições livres em Outubro de 1975 e o Governo saído das eleições proclamaria a 11 de Novembro de 1975, em nome de todo povo angolano, a Independência do país.
Muito cedo o MPLA iniciou a inviabilização da aplicação dos Acordos de Alvor, excluindo do processo a FNLA e a UNITA.
Em face desse clima de violação dos acordos, Jonas Savimbi, numa tentativa de salvá-los, promoveu a 16 de Junho de 1975 a cimeira de Nakuru (Quénia) entre os dirigentes dos três movimentos para se restabelecer a paz no país antes da data acordada para a Independência.
Do ponto de vista da UNITA, o MPLA violou totalmente os Acordos de Alvor e proclamou-se como o único representante do povo angolano, adjectivando os outros movimentos de inimigos, defendendo por isso nenhum palmo de terra para esses inimigos em Angola.
Assim, a 11 de Novembro de 1975 Agostinho Neto proclama a Independência de Angola em nome do Comité Central do MPLA e não do povo angolano, diz a UNITA.
Perante esta exclusão, acrescida a máxima de que para o inimigo (UNITA) nem um palmo de terra, Jonas Malheiro Savimbi à frente da UNITA apela à uma resistência popular generalizada contra o regime monopartidário do MPLA, “apoiado pelo imperialismo russo-cubano”.
Assim, Jonas Malheiro Savimbi dirigiu a Resistência contra o expansionismo russo-cubano e o monopartidarismo, tendo angariado apoios e simpatias interna e externamente.
Em função dessa luta foi classificado pelo Ocidente como um estratega político-militar de craveira internacional e um “combatente pela liberdade”— como lhe chamou o Presidente Ronald Reagan dos EUA.
A 31 de Maio de 1991, Jonas Savimbi assinou os Acordos de Bicesse/Portugal com José Eduardo dos Santos, acordos que puseram fim à República Popular de Angola, levando o país às primeiras eleições gerais em Setembro de 1992 que, contudo, foram classificadas pela oposição de fraudulentas e não credíveis, reabrindo assim o clima de instabilidade.
A 16 de Outubro de 1992, Jonas Savimbi, em nome da UNITA, aceita os resultados das eleições para evitar o impasse e o regresso à guerra.
Mas como as “maquinações, segundo os documentos internos da UNITA, eram no sentido de voltar a impor o cenário de 1975/76, o MPLA pôs em marcha a sua estratégia de genocídio político-tribal, massacrando dirigentes e quadros, assaltando e espoliando todo o património da UNITA”.
Mesmo diante deste clima, Jonas Savimbi procurou vias de diálogo para solucionar o conflito pós-eleitoral, protagonizando variadíssimas iniciativas diplomáticas em prol da paz.
A carreira de Jonas Savimbi foi fundamentalmente a de um cidadão sensível e totalmente dedicado às causas profundas e legítimas dos angolanos. Foi também um condutor de homens cujo pensamento e acção determinaram a evolução do processo de libertação do povo de Angola e da África Austral, “tornando-o num dos patriotas mais vibrantes e empreendedores do fim do século XX”.
Jonas Malheiro Savimbi tinha uma visão clara e convicta da dinâmica da sociedade e da necessidade de se ajustar a prática política à evolução inevitável da história.
Foi ele, o único dirigente nacionalista angolano que circunscreveu nos ideais do seu movimento, aquando da sua fundação em 1966, a democracia assegurada pelo voto do povo através de vários partidos políticos. Impregnado deste valor, Jonas Savimbi lutou com ele contra o colonialismo e o exclusivismo do sistema monopartidário.
No livro “Irrepetível”, o general russo Valentin Varennikov que fez duas comissões em Angola em 1982 e 1983 integrando as forças soviéticas, faz o retrato de Jonas Savimbi. Este “episódio” é também referido por José Milhazes no seu livro “Angola ‒ o Princípio do Fim da União Soviética”:
“Político enérgico, inteligente e esperto, Savimbi, recorrendo ao seu prestígio (o seu prestígio estava ao nível do de Neto, quando estavam juntos na luta de libertação nacional), infiltrou-se em todas as províncias fulcrais, em todos os seus poros: na economia, política, organização militar, ideologia, ciência, cultura, educação.
Em cada província criou uma região militar dirigida por um comandante e um quartel-general. Levou a cabo uma mobilização e formou destacamentos armados. Equipou-os com armas, munições, equipamentos, criou centros de preparação desses destacamentos, nomeou governadores os comandantes das regiões militares que lhe eram pessoalmente fiéis.
Em toda a parte foram criadas empresas, estabelecidos contactos económicos entre as províncias. A fim de reforçar a sua imagem de dirigente e defensor dos interesses dos seus concidadãos, Savimbi dedicava-se pessoalmente à reconstrução de escolas, escrevia manuais para as classes primárias, incluindo um abecedário. Isto não podia deixar de tocar no coração dos pais, principalmente das mães: um abecedário escrito pessoalmente por Savimbi!”
“Cruzei-me com a História” é um livro escrito por Samuel Chiwale, ex-comandante-geral das FALA – Forças Armadas de Libertação de Angola, o exército da UNITA.
Sobre o presidente fundador da UNITA, mesmo que tendo sido vítima de algumas das suas injustiças, Samuel Chiwale diz:
“O Dr. Savimbi era um verdadeiro fenómeno: um intelectual de mente clara e pensamento profundo. A juntar a isso estava a sua capacidade de, diante de alguém, traçar mentalmente o seu perfil e, em função disso, recorrer ao argumento apropriado para o convencer. Diante de pessoas com esta dimensão, pouco podemos fazer a não ser segui-las. Foi isso que se passou comigo” (página 60).
Mas nem todos os que privaram com Jonas Savimbi, até mesmo alguns dos que com ele fundaram a UNITA, resistiram à força do MPLA, como recorda Samuel Chiwale: “Miguel N’Zau Puna e Tony da Costa Fernandes haviam sido comprados pelo MPLA por uns míseros milhões de dólares” (página 279).
“A UNITA foi vítima de uma política de diabolização, através de mentiras para a desacreditar e afirmar o MPLA [Movimento Popular de Libertação de Angola] como herdeiro da luta de libertação contra a dominação colonial”, afirma o general angolano, que atribui a estratégia ao próprio movimento no poder em Angola.
Exemplo disso, adianta o autor de “Cruzei-me com a História”, é a associação muitas vezes feita entre a UNITA e a antiga polícia política do Estado Novo, PIDE-DGS, chegando mesmo a afirmar-se que esta tinha participado na criação do movimento e que ambas as estruturas cooperavam durante a Guerra Colonial.
“Quem diz isso ou é maluco ou não sabe o que fala. Se cooperava, porque é que [os combatentes da UNITA] estavam no mato? É um contra-senso”, afirma.
Co-fundador da UNITA juntamente com o líder histórico Jonas Savimbi, Chiwale afirma mesmo que, antes da independência, nas áreas de maior implantação do movimento do Galo Negro — nomeadamente Bié, Malange, Cuando-Cubango e Lundas — “ninguém ouvia falar do MPLA”, identificando como movimento independentista apenas a UNITA.
Chiwale reclama que a o movimento tinha “células clandestinas” em todas as capitais de distrito antes da independência, que tinham como missão “inocular os jovens” e mobilizá-los para a luta na clandestinidade.»