HONREMOS OS JORNALISTAS PALESTINIANOS

O júri dos Prémios Pulitzer atribuiu uma menção especial ao “trabalho corajoso” dos jornalistas palestinianos que cobriram a guerra na Faixa de Gaza desde 7 de Outubro, bem como aos seus colegas mortos durante o conflito. Os jornalistas palestinianos já tinham “vencido” o Prémio da UNESCO para a Liberdade de Imprensa.

Este ano, “é reconhecido o trabalho corajoso dos jornalistas e profissionais de media que cobrem a guerra em Gaza. Em condições horríveis, um número extraordinário de jornalistas morreu no esforço para contar a história dos palestinianos e dos trabalhadores em Gaza”, segundo a organização da 108.ª edição dos Pulitzer.

Os Prémios Pulitzer, atribuídos pela Universidade de Columbia, em Nova Iorque, a trabalhos de excelência de jornalismo, literatura, teatro e música, já tinham reconhecido o trabalho dos jornalistas em guerras como a da Ucrânia ou do Afeganistão, mas foi considerado que o conflito na Faixa de Gaza, entre Israel e o grupo islamita palestiniano Hamas, vai mais longe devido ao seu eco noutras áreas.

“Esta guerra também ceifou a vida de poetas e escritores (…) Com a atribuição dos Prémios Pulitzer às categorias de Jornalismo, Artes e Letras, assinalamos a perda de testemunhos inestimáveis na linha da frente que ilustram a sofrimento humano”, de acordo com a declaração do júri.

Entre todos os prémios nas categorias jornalísticas, a guerra na Faixa de Gaza também esteve presente noutras secções, como a que homenageia o melhor do jornalismo internacional.

Nesta categoria, o prémio foi atribuído à redacção do The New York Times pela cobertura “extensa e reveladora” do “ataque letal” perpetrado por milícias do Hamas no sul de Israel, no dia 7 de Outubro, bem como pelo seu trabalho sobre “as falhas dos serviços de informação israelitas e a resposta mortal do Exército de Israel em Gaza”.

O The New York Times e o The Washington Post receberam três prémios cada por diversos trabalhos, desde a guerra no Médio Oriente à violência armada ou trabalho infantil, enquanto a agência Associated Press venceu uma das categorias de fotografia por uma série de imagens da cobertura da migração para os Estados Unidos.

O Pulitzer de jornalismo de serviço público foi por sua vez concedido à ProPublica pelas suas reportagens sobre ofertas de presentes e viagens de bilionários a juízes do Supremo Tribunal dos Estados Unidos.

Segundo o júri dos galardões, o prémio distinguiu o carácter inovador do trabalho da ProPublica, um projeto independente de jornalismo de investigação com sede em Nova Iorque, que “perfurou a espessa parede de sigilo” em torno do Supremo Tribunal, que foi forçado a adoptar pela primeira vez um código de conduta.

Os Pulitzer galardoaram os melhores do jornalismo de 2023 em 15 categorias, além de oito nas artes, cabendo a cada vencedor um valor de 15 mil dólares (13,9 mil euros).

David E. Hoffman, do The Washington Post, venceu em redacção editorial por uma série “atraente e bem pesquisada” sobre a forma como os regimes autoritários reprimem a dissidência na era digital e outro prémio foi para o colaborador Vladimir Kara-Murza, por textos escritos numa cela de uma prisão russa.

Os Pulitzer concederam ainda um prémio de reportagem nacional à equipa da agência Reuters por uma série que investigou os negócios automobilísticos e aeroespaciais do milionário Elon Musk.

A equipa fotográfica da Reuters ganhou o segundo Pulitzer do dia daquela agência pela sua cobertura do ataque do Hamas a Israel e da primeira semana da retaliação de Telavive na Faixa de Gaza.

Por outro lado, a menção especial aos jornalistas palestinianos foi acompanhada por um reconhecimento similar ao escritor e jornalista norte-americano Greg Tate (1957-2021), apontado como um ícone no ambiente mediático da cultura afro-americana.

