O general João Lourenço, Presidente angolano, em simultâneo com o Presidente do MPA e com o Titular do Poder Executivo, garantiu hoje que pelo menos dez milhões de habitantes vão beneficiar de água potável na província de Luanda, até 2027, após a conclusão dos projectos Bita e Quilonga Grande.
Em rigor, o general João Lourenço referiu que sete milhões e quinhentos mil habitantes de Luanda vão beneficiar de água potável após a conclusão das obras dos projectos de produção e distribuição de Quilonga e Bita, o que vai elevar o acesso a este líquido a mais de 10 milhões de pessoas até 2027.
A garantia, uma das muitas do general João Lourenço, foi dada pelo Presidente da República, em declarações à imprensa, depois de uma visita efectuada esta terça-feira, 2 de Julho, à Estação de Tratamento de Água (ETA) de Quilonga, na Comuna do Bom Jesus, município de Icolo e Bengo.
Ao fim de 49 anos de governação do MPLA, o Chefe de Estado precisou que o projecto de Quilonga irá satisfazer cerca de cinco milhões de pessoas e o de Bita dois milhões e meio, que se juntarão aos actuais pouco mais de três milhões de habitantes de Luanda que já têm acesso à água potável.
“É uma diferença muito grande em relação aos actuais pouco mais de três milhões de habitantes que beneficiam de água. Portanto, vamos passar de três para 10 milhões. Será um passo, sem sombra de dúvidas, significativo”, disse.
Confirma-se a tese do general João Lourenço que o MPLA conseguiu fazer mais ao fim de 50 anos do que Portugal em 500…
Segundo João Lourenço, a partir do final deste ano, algumas zonas da cidade começarão a receber água dos projectos de Bita e Quilonga, bem como do GEPE, que fornecerá o produto às populações de várias áreas de Luanda.
“Para quem ainda não beneficia da água, uma palavra de conforto e de esperança, de que no decorrer dos próximos dois anos, paulatinamente, vamos aumentando o número de cidadãos que vão beneficiar de água”, assegurou o general, certamente lembrando-se dos 20 milhões de pobres, grande parte dos quais frequentam os lixeiras de Luanda onde, embora sem grande sucesso, aprendem todos os dias a viver sem… comer.
João Lourenço reconheceu que o rápido crescimento demográfico exerce uma pressão significativa sobre o Executivo, e acrescentou que houve um período em que a água produzida e distribuída em Luanda era suficiente, mas o aumento exponencial da população superou a capacidade de acompanhamento.
Na ocasião, o ministro da Energia e Águas, João Baptista Borges, também garantiu que os projectos de Quilonga e Bita vão duplicar a actual capacidade de abastecimento de água em Luanda, prevendo-se, com a sua concretização até 2027, a eliminação progressiva do défice de água na cidade.
Os projectos não só compreendem os sistemas de captação e tratamento de água e armazenamento, como também a extensão da rede de distribuição, principalmente para novos bairros, tendo mencionado o Zango, Ramiros e outros, que também terão água canalizada.
O ministro anunciou também a construção de cerca de mil e setecentos chafarizes em localidades em que não for possível levar água canalizada, destacando o projecto Pro Água, que visa a melhoria da eficiência e optimização da capacidade instalada, com a substituição de condutas antigas e reparação de bombas avariadas.
O projecto de Quilonga faz parte do Sistema 5 de Abastecimento de Água em Luanda, abrange uma área de serviço de 60.815 hectares e beneficia mais de três milhões de pessoas.
Com um valor contratual de 491 milhões de dólares, a produção diária de 500.000 toneladas de água tornará esta Estação de Tratamento de Água (ETA) a maior em Angola.
O projecto está posicionado para ganhar o “Luban Award for Overseas Projects” e visa tornar-se uma referência no abastecimento de água em África.
ATÉ PARA TER ÁGUA POTÁVEL A MÃEZINHA TEM DE AJUDAR
O Banco Mundial (BM) vai prestar apoio técnico ao Governo angolano destinado à busca de financiamento para o sector hídrico e prosseguir o trabalho no sentido de proporcionar o contínuo acesso da população à água. Pelos vistos, o MPLA não tem capacidade para o efeito e, por isso, tem de pedir a ajuda da mãezinha e do paizinho, ou seja do BM e do Fundo Monetário Internacional (entre outros).
A garantia foi dada pelo director de Prática Global de Água, Saroj Kumar Jha, que manteve um encontro, em Dushanbe, Tadjiquistão, com a Vice-Presidente da República, Esperança da Costa.
Em declarações à imprensa, Saroj Kumar Jha informou que BM tem apoiado Angola com um financiamento total de cerca de mil milhões de dólares, frisando que falou com Esperança da Costa sobre a possibilidade de se estenderem os projectos, olhando sempre para o acesso à água.
Sublinhou também que apesar dos progressos feitos no país a nível das populações no acesso à água e ao saneamento, ainda existem desafios que o Governo e o Banco Mundial precisam de ultrapassar para se cumprir a Agenda 2030 sobre a Água e Saneamento.
“Foi uma conversa muito interessante, relacionada com o estado de três projectos que estamos a desenvolver no país e também olhando para as perspectivas do BM em programas de apoio para a facilitação de acesso à água potável pelas populações”, avançou Saroj Kumar Jha.
