William Tonet recorda: «Nunca esquecerei aquele inesquecível e triste dia em que o meu algoz, António Carlos Jorge “Cajó” (na foto), num sadismo indescritível, irrompe o local onde os presos estavam a ser espancados e a esvair-se em sangue, dando-me um forte golpe, com um ferro, na parte traseira da cabeça e, no final, manda-me limpar o salão da tortura (cerca de 30 m2), coberto de sangue, com a língua. Este era o masoquismo do DISA “Cajó”, pupilo de um não menos insensível chefe; Agostinho Neto, que sem razões, por obsessão ao poder, espancava e assassinava cidadãos inocentes, como faz qualquer genocida» Este assassino foi condecorado por João Lourenço com a «Ordem do Mérito Militar, 2.º Grau».
Os grandes homens erram e, tendo elevada estatura, ética, moral e republicana, reconhecem os mesmos, penitenciando-se ante a memória das vítimas e dos governados, numa meritória e solene atitude de humildade. Um “grande homem”, diferente de “homem grande”, faz da desculpa um princípio verdadeiro, imparcial, geral e abstracto, isento de matreirice rasca! Um líder distingue-se de um dirigente, porque enquanto aquele privilegia a justiça e os órgãos de soberania fortes, este último, favorece os algozes, escondendo por debaixo do pedestal a covardia dos assassinos e atingindo as vítimas, nominalmente identificadas.
Quem tendo magistratura de gestão pública é forte com os fracos e fraco com os fortes, escrutina limitações intelectuais e retórica rasca de mediano dirigente, alcandorado ao poder, tal como o cágado, quando refastelado no topo de uma árvore.
Os assassinatos em massa, autorizados, determinados, orientados, exclusivamente, por Agostinho Neto, com a célebre e funesta Ordem Superior: “Não vamos perder tempo com julgamentos”, em 27 de Maio de 1977, em Angola, determinaram a lei da barbárie.
Foi a institucionalização do genocídio que assassinou 80.000 (oitenta mil) militantes e simpatizantes do MPLA, por delito de opinião, constituindo-se no segundo maior, depois do cometido por Adolph Hitler, durante a Segunda Guerra Mundial, em que exterminou milhares e milhares de judeus, em câmaras ardentes, fuzilamentos, afogamentos e lançamentos do ar e ao mar de adversários, tal como a Polícia Política de Agostinho Neto: DISA praticou em obediência ao presidente do MPLA/Estado.
«Eu, vítima sobrevivente desta barbárie, preso, no dia 19 de Julho de 1977, por Carlos Jorge “Cajó”, influente membro da DISA e assassino contumaz, por sinal um “ex-canoa” (preso do Campo de São Nicolau, no período colonial), obrigado a beber, face às sevícias, água de fezes, passar dias inteiros sem comer, receber espancamento sádicos, sem razão, regularmente, nunca esquecerei, este martírio, esta barbárie, este genocídio», afirma William Tonet.
Por isso, garante, “nunca pactuarei com a mentira nem polirei a imagem do maior responsável, pelo maior genocídio, em África depois da II Guerra Mundial! Ele será incapaz de ser apagado da minha memória, pelos rios de sangue, em que naveguei e vi esvaírem-se camaradas inocentes.”
William Tonet nunca aceitará a retórica de ter havido uma tentativa de golpe de Estado por parte das vítimas, nem que me invadam a mente com milhões e milhões de barras de ouro.
O 27 de Maio foi a consagração da maldade de um homem, convertido em herói, por fazer da eliminação dos adversários, o modus operandi de se manter no poder.
No 27 de Maio de 1977, não havia dois lados beligerantes, mas um: de Agostinho Neto, Lara e C.ª, quais vampiros assassinos, que sugaram o sangue de milhões, sem dó nem piedade, muitas vezes superando, pelo “modus operandi”, a PIDE-DGS-colonial e a GESTAPO de Hitler.