“A sua linguagem, extraída da literatura, da academia, da cultura popular e do ‘hip hop’, foi tão influente como o conteúdo das suas ideias. As suas inovações estéticas e originalidade intelectual, especialmente na sua crítica pioneira de ‘hip hop’, continuaram a influenciar as gerações posteriores”, explicou a organização.

Os prémios são administrados pela Universidade de Columbia, que tem sido notícia pelas manifestações estudantis contra a guerra na Faixa de Gaza e o conselho dos Pulitzer reuniu-se fora das instalações no fim de semana passado para deliberar os vencedores.

Na quinta-feira, o conselho emitiu um comunicado saudando os estudantes jornalistas de Columbia e de outras universidades em todo o país pelo seu trabalho na cobertura das manifestações que se têm replicado em vários estabelecimentos de ensino superior do país.

Jornalistas palestinianos vencem Prémio da UNESCO para a Liberdade de Imprensa

No momento em que a guerra em Gaza se torna o conflito mais mortífero para os jornalistas, a UNESCO atribui aos jornalistas palestinianos o Prémio Mundial para a Liberdade de Imprensa. Sete meses após o início da ofensiva israelita no enclave palestiniano, em retaliação a um ataque do Hamas contra Israel, no dia 7 de Outubro, pelo menos 97 profissionais da comunicação social perderam a vida a “cobrir esta crise em circunstância tão dramáticas”.

“Nestes tempos de escuridão e desordem, desejamos enviar uma forte mensagem de solidariedade e reconhecimento aos jornalistas palestinianos que cobrem esta crise em circunstâncias dramáticas”, disse Mauricio Weibel, presidente do júri internacional de profissionais da comunicação social, durante o anúncio. O mundo tem “uma enorme dívida para com a sua coragem e empenho na liberdade de expressão”, acrescentou.

Na véspera do Dia Mundial da Liberdade de Imprensa, que se comemorou no dia 3 de Maio, Audrey Azoulay, directora-geral da UNESCO, destacou “a coragem dos jornalistas que enfrentam circunstâncias difíceis e perigosas” e sublinhou “a importância da mobilização colectiva para que os jornalistas, em todo o mundo, possam continuar a realizar o seu trabalho de informação e investigação”.

O secretário-geral da ONU, António Guterres, destacou o trabalho “inestimável dos jornalistas e dos profissionais da comunicação social” na cobertura da guerra em Gaza e disse estar “chocado” com o elevado número de profissionais mortos. António Guterres criticou ainda a impunidade de quem cometeu crimes contra os jornalistas, acrescentando que “a liberdade de imprensa está ameaçada”.

Pelo menos 97 jornalistas e profissionais da comunicação social – a grande maioria palestinianos – foram mortos na Faixa de Gaza desde o início do conflito, de acordo o Comité para a Protecção dos Jornalistas (CPJ) e a Federação Internacional de Jornalistas (IFJ). O Gabinete de Imprensa de Gaza contabiliza, no entanto, mais de 140 mortos, o que corresponde a ume média de cinco jornalistas por semana, escreve a Al Jazeera.

“Desde o início da guerra entre Israel e Gaza, os jornalistas têm pago o preço mais alto – as suas vidas – para defender o nosso direito à verdade. Cada vez que um jornalista morre ou é ferido, perdemos um fragmento dessa verdade”, disse Carlos Martinez de la Serna, director do programa do Comité para a Protecção dos Jornalistas (CPJ).

Volker Turk, alto Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos, também defendeu: “Quando perdemos um jornalista, perdemos os nossos olhos e ouvidos para o mundo exterior. Perdemos uma voz para os que não têm voz”.

O alto Comissário do Escritório das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH), com sede em Genebra, denunciou também a “impunidade” com que os governos estão ser enfrentados face à repressão, criminalização e ataque contra os jornalistas, numa publicação na sua conta da rede social X.

Foto: Abed Zagout-Anadolu via AFP
Folha 8 com Lusa

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