William Tonet, Anselmo Kondumula, Alberto Quechinacho e Pedro Kayala discutiram, nesta segunda-feira, 03.06, na TV 8, sobre os resultados definitivos das recentes eleições na África do Sul em que se evidenciou, conforme os resultados provisórios, o desencantamento dos sul-africanos no partido de Nelson Mandela, Congresso Nacional Africano (ANC).
Por Domingos Miúdo
Por largos anos, especificamente desde 1994, após a queda do apartheid, que o ANC vem conquistado a maioria absoluta, mas estas eleições de 2024 trouxeram surpresas e, por isso, causaram alaridos na imprensa internacional dada a surpreendente rasteira sofrida pelo partido de Mandela, perdendo, pela primeira vez, na sua história de eleições, muitos assentos no Parlamento, o que não lhe conferiu a maioria absoluta. Impelido a negociar com os partidos da oposição para com estes se coligar no alcance da tão desejada, agora, maioria absoluta, o que na visão dos analistas, para além de lhe custar reajustes no plano de governação, não será uma tarefa fácil.
Anselmo Kondumula entendeu que se o ANC invoca o direito de consulta e, com isso, dialogar com os partidos a fim de criar uma coligação, o mesmo espírito terá a oposição no seu todo porque feito as contas os partidos na oposição têm mais assentos do que O próprio ANC.
“Ao olhar para os números do partido do Zuma penso que faz toda a diferença, e este estará, de facto, de costas virada ao seu antigo partido, o mesmo poderá acontecer com os demais que daí saíram, o que dificulta ainda mais o ANC”.
Daí entende-se que, o Cyril Ramaphosa terá suar bastante nestes 14 dias que lhe foram dados para se coligar às outras formações políticas.
E aqui, lembramos o que Gayton McKenzie, o líder do partido Aliança Patriótica, disse sobre uma possível aliança “ANC-AD”: “uma coligação ANC-AD seria um casamento de duas pessoas bêbadas em Las Vegas. Nunca funcionará”.
Ao passo que, o porta-voz do partido Mkhonto weSizwe (MK), Nhlamulo Ndlela afirmou “Estamos dispostos a negociar com o ANC, mas não com o ANC de Cyril Ramaphosa”.
William Tonet compreendeu que a maior ousadia seria o ANC convencer a AD (Aliança Democrática), maior partido da oposição da África do Sul, para se criar uma grande coligação, dado que é também uma das cartas dentro do baralho. Lembrou que, na política nunca se diz nunca. Daí é justo pensar que um dia MPLA venha a se coligar com UNITA.
Pedro Kayala defendeu que ANC deveria estar na oposição porque durante o tempo do seu mandato continua a privilegiar o branco em detrimento ao preto, sendo que o mesmo se pretende em Angola, em que MPLA vá à oposição ao invés de se coligar à UNITA, FNLA ou com uma outra força política.
“Não haverá possibilidade do ANC poder fazer coligação com partido do Jacob Zuma ou com aqueles que saíram do mesmo partido porque as pessoas que fizeram com que se retirassem até ao momento se mantém no ANC, logo, a estadia política não será nada fácil com estas pessoas. O mérito do Jacob Zuma pode ser visto como uma ameaça para o próprio partido, o mérito do outro candidato que também saiu do próprio partido também poderá ser visto como uma grande ameaça. Congregar várias ameaças num mesmo lugar pode ser muito fatal para o partido de Nelson Mandela, por isso, estamos antever uma crise política muito mais agudizada no ANC muito em breve”, declarou.
Por seu turno, Alberto Quechinacho, em referência ao que acontece em Angola, verificou que o problema não cinge-se simplesmente na África do Sul. Actualmente, para ele, há um desencanto dos cidadãos a estes partidos que se dizem históricos e que governam por longos anos não conseguindo fazer o contrário que os regimes anteriores faziam.
“Os negros na África do Sul não conseguiram grandes ganhos, tirando a discriminação racial, contudo, do ponto de vista económico não houve grandes alterações”, comentou.
“ANC só conseguiu esse resultado porque ainda é parasita do nome Nelson Mandela”, afirmou Quechinacho.
Em jeito de resposta ao Kayala, Quechinacho defendeu que o que está em causa não é um mero exercício de estar na oposição, mas ver se a qualidade de vida das pessoas muda.
William Tonet buscou a reflexão sobre a grande perda de assentos do ANC no parlamento, contudo a pouca subida da oposição.
“ANC conquistou 159 lugares, perdendo 71 em relação às eleições passadas. Entretanto, a oposição não subiu tanto. AD conquistou 87 lugares, mais três (3) que nas eleições anteriores. Mas MK, que pode ser visto como o grande vencedor destas eleições, que não tenha sequer um líder, teve 58 lugares. Depois temos Combatentes da Liberdade Económica (EFF), de Julius Malema, que teve 39 lugares, perdendo cinco (5) em relação às eleições anteriores. E a quinta força política teve 17 lugares. Ora, todos esses partidos se se coligarem têm 201 lugares contra 159. É possível que ANC se possa coligar com outros pequeninos, só assim consegue uma certa estabilidade”, detalhou.
Nesta abordagem, consegue-se, de facto, evidenciar que o grande perdedor nestas eleições foi ANC e o grande vencedor MK.
Anselmo defendeu ainda que os governos de maioria absoluta não atendem às necessidades dos cidadãos, daí não acreditar que para combater a fome se precisa de maioria absoluta.
“Quando se tem o poder absoluto é mais fácil os governantes se apetularem, serem arrogantes e fazer das suas vontades a satisfação dos seus próprios interesses”.