Ainda sobre o financiamento, Saroj Kumar Jha frisou que tem servido para melhorar a economia, as questões relacionadas com a participação das parcerias público-privadas a nível do sector das águas e a melhoria, no geral, das condições de acesso à água potável por parte da população angolana, acrescentando que o acesso ao mercado de carbono foi também um dos temas abordados com a Vice-Presidente da República e outras questões que, enquanto BM, vão continuar a ser discutidas directamente com os representantes desta instituição financeira em Angola.
Recorde-se que Esperança da Costa deslocou-se ao Tajiquistão para participar na 3ª Conferência Internacional de Alto Nível sobre a Década Internacional de Acção “Água para o Desenvolvimento Sustentável” 2018-2028.
Na conferência foram abordadas questões como a “Água para o clima, resiliência e meio ambiente: fonte para o mar, biodiversidade, clima, resiliência e redução do risco de desastres (DRR)” e “Água para a cooperação: cooperação hídrica transfronteiriça e internacional, cooperação intersectorial, incluindo cooperação científica e água, em toda a Agenda 2030”.
Água potável? O que é isso?
Cerca de metade dos agregados familiares (47%) angolanos não tem acesso a fontes de água potável e muitas crianças passam horas a caminhar diariamente para aceder a esse líquido, segundo a UNICEF.
De acordo com o ministro da Energia e Água, João Baptista Borges, cerca de 60% da população em Angola, estimada em mais de 35 milhões de habitantes, tem acesso a água potável.
João Baptista Borges disse, em 2018, à margem do 8º Fórum Mundial da Água que decorreu no Brasil, que a principal preocupação do Executivo era aumentar a taxa de acesso nas zonas urbanas, que deveria atingir 85%, até 2023. Para a população das zonas rurais, a meta seria atingir uma taxa de 80%.
Num comunicado emitido na altura pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) em alusão ao Dia Mundial da Água, referia-se que devido à falta de fontes de água potável muitas crianças não tinham (continuam a ter) oportunidade de ir à escola.
Segundo a UNICEF, “esta jornada pode ser perigosa”, tendo em conta que os utensílios utilizados para acarretar água pelas crianças podem pesar, geralmente, cerca de 20 quilos.
“Para algumas, essa rotina diária para colectar água pode consumir suas vidas. Elas temem ataques e temem caminhar longas distâncias, e perdem a oportunidade de ir à escola ou de brincar com os amigos”, dizia o comunicado.
Em tempos de crise e de instabilidade, a UNICEF fornece o acesso à água potável, saneamento e higiene para crianças em todo o mundo, mesmo nos locais de difícil acesso, sublinha o documento.
Pelo menos 263 milhões de pessoas no mundo levam mais de 30 minutos para ir e voltar para arranjar água. Em Angola, isso ocorre com 19% dos agregados em áreas urbanas e 43% dos agregados em áreas rurais, dentre aqueles sem acesso à água para beber dentro de casa.
No entanto, a UNICEF realçava que houve uma evolução no acesso à água dos agregados familiares em Angola entre 2015-2016 comparativamente a 2008-2009, aumentando 12 pontos percentuais (42% para 54%), crescimento que se registou sobretudo nas áreas urbanas.
Angola é, dos nove Estados lusófonos, o país com menor acesso a água potável “per capita”, em que apenas 44% da população a obtém facilmente, com Portugal (100%) e Brasil (97%) no pólo oposto. No que ao reino do MPLA respeita, tudo normal. Porque carga de chuva os 20 milhões de pobres precisarão de água potável?
Num relatório do Programa Conjunto de Monitorização das Nações Unidas, elaborado pela UNICEF e pela Organização Mundial de Saúde (OMS), foram analisadas as situações da água potável, saneamento e higiene em mais de 200 países e territórios.
O documento faz a comparação entre a evolução registada em cada um dos nove países lusófonos – Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Guiné Equatorial, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste –, tendo também em conta o respectivo aumento da população.
No quadro desta análise é referido também o aumento da população nas zonas urbanas, o acesso a água que dista mais de 30 minutos do local de residência, água não melhorada e água proveniente da superfície, como rios e lagos, entre outras fontes.
No acesso a água potável canalizada, Cabo Verde surge em terceiro lugar entre os lusófonos (subiu de 78% para 86%), à frente de São Tomé e Príncipe (de 67% para 80%), Timor-Leste não havia dados disponíveis, Guiné-Bissau (de 53% para 69%) e Moçambique (de 22% para 47%). Angola subiu de 38% para 41%, enquanto o Brasil passou dos 94% para 97% e Portugal de 99% para 100%.
O relatório sublinhava que os dados são susceptíveis de alguma “relatividade”, tendo em conta o tamanho dos países, o total da população e o grau de desenvolvimento de cada um deles.
À excepção de Portugal e do Brasil, todos os restantes países lusófonos, em maior ou menor escala, ainda têm bolsas da população que só conseguem obter água a mais de 30 minutos do local de residência.
O estudo dava ainda conta da relação entre os dados estatísticos e a evolução da população urbana nos nove Estados lusófonos, sempre em crescendo, com o Brasil a “liderar” esta tabela, com os habitantes citadinos a subirem, em 15 anos, de 81% para 86%.
Cabo Verde é o segundo país lusófono com maior crescimento da população urbana (aumentou de 53% para 66%), seguido por São Tomé e Príncipe (de 53% para 65%), Portugal (de 56% para 63%), Guiné-Bissau (de 37% para 49%), Angola (de 32% para 44%), Guiné Equatorial (de 39% para 40%), Timor-Leste (de 24% para 33%) e Moçambique (de 29% para 32%).