APOSTAR NA FORÇA DA RAZÃO OU NA RAZÃO DA FORÇA?

O Campus Universitário da Igreja Evangélica Congregacional de Angola (IECA), situado na Missão do Dondi, município de Cachiungo, província do Huambo, vai adoptar um modelo de ensino orientado para o empreendedorismo e inovação, para os estudantes desenvolverem projectos, empresas, startups e laboratórios inovadores.

O objectivo desta nova aposta, inaugurada sábado (como não podia deixar de ser) pelo Presidente da República, general João Lourenço, é criar serviços e produtos para resolver os problemas da comunidade.

A infra-estrutura, construída em 2023 numa área total de 9.353.63 metros quadrados, tem quatro edifícios para o ensino de Ciências Agrárias, Económicas, Saúde e Educação com residências T1/T2 para professores e estudantes internos, dois laboratórios, biblioteca, auditório, bloco administrativo e atelier.

Orçado em mais de 5,7 mil milhões de kwanzas, o projecto de ensino é 100 por cento financiado pelo Governo de Angola, que vai continuar a apoiar até à conclusão das obras, segundo o Presidente da República, numa garantia também subscrita pelo Presidente do MPLA e pelo Titular do Poder Executivo.

“Nós demos este apoio à IECA e eu fiz questão de ir ver, com os meus próprios olhos, o resultado do apoio que estamos a dar e saio de lá satisfeito. Vejo que recursos estão a ser bem aplicados. A obra não está concluída, falta cerca de 10 por cento apenas e o respectivo apetrechamento que também vamos apoiar”, garantiu o general Presidente. E se ele garante…

João Lourenço defendeu ainda a necessidade do Estado trabalhar com diversos parceiros, como igrejas e outros da sociedade civil, para cumprir com o objectivo do Executivo de formar a juventude.

Prova provada da aposta na juventude está no facto de, quase a comemorar 50 anos de independência, o dia 14 de Abril consagra o dia da juventude do MPLA, em memória de Hoji Ya Henda, o patrono da JMPLA, seja igualmente considerado o Dia da Juventude… angolana. É isso, não é general Presidente?

“O Estado preocupa-se em formar o jovem, mas, sozinho, não vai chegar lá (…). Nós apoiamo-nos mutuamente. Esses nossos parceiros apoiam o Estado e o Estado, ali onde puder, apoia os seus parceiros”, acrescentou

O Campus Universitário tem uma capacidade para receber quatro mil estudantes, dos 1.500 internos, e conta com 200 docentes e 100 funcionários administrativos.

O coordenador do Projecto, Hélder Chipindo, destacou as valências do instituto que vai privilegiar as áreas das engenharias agrárias e transformação industrial e alimentar, zootecnia e outras dos ramos da saúde, nomeadamente, a medicina dentária, enfermagem, ciências farmacêuticas, oftalmologia, entre outras.

“Vai ser uma das primeiras instituições de ensino superior, no âmbito rural, que vai, efectivamente, dar resposta às necessidades de um número alto de jovens que terminaram o ensino médio e não conseguem dar seguimento”, afirmou.

Hélder Chipindo enalteceu ainda a metodologia de ensino da universidade que vai facilitar o acesso ao ensino superior, mas com o modelo de empreendedorismo e inovação para que os alunos sejam capazes de criar negócios, serviços e não serem dependentes do Estado.

“O nosso sonho realmente é formar uma geração que efectivamente não sejam licenciados, ganhando um título de desempregado, mas que, efectivamente, sejam pessoas que criam novos empregos, sejam pessoas que não dependam apenas das ofertas de empregos do Estado, mas que, eles próprios, criam empresas, serviços e produtos para o seu alto sustento”, afirmou.

Para dar resposta aos cursos a serem ministrados, o Campus Universitário vai contar com um corpo docente composto, numa primeira fase, por quadros nacionais, e posteriormente estrangeiros, como deu a conhecer o reverendo Isabel de Jesus Sangundi, secretário Executivo IECA.

“(…) Em princípio contaremos com os quadros nacionais, mas também com professores norte-americanos. Vamos contar com alguns docentes sul-africanos, uma vez que a IECA está inserida numa parceria com a União das Igrejas Congregacional ao nível da África Austral. Nós teremos docentes de diversas partes deste globo”, disse.

De acordo com o reverendo, embora os requisitos para ingresso no ensino sejam universais, a instituição vai pautar por um rigor académico um pouco mais substanciado, para que os estudantes tenham um perfil com as exigências do mercado de trabalho.

Mesmo que o general Presidente não goste, não é sério, muito menos legítimo e democrático, que se continue a subjugar toda a juventude angolana, bem como todo o resto da população, às teses do partido reinante. De facto, a comemoração com toda a pompa e mordomias inerentes do 14 de Abril era (e poderá continuar a ser) aceitável como marco interno do MPLA e não como algo que possa representar toda a juventude de um país que, também nesta matéria, pretende respeitar e enquadrar-se nas regras de um Estado de Direito, passada que tende a ser (mesmo perante a bélica posição do regime), embora à custa de prisões, torturas e assassinatos, a fase em que Angola era o MPLA e o MPLA era Angola.

Embora nem todos tenham consciência disso, o país é hoje outro, amanhã será ainda um outro, pelo que não pode haver receitas unilaterais feitas à medida, e por medida, de um regime que só conhece a razão da força.

Importa que o regime compreenda, embora a isso seja alérgico, que em democracia quem mais ordena é o Povo. E esse Povo não pode estar sujeito a regras que mais não são do que perpetuar o culto sabujo e bajulador a valores e pessoas que em vez de o servirem se servem dele.

De facto, o Governo do MPLA não tem tido vontade, embora tenha os meios, para resolver problemas do Povo, sejam eles da fome, da miséria, da água, da luz, do lixo, da saúde ou da educação da população em geral. No que tange à juventude, esta não tem casa, não tem educação (embora seja educada), não tem emprego e não tem futuro.

Por tudo isto, e não só, a juventude quer mais do que nunca ser ouvida e ter, para além de uma voz gritante e activa, possibilidade de dizer de sua justiça, de participar na vida do seu país. O regime ao obrigar os jovens a aceitar como única a lei do mais forte está a atirar a juventude para as margens da sociedade. E, muitas vezes, demasiadas vezes, quando se está na margem escorrega-se para a marginalidade como antecâmara da violência, da criminalidade ou até da guerra.

Recordemos que o pré-histórico militante do MPLA, Kundi Paihama, realçou o contributo da juventude na vida política nacional por ter permitido que hoje o país se possa orgulhar dos seus filhos, pelas grandes vitórias alcançadas ao longo da sua história.

Não fora a modéstia de Kundi Paihama, um angolano que o regime considera de primeira, e ele bem poderia dizer que esteve, e esteve mesmo, nas principais vitórias que fizerem com que o MPLA esteja no poder deste 1975.

Relembre-se que, em declarações à Angop, à margem do VI Congresso do JMPLA que decorreu em Outubro de 2009, sob o lema “JMPLA – a certeza de um futuro melhor”, Kundi Paihama frisou que é de louvar a vontade dos jovens virada para o progresso e desenvolvimento do país.

Kundi Paihama destacou o desempenho dos jovens pela causa da nação, abrindo caminho para uma renovação maciça nos vários domínios da vida humana, principalmente no desenvolvimento intelectual, académico e científico, que são mais-valias para o progresso de uma pátria.

“Estamos cientes do bom e grande trabalho da direcção do Secretariado Nacional da JMPLA, e acreditamos que os futuros dirigentes farão o seu melhor, não só porque as condições serão outras, mas pelo compromisso assumido com o povo”, sublinhou Kundi Paihama.

Kundi Paihama asseverou igualmente que graças ao contributo dos jovens do partido, e não só, Angola conseguiu alcançar vários patamares nos círculos internacionais, nomeadamente político, económico, desportivo e cultural.

Embora seja tudo verdade, a juventude de hoje já consegue (em muitos casos de forma brilhante) pensar pela sua própria cabeça. Não admira, por isso, que muitos jovens ao ouvir estas palavras se recordem igualmente que foi o próprio Kundi Paihama que disse que em Angola existiam dois tipos de pessoas, os angolanos e os kwachas, tal como aconselhou estes a comer farelo porque “os porcos também comem e não morrem”.

E tal como Kundi Paihama, também Eduardo dos Santos disse a todos, mas sobretudo à juventude, que é preciso “honrar e declarar o nosso amor por Angola”.

É verdade. João Lourenço está também de acordo. Mas isso não basta. E se os mais velhos fazem do silêncio a sua melhor arