O Presidente angolano, general João Lourenço, expressou hoje preocupação com a situação de instabilidade em países da África Austral, como a Republica Democrática do Congo e Moçambique, e defendeu eleições “livres e transparentes” (que não pratica em Angola) como a única via para o poder.
Discursando na cerimónia de investidura do Presidente das Comores, Azali Assoumani, o general João Lourenço sublinhou que “a única via sustentável e legítima de se conquistar o poder em África é através de eleições livres, justas e transparentes”, que permitem “celebrar a festa da democracia”.
“Os líderes saídos de eleições podem contar com uma base popular ampla e consistente, que lhes permite governar com legitimidade num clima de maior serenidade e estabilidade”, reforçou o chefe de Estado angolano, igualmente Presidente do partido que está no Poder há 49 anos (o MPLA) e Titula do Poder Executivo, no estádio onde Azali Assoumani foi empossado no seu quarto mandato, terceiro consecutivo, para o qual foi reconduzido nas eleições realizadas em Janeiro.
O general João Lourenço disse que a região da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC) continua “a ser um bom exemplo no que diz respeito à realização, com regularidade, de eleições livres e transparentes, cujos resultados não geram, em regra, contestação violenta” que ameace a ordem e a estabilidade dos países. E quando ameaçam, como foi o caso de Angola, o general usa a sua qualidade de Comandante-em-Chefe das Forças Armadas para as pôr a circular – democraticamente – nas ruas de Luanda.
O Presidente angolano lembrou que se realizam este ano eleições gerais na Namíbia, no Botsuana, em Moçambique e na África do Sul, onde disse esperar, “mais uma vez, que os resultados venham a ser respeitados por todos os partidos concorrentes”.
Expressou também preocupação com a situação de instabilidade e guerra em alguns dos Estados membros da SADC, nomeadamente em Moçambique e na República Democrática do Congo (RDCongo), aos quais declarou apoio e solidariedade.
A RDCongo sofreu recentemente uma tentativa de golpe de Estado, enquanto Moçambique se confronta há alguns anos com uma insurgência em Cabo Delgado, no norte do país.
O general João Lourenço manifestou, igualmente, apreensão com o conflito armado no Sudão, que tem causado grande número de vítimas e gerado um elevado número de refugiados, “desestabilizando os países vizinhos”, e apelou a que esta guerra não seja esquecida.
“Compreendemos que as agências humanitárias internacionais priorizam o atendimento a outros conflitos em curso, nomeadamente na Palestina, para acudir sobretudo à situação de grave catástrofe humanitária em que se encontram as populações civis da Faixa de Gaza, mas o povo sudanês merece igual atenção e a guerra do Sudão não pode ser uma guerra esquecida e simplesmente ignorada pela comunidade internacional”, apelou o chefe de Estado angolano.
O general João Lourenço elogiou Azali Assoumani pelo seu papel enquanto Presidente em Exercício da União Africana no ano de 2023, pela abordagem realista e pragmática “dos principais problemas que a África enfrenta”.
“Este é um legado que nos orgulha e que vai servir de guia e de orientação para definirmos as estratégias que permitam acelerar os processos de promoção do diálogo tendente a pôr fim aos conflitos no nosso continente e, assim, abrir o caminho ao desenvolvimento económico e social dos nossos países”, declarou.
Recorde-se que o general João Lourenço mandou a sua agência de notícias (a Angop) dizer que ele apresta-se para celebrar o seu segundo aniversário como “Campeão para a Paz e Reconciliação em África, um mandato em que Angola tem colocado a sua diplomacia plenamente ao serviço da pacificação e da estabilização do continente”.
Com efeito, foi na 16ª cimeira extraordinária da União Africana (UA), também conhecida por Cimeira de Malabo de 28 de Maio de 2022, que a propaganda oficial que sempre considera bestial quem está no Poder (e bestas quem não está) recorda que o general João Lourenço foi designado Campeão da União Africana para a Paz e Reconciliação em África.
Dois anos depois, o general João Lourenço tem-se revelado um “trabalhador incansável” na sua espinhosa missão de busca permanente de soluções para os diversos conflitos, políticos e armados, que afligem o continente. Ou seja, os conflitos continuam mas, nos intervalos dos tiros, assenta bem o título de Campeão da Paz.
De igual modo, e na qualidade de presidente em exercício da Conferência Internacional sobre a Região dos Grandes Lagos (CIRGL), o general João Lourenço foi mandatado, também pela UA, para assegurar a mediação na crise entre a República Democrática do Congo (RDC) e o Ruanda.
Desde então, Luanda virou palco de constantes movimentações diplomáticas, com entradas e saídas de delegações estrangeiras de vários níveis, como que uma passagem incontornável dos caminhos da “Paz Africana”.
Ou seja, Angola passou a ser “uma placa giratória de concertações políticas”, no continente africano (se outros continentes precisarem de ajuda basta avisar), segundo observadores atentos ao desenrolar da diplomacia africana.
O empenho de um estadista de gabarito (no mínimo) mundial vai na direcção (se o GPS não avariar) da conquista e preservação da paz, da reconciliação nacional, da democracia e do respeito pelos direitos humanos, no continente berço da humanidade.
No exercício destas responsabilidades históricas e dignas do prémio Nobel da Paz, o general João Lourenço tem encorajado permanentemente o diálogo (como, internamente – não – faz em relação a Cabinda) e promovido consultas políticas como via para o reforço da confiança e para a construção de entendimentos entre as partes desavindas.