CABINDA E LUNDAS COM PRIMEIROS CASOS DE MPOX

Nenhuma desgraça nos passa ao largo. A doença mais falada do momento atravessou o rio Zaire, depois de percorrer parte da densa floresta do Congo Democrático, desembarcando e atingindo Angola, pelas províncias de Cabinda e Lunda Sul, onde existem três cidadãos, sendo um suspeito na província petrolífera e dois na diamantífera, apresentando sintomas, muito próximos da famosa MPOX.

Por Berlantino Dário

Por ironia do destino e, para não variar, em mais um engodo, a colheita de sangue ao paciente tem de ir para laboratórios em Luanda, no sentido da realização das análises por incapacidade das novas unidades sanitárias.

O diagnóstico não pode ser feito na província rica em petróleo, mesmo depois do país ter ouvido e visto a inauguração pomposa, como se fosse a sétima maravilha do mundo, o Hospital Geral de Cabinda, tão pouco na diamantífera, pois aqui, a unidade hospitalar é mais paupérrima.

O secretário provincial da Saúde de Cabinda, Rúben Buco declara ser o primeiro suspeito de MPOX um jovem de 20 anos de idade, que deu entrada no banco de urgência de uma das unidades hospitalares da província, no dia 29.08, “com lesões típicas da doença e, como caso suspeito, a equipa de vigilância epidemiológica da rede laboratorial de resposta rápida já esteve no terreno para colher amostras”.

“É importante referir que temos um caso suspeito. Já há equipas de vigilância epidemiológica e resposta rápida com a rede laboratorial já se deslocaram ao local. Por enquanto, não vamos informar onde está o paciente. É cidadão nacional, 20 anos de idade, raça negra, sexo masculino, já na fase de cicatrizar das lesões. Mas estamos a estudar, está no isolamento e vamos criar condições inclusive para transferirmos o paciente a outro ponto,” afirma Rúben Buco.

“Mas, em função da clínica, há fortes indícios de que seja a doença. Portanto, o país ainda não confirmou nenhum caso de varíola de macaco ou MPOX, mas temos de criar condições, porque a nova estirpe, para além de ser altamente infecciosa, altamente virulenta, altamente transmissível e altamente contagiosa, tem uma particularidade de ser altamente letal. Significa que, entre casos de doença, registar-se-á óbitos”, alertou o secretário para a saúde na província mais a norte do país.

A doença, antes conhecida como varíola dos macacos, é uma zoonose causada pelo vírus Mpox, do género Orthopoxvirus, caracterizada por erupções cutâneas ou lesões na pele que geralmente se concentram no rosto, nas palmas das mãos e nas solas dos pés.

No caso em Cabinda, as amostras recolhidas tiveram de seguir de avião, num kit térmico, para o Instituto Nacional de Investigação em Saúde, em Luanda, para se poder diagnosticar se o caso é ou não da doença da varíola do macaco, MPOX.

Recorde-se que Cabinda já teve cinco suspeitos, segundo o secretário provincial da Saúde, mas nas amostras chegadas a Luanda “o diagnóstico veio negativo e as doenças foram: sarampo e sarna, ambos com dois casos cada e um caso de varicela. Foi, portanto, descartado o caso de MPOX”, concluiu.

Os principais sintomas da doença da varíola dos macacos são os mesmos em adultos e em crianças e incluem febre, fraqueza, linfonodos inchados, dores musculares, dores nas costas, dor de cabeça, dor de garganta, congestão nasal e tosse.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), existem, actualmente, duas vacinas disponíveis contra a MPOX, nomeadamente, a Jynneos e a Imvanex.

A mais comercializada é a Jynneos, produzida pela farmacêutica dinamarquesa Bavarian Nordic, a partir da cepa Vaccinia Ankara-Bavarian Nordic (MVA-BN). O esquema de vacinação é de duas doses (0,5 ml cada) da vacina MVA-BN Jynneos, de administração subcutânea (preferencialmente no deltóide), com 4 semanas (28 dias) de intervalo entre as doses.

Por outro lado, a província diamantífera da Lunda Sul, contrariamente à da petrolífera, registou no dia 30 de Agosto, dois casos suspeitos de varíola de macaco a uma cidadã congolesa e um cidadão nacional, Informou o director do gabinete provincial da saúde da Lunda Sul, Viegas de Almeida.

Segundo as autoridades locais consideram o caso da cidadã congolesa como podendo ou evoluir para o MPOX ou ainda dar negativa e “tratar-se das muitas doenças que existem na República Democrática do Congo, com quem partilhamos uma longa e extensa fronteira. Mas depois tivemos, também, um cidadão angolano”, declarou o responsável.

As amostras destes dois pacientes, tal como o de Cabinda, também foram expedidas para Luanda para se proceder ao diagnóstico de confirmação da doença da varíola do macaco, por inexistência de laboratórios capazes da realização dos exames nas Lundas.

“Confirmamos os dois casos suspeitos de varíolas de macaco a nível da nossa província, uma senhora de 26 anos, proveniente da República Democrática do Congo, por sinal, também, cidadã da República Democrática do Congo, e um caso de um jovem de 30 anos de idade, proveniente da comuna de Murieje, município do Muconda, província da Lunda Sul. A amostra foi colhida hoje, estamos a prever o seu envio, amanhã, por via transportação TAAG. Neste exacto momento, os dois casos estão isolados e a terem tratamento sintomático, no hospital do Luavure,” afirmou Viegas de Almeida.

Para a vacinação de pré-exposição, é recomendado respeitar um intervalo de 30 dias entre qualquer vacina previamente administrada. Em situação de pós-exposição, cujo principal objectivo é o bloqueio da transmissão, recomenda-se a aplicação independentemente da administração prévia de qualquer imunobiológico. Quando administrada entre 4 e 14 dias após a data da exposição, a medida promete reduzir os sintomas da doença, mas não preveni-la.

O Ministério da Saúde anunciou, recentemente, que mantém activo o estado de alerta no sentido de evitar a introdução do MPOX no país, após ter sido declarada emergência de Saúde Pública pela União Africana (UA) e Organização Mundial da Saúde (OMS).

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