AZAGAIA, “RAPPER DO POVO”, ONTEM, HOJE, SEMPRE

Artistas moçambicanos lançaram hoje uma música de homenagem a Azagaia, considerado o “rapper do povo”, que morreu há precisamente um ano, em Maputo.

O tema “Homenagem”, lançado nas redes sociais e plataformas musicais, juntou, entre outros antigos companheiros de palco de Azagia, Iveth, Izlo H, Joe e Guto D` Harculete.

“Fomos todos chamados a testemunhar a significação da vida e morte de Azagaia, como alguém que abordou o colectivo, lutando por um Moçambique e África melhores”, explicou Iveth, advogada e ‘rapper’ que partilhou vários trabalhos em conjunto com o artista, e que se queixa ainda de “impedimentos de vária ordem” para o homenagear, à passagem do primeiro aniversário da morte.

“Sendo certo que a música era seu ofício, porque não o homenagear cantando hip-hop? Este tema aborda a sua vida, feitos e visão num contexto social politicamente desafiante em que liberdade de expressão é prevista normativamente, porém é cerceada com perseguição, cancelamento artístico e censura nos meios de comunicação oficiais”, criticou ainda Iveth, numa mensagem sobre o lançamento da música.

No dia 9 de Março de 2023, Azagaia (38 anos) foi encontrado morto, na sua casa, após uma crise de epilepsia, segundo a família, consternando milhares de fãs em toda a lusofonia, onde o seu nome era conhecido.

Azagaia ficou célebre pela crítica aberta à governação, de tal forma que, em 2008, na sequência de três dias de violentas manifestações que paralisaram a capital, foi chamado pela Procuradoria-Geral da República, após lançar o tema “Povo no Poder”, uma música gravada pouco depois dos episódios, alertando para a possibilidade de uma paralisação geral face à subida de preços de produtos básicos no país.

Mas o trabalho que deu corpo à sua carreira foi mesmo o tema “As Mentiras da Verdade”, de 2007, por muitos classificado como “manifesto crítico” à narrativa oficial da história de Moçambique, em que o músico chegou a questionar as causas da morte do primeiro Presidente de Moçambique, Samora Machel.

A faixa, banida na altura na rádio e TV públicas, surgiria no seu primeiro álbum: “Babalaze” (que significa “ressaca” na língua changana), uma adaptação da obra poética “Babalaze das Hienas”, do escritor moçambicano José Craveirinha.

O ‘rapper’ moçambicano lançaria mais um álbum em 2013: “Cubaliwa”, último de uma carreira de quase 20 anos que começou no grupo “Dinastia Bantu”.

Os últimos anos da sua vida foram marcados por aparições mais tímidas, embora continuasse a lançar músicas, destacando-se temas como “Ai de Nós” (2021), uma crítica à “inércia” da sociedade moçambicana face à crise humanitária provocada por uma insurgência armada que desde 2017 assola a província de Cabo Delgado.

Após a sua morte, activistas moçambicanos tentaram organizar marchas em sua homenagem, em 18 de Março, iniciativas que foram reprimidas com violência pela polícia, com vários feridos, atitude que mereceu a condenação por várias entidades que classificaram a repressão policial como um dos sinais mais visíveis das limitações à liberdade de expressão no país.

Lusa

Artigos Relacionados

3 Thoughts to “AZAGAIA, “RAPPER DO POVO”, ONTEM, HOJE, SEMPRE”

  1. […] アザガイア、「人々のラッパー」、昨日も今日もいつも 最初に登場したのは フォルハ 8 […]

  2. […] post AZAGAIA, “RAPPER DO POVO”, ONTEM, HOJE, SEMPRE appeared first on Jornal Folha […]

Leave a Comment