É uma escabrosa e monstruosa mentira alguém, no seu juízo perfeito, afirmar ter havido, em Maio de 1977, uma tentativa de golpe de Estado, por parte de um grupo de cidadãos/militantes e, por via disso, determinaram a reacção dantesca e desproporcional do governo “socialista de sanzala” do MPLA, segundo Artur Queiroz, logo, mentem! São mentirosos conscientes!
William Tonet sofreu na alma e na pele a maldade de Agostinh Neto e dos seus “Tontons Macoutes”, Cajó, Pelinganga, Veloso, Wadjimbi, Moscovo, Laborinho, Marta, Ludy Kissassunda, Onambwe, Tony Laton e tantos outros, que assassinaram e prenderam inocentes, por covardia e boçalidade mental.
Intelectualmente, Agostinho Neto e a sua equipa de algozes de A a Z, eram medíocres (será que deixaram de o ser?) e quem defende a prática de assassinatos selectivos por parte de um governo é mentecapto, por assentar a retórica, na mentira, falsidade e vampirismo ideológico.
Na política não há coincidência, pois quem rememorar os últimos actos do general João Lourenço esbarrará na homenagem à tortura e aos assassinatos sem julgamento, ao elogiar, também, a título póstumo, um outro genocida, do MPLA, Ludy Kissassunda, como um grande patriota. Francamente. É preciso haver memória e noção de que o MPLA não é Angola, nem Angola é o MPLA.
Se Ludy Kissassunda, ex-director da tenebrosa DISA, foi um grande patriota, por fazer parte de uma funesta “clique da morte”, condecorado em Diário da República, ele é, exclusivamente, herói e patriota do MPLA, enquanto este partido estiver no poder, com capacidade de esconder a motivação e verdade, sobre quem assassinou adversários internos e inimigos, por delito de opinião. Um assassino só é herói no seu covil, no seu séquito, nunca num país plural e intelectualmente higiénico, principalmente, quando ainda campeia a acção canibalesca dos algozes do 27 de Maio de 1977.
Quando, no 27 de Maio de 2021, se ouviu na RTP-África, num programa de Victor Hugo Mendes, Artur Queiroz falar, com propriedade masoquista de golpe de Estado, mortes de comandantes e civis, por parte dos alegados fraccionistas e de estes terem tido julgamentos em tribunais marciais, só nos resta a catalogação de asno, pois os seus informantes enganaram-no, são mentirosos e tornaram-no, igualmente, um mentiroso, como se fosse alguém com o cérebro ligado ao intestino grosso, um falsário, um mercenário no jornalismo.
Falar em blindados de última geração, na posse da 9.ª Brigada é colocar-se ao ridículo, pois só os mentirosos têm essa barroca retórica. Nunca, houve, naquela época, blindados de última geração, em Angola, mas o BRDM-2 e os tanques T34 e T55 e os angolanos só tripulavam os BRDM (carros de assalto) da URSS e não superavam os dos sul-africanos, nem eram uma enormidade. Eram poucos, pouquíssimos, menores que os números que tinham timbrados nas laterais. Os tanques foram utilizados, pela primeira vez, depois da independência para a libertação do Soyo, numa ofensiva saída de Caxito (Janeiro a Fevereiro de 1976) e estes, eram exclusivamente tripulados por cubanos. Só depois desta libertação, houve uma formação de militares angolanos, para domínio destas máquinas, porque até aí, só dominávamos os BRDM. No final do curso, foi nomeado como comandante, o valoroso, esse sim, herói, Mariano Eduardo João Luís, o homem que travou, com o seu BRDM-2 o tanque sul africano, em 1975, antes de 11 de Novembro. Portanto na Batalha de Kifangondo nunca participaram tanques, como está no monumento, mas BRDM-2.
É a verdade histórica!
A retórica da tentativa de golpe, surge como justificativa, para encobrir um genocídio que depois fugiu ao controlo do seu mentor-chefe, Agostinho Neto, que jurou: “Não vamos perder tempo com julgamentos”. Uma pronúncia ditatorial, genocida!
É mentira ter havido tribunais marciais militares porquanto ninguém foi julgado, senão pelas balas assassinas. Quem matou os comandantes, Nzanji, Bula, Saidy Mingas e companhia, foi Tony Laton, assessor de Onambwe.
É hora das pessoas que quiserem falar do 27 de Maio de 1977, higienizarem as línguas, como imperativo de ética, moral e verdade, pois misturar vítimas com algozes é de quem adora chafurdar na lama e subverter a história.
O MPLA não tem um programa capaz de fornecer água, regularmente, aos cidadãos, pese ter gasto milhões e milhões de dólares; Não tem escolas e hospitais públicos decentes, capazes de atenderem os cidadãos; A miséria e a fome, principalmente, no tempo de João Lourenço, superam as do período colonial; As doenças e epidemias aumentaram mais do que no colonialismo; A educação é pior do que no tempo colonial.
A justiça do MPLA é negativamente pior do que a justiça colonial, que prendia e julgava os revolucionários, muitos saindo das cadeias vivos, como Agostinho Neto, ao contrário da barbárie nas cadeias do MPLA/Estado. William Tonet estive na Cadeia de São Nicolau, com o seu pai, no tempo colonial. Lá estudou e aprendeu uma profissão, mas depois da independência, esteve preso na República Popular de Angola, no 27 de Maio de 1977, altura em que quatro membros da sua família foram injusta e barbaramente presos: Guilherme Tonet (pai); dois tios: Alberto e Fernando Tonet, ambos enterrados vivos e o próprio William Tonet. A diferença das cadeias (colonial e actual) é abismal, tal como comparar uma pocilga e uma suite, de um hotel de 5 estrelas…
Os índices de vida, todos pioraram com a chegada de Neto/MPLA, ao poder. Foi inaugurado o capitalismo incubado e a corrupção, em 1975, com a criação das “Lojas do Povo” e “Loja dos Dirigentes”, contrários à filosofia socialista. Se, em 1976 e seguintes, quisesse comer queijo, fiambre, bom azeite, bife de carne de primeira, tinha-se que comprar ou corromper um trabalhador, para que esse cedesse o cartão da Loja dos Dirigentes. Essa é a prova da corrupção se ter iniciado no tempo, sendo o subsídio milionário de Eugénia Neto, desde 1979 e, depois, os montantes guardados por Carlos São Vicente, seu genro, uma prova incontornável…
Sobre a Comissão de Lágrimas e o seu papel, ao dizer-se que Pepetela, Manuel Rui, Luandino Vieira e C.ª apenas ouviram todos os presos, tendo sugerido a sua libertação é uma mentira escabrosa, pois seria bom perguntar ao Pepetela, porque depois de ouvir o Abel António vindo de Moscovo e o Carlos, estes foram imediatamente, assassinados.
Por fim, um repto ao próprio Presidente da República. Mostrem-nos um local, uma sala, uma repartição, um quartel, uma esquadra, onde haja um buraco de bala, um arsenal de armas, uma base militar, um carro de combate, um Kamaz, em posse dos fraccionistas. Mais, se os maus invadiram a Rádio Nacional de Angola, mostrem o RM (registo magnético) de uma gravação de Nito Alves, Zé Van Dúnem ou outro, anunciando a tomada do poder, a destituição de Agostinho Neto e a instalação de um novo regime.
Sabem porque é que isso não foi feito até hoje? Porque só houve um lado que exterminou, logo tem o regime de alimentar a retórica da mentira maliciosa e cobarde, porque quem dá um golpe de Estado, ao tomar uma rádio ou televisão, a primeira coisa que faz é produzir declarações, anunciando o controlo da situação, ainda que esta venha a ser de curta duração.