DISCRIMINAÇÃO OLÍMPICA CONTRA ÁFRICA

Sou um simples cidadão da sociedade civil e, através deste artigo no jornal Folha 8, venho mais uma vez alertar os nossos políticos sobre as injustiças cometidas contra o continente africano. Será que os nossos dirigentes africanos não sabem que a África nunca realizou os Jogos Olímpicos? Por que não questionam os critérios utilizados pelas organizações internacionais que atribuem os Jogos Olímpicos? Já que nossos políticos em África não perguntam, eu tenho a liberdade a ousadia e o atrevimento de perguntar ao Comité Olímpico Internacional o seguinte: Qual foi o crime que a África cometeu para merecer tanto desprezo e humilhação!!!

Por Malundo Paca

Os Jogos Olímpicos já foram realizados em todos os continentes, excepto em África. Isso levanta questões sobre os critérios de selecção e a verdadeira inclusão dos países africanos no cenário desportivo global. A ausência de um evento olímpico no continente com uma população de cerca de 1.3 bilhões de habitantes é uma injustiça gritante que não pode ser ignorada.

Por outro lado, os nossos políticos angolanos reclamam frequentemente quando não apresentamos propostas, mas quando o fazemos, somos ignorados. Nunca recebemos um “tomei nota” ou um “obrigado por estar preocupado com essa situação”. É essencial que os nossos líderes comecem a questionar os critérios e a exigir mais transparência e justiça nas decisões das organizações internacionais. Continuarei a bombardear os nossos governantes com propostas e sugestões, não obstante reconhecer que os nossos governantes tratam o seu povo da mesma forma que o Comité Olímpico Internacional trata o continente africano, isto é com desprezo. O povo angolano está ansioso em escutar que desculpas e justificações nos serão apresentadas.

Para quando as Olimpíadas em África?

A ausência dos Jogos Olímpicos na África é um reflexo de um histórico de desigualdade e marginalização que precisa de ser corrigido. Organizar os Jogos no continente seria um passo significativo para a inclusão e reconhecimento das capacidades africanas. Mais do que um evento desportivo, seria uma celebração da resiliência, diversidade e potencial da África. É hora de o mundo reconhecer e apoiar a África na realização dos Jogos Olímpicos, promovendo assim a verdadeira essência da união e igualdade global.

A exclusão de África como sede dos Jogos Olímpicos não pode ser vista apenas como uma questão de logística ou capacidade económica. Deve ser entendida dentro de um contexto histórico de desigualdade e marginalização. Durante décadas, os países africanos foram sujeitos à colonização, exploração e subdesenvolvimento imposto, factores que dificultaram o desenvolvimento das infra-estruturas necessárias para sediar um evento de tal magnitude.

Os Jogos Olímpicos são um evento global que simboliza a união dos povos e a celebração do espírito desportivo. Desde a sua moderna reinauguração em 1896, os Jogos já foram realizados em todos os continentes, excepto em África. Este facto levanta uma série de questões sobre a igualdade e as oportunidades que são oferecidas aos diferentes países do mundo. O silêncio dos políticos africanos perante esta flagrante discriminação demonstra falta de respeito próprio. Já agora nunca é demais repetir: Quem não se respeita nunca será respeitado. Quem não se valoriza nunca será valorizado.

As organizações que atribuem os Jogos Olímpicos afirmam que os critérios incluem a infra-estrutura, a capacidade organizacional e a estabilidade política e económica. No entanto, muitos países africanos têm demonstrado progressos significativos nesses aspectos. Cidades como Nairobi, Joanesburgo, Cairo e Lagos têm infra-estrutura adequada e capacidade para sediar grandes eventos internacionais. O campeonato do mundo de futebol de 2010 na África do Sul é um exemplo de que a África pode, sim, organizar com sucesso eventos de grande envergadura.

Infelizmente, o silêncio e o desprezo com que a África é tratada em relação aos Jogos Olímpicos reflectem uma discriminação sistémica. O continente é muitas vezes visto apenas como um receptor de ajuda humanitária, e não como um parceiro capaz de contribuir para a comunidade internacional. Essa visão é antiquada e prejudicial, perpetuando estereótipos e ignorando os avanços significativos que muitos países africanos fizeram.

O que impede África de sediar os Jogos Olímpicos não é a falta de capacidade, mas a falta de vontade política e o preconceito. É hora dos nossos líderes se unirem e fazerem uma campanha forte e coesa para trazer os Jogos Olímpicos para o continente africano. Não precisamos de organizar os Jogos Olímpicos imediatamente, mas podemos liderar uma campanha para garantir que esse evento seja igualmente organizado em África no futuro.

Os nossos líderes precisam de agir e fazer ouvir as nossas vozes no cenário internacional. Como cidadão, estou a usar esta plataforma para levantar essas questões e espero que os nossos dirigentes façam o mesmo. África merece um lugar de destaque no mundo desportivo, e cabe a nós lutar por isso. África é um celeiro de talentos desportivos. Os melhores atletas nas provas de maratonas são quenianos e etíopes, também temos jogadores de futebol de elite em diversos países, isso para não falar dos atletas sul-africanos que têm deixado a sua marca em vários desportos. Sediar os Jogos Olímpicos no continente seria uma forma de reconhecer e celebrar esses talentos, inspirando a próxima geração de atletas.

África é um continente discriminado e desprezado de forma aberta, no entanto todos fingimos que está tudo bem. A exclusão de África como sede dos Jogos Olímpicos não pode ser vista apenas como uma coincidência ou resultado da falta de recursos. Há uma discriminação sistémica que impede o continente de ser considerado um anfitrião viável para eventos de tamanha magnitude.

Angola: Um potencial líder na campanha Olímpica Africana

Embora Angola possa não estar pronta para sediar os Jogos Olímpicos, o país tem um papel crucial a desempenhar na liderança de uma campanha para trazer os Jogos para o continente africano. Angola pode usar a sua influência política e diplomática para mobilizar outros países africanos e criar uma frente unida que exija maior consideração por parte do Comité Olímpico Internacional (COI). Ao liderar essa iniciativa, Angola mostraria o seu compromisso com o desenvolvimento do desporto e a inclusão de África no cenário desportivo global.

Os Jogos Olímpicos trariam inúmeras vantagens para África. Além de impulsionar a economia local através do turismo e da criação de empregos, os Jogos promoveriam a construção de infra-estrutura que beneficiaria as populações locais a longo prazo. Mais importante ainda, a organização dos Jogos num país africano seria uma poderosa declaração de igualdade e inclusão, demonstrando que África é capaz de acolher eventos de escala global com sucesso.

É hora de uma mudança. O COI e outros órgãos internacionais precisam de reconsiderar os seus critérios e dar a África a chance de brilhar. Países africanos também devem unir esforços, mostrando sua capacidade e determinação para sediar um evento dessa magnitude. A inclusão de África no rol de anfitriões dos Jogos Olímpicos não é apenas uma questão de justiça, mas também de reconhecer e valorizar o potencial de um continente que tem muito a oferecer ao mundo.

A comunidade internacional, particularmente o Comité Olímpico Internacional, tem um papel crucial a desempenhar na promoção da inclusão e da igualdade. A decisão de onde os Jogos Olímpicos serão sediados não deve ser baseada apenas em considerações económicas, mas também em um compromisso com a diversidade e a representação global. Negar a África a oportunidade de sediar os Jogos é perpetuar um ciclo de exclusão e marginalização.

O caminho a seguir: Se África deseja sediar os Jogos Olímpicos, é fundamental uma abordagem colaborativa. Os países africanos poderiam unir-se para criar uma candidatura conjunta, dividindo custos e responsabilidades. Além disso, é crucial que as nações africanas invistam em infra-estrutura desportiva e desenvolvam um plano de longo prazo para atrair grandes eventos internacionais.

Discriminação e estereótipos: Há uma percepção generalizada e muitas vezes estereotipada de que a África é um continente de pobreza e instabilidade. Essa visão simplista e discriminatória obscurece a diversidade e o potencial dos países africanos. A falta de representação de países africanos na organização de eventos globais contribui para perpetuar esses estereótipos, criando um ciclo vicioso onde África é constantemente vista como incapaz de sediar tais eventos.

Falta de lobby e influência política: Outro factor crítico é a falta de lobby e influência política dos países africanos nos comités organizadores dos Jogos Olímpicos. Historicamente, organizar os Jogos Olímpicos não é apenas uma questão de ter a infra-estrutura adequada; também envolve intensa actividade diplomática e política. Países como o Japão, China e Reino Unido, França e Estados Unidos da América têm um forte lobby internacional que facilita a obtenção dos direitos de sediar os Jogos. Em muitos casos, os países africanos não possuem o mesmo nível de influência nas arenas políticas globais. Para romper essa barreira, os líderes africanos precisam de unir forças e criar uma frente de lobby poderosa que possa negociar e promover a candidatura de uma cidade africana para sediar os Jogos.

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