Uma das organizações ligadas aos movimentos independentistas do enclave angolano de Cabinda (no caso uma FLEC-FAC) denunciou hoje em comunicado a realização de uma operação conjunta das Forças Armadas de Angola e da República Democrática do Congo (RDCongo) para combater os seus guerrilheiros. Ontem, também uma FLEC-FAC informou que 12 militares angolanos morreram e quatro ficaram gravemente feridos em confrontos com as suas forças armadas.
No comunicado de hoje, assinado pelo secretário-geral da Frente de Libertação do Estado de Cabinda- Forças Armadas Cabindesas (FLEC-FAC), Jacinto António Télica (o de ontem era assinado pelo tenente-general João Cruz Mavinga Lúcifer), os independentistas dizem que na operação participam mais de cinco mil militares, distribuídos nas matas do Maiombe e ao longo da fronteira entre Angola e a RDCongo.
A FLEC-FAC alega que, durante a operação, hoje, na aldeia de Mbaka-Nkosi, junto à fronteira, “os soldados das Forças Armadas de Angola estupraram as mulheres sob ameaça das armas e espancaram os homens que tentavam defender as suas mulheres e filhas”.
Os independentistas reiteram a condenação às “múltiplas violações e ataques aos direitos humanos e direito humanitário em Cabinda”.
No comunicado, a FLEC-FAC condena ainda a “repressão selvagem em curso em Cabinda, perpetrada pelo regime do Presidente de Angola, João Lourenço, sobre a população do enclave” e reiteram o apelo à ONU e à União Europeia “para agirem com urgência a fim de se por termo a essa repressão e responsabilizar as autoridades angolanas” pelas “constantes violações permitindo assim a livre expressão da população” de Cabinda.
A operação militar conjunta é contextualizada pela FLEC-FAC pela “derrota militar no campo de batalha”.
A FLEC (em sentido lato e abstracto por não se saber quantas FLEC existem ) mantém há vários anos uma luta pela independência do território, de onde provém grande parte do petróleo angolano, alegando que o enclave era um protectorado português – tal como ficou estabelecido no Tratado de Simulambuco, assinado em 1885 – e não parte integrante do território angolano.
O Governo angolano recusa normalmente reconhecer a existência de soldados mortos resultantes de acções de guerrilha dos independentistas, ou qualquer situação de instabilidade naquela província do norte de Angola, sublinhando sempre a unidade do território.
Recorde.se que no dia 4 de Abril, uma FLEC-FAC anunciou um ultimato de 30 dias ao Governo angolano para retirar as suas tropas de Cabinda, findo o qual ameaça intensificar as acções militares.
Num comunicado da FLEC-FAC lê-se: “Face à intransigência do Governo angolano, com a sua postura belicista em Cabinda, as Forças Armadas de Cabinda (FAC) impõem um ultimato de trinta dias ao Governo de João Lourenço [Presidente de Angola], para retirar a totalidade das suas tropas de Cabinda”.
“Para além deste período de trinta dias, as FAC vão intensificar as suas acções militares de grande envergadura contra os invasores angolanos em todo o território de Cabinda, para fazer valer os nossos direitos”, lê-se no comunicado, que reitera que “a autodeterminação pela independência é a única solução para Cabinda”.
Neste “comunicado de guerra”, o Estado-Maior General das Forças Armadas Cabindesas (FAC) afirma ainda que os seus militares, “em operação na região de Tando-Zinze, efectuaram com sucesso duas acções contra as posições das Forças Armadas Angolanas (FAA), provocando severas baixas ao ocupante”.
“Nesta operação morreram 25 soldados angolanos e seis oficiais superiores, um coronel, um major da polícia militar, três capitães e um tenente”, revela.
As FAC terão, de acordo com o comunicado, recuperado “armamentos deixados pelos soldados angolanos das FAA”.
Recorde-se, entretanto, que em 24 de Maio de 2022, também em comunicado, desta vez assinado por Jean Claude Nzita, porta-voz de uma das várias FLEC-FAC, manifestou um claro apoio ao MPLA no caso de Cabinda. Angola estava em período eleitoral e o ataque ao líder da UNITA, Adalberto da Costa Júnior, revelou que esta FLEC estava mais interessada na lagosta do exílio dourado do que no pirão de quem sobrevive na colónia do MPLA.
“A direcção política da FLEC-FAC lamenta o posicionamento irrealista do líder político angolano Adalberto da Costa Júnior quando no seu anúncio disse que poderia conceder uma autonomia a Cabinda”, afirmou Jean Claude Nzita. Ou seja, para quem tem três boas refeições por dia é mais importante acusar quem se propõe fornecer pão todos os dias do que enfrentar os que querem, desde 1975, que os cabindas aprendam a viver sem comer.
“Presenteando Cabinda com uma ilusória autonomia Adalberto da Costa Júnior reforça o seu lugar ao lado de outros políticos angolanos que controlam ditatorialmente o país desde 1975 e que consideram Cabinda como uma inegociável colónia angolana”, afirmava Jean Claude Nzita. Ou seja, entre ser uma região autónoma ou uma colónia, esta FLEC-FAC prefere que Cabinda continue a ser uma colónia. É uma opção que, se vista com mais atenção, mostra que a própria sobrevivência desta FLEC-FAC depende de Cabinda continuar a ser uma colónia.
Dizia Jean Claude Nzita, quase parecendo subscritor de um comunicado escrito pelo Departamento de Informação e Propaganda do MPLA, que “os cabindas não mendigam por um estatuto político a ser demagogicamente presenteado como uma esmola de políticos angolanos numa busca desesperada de votos num território que recusa a ocupação por Angola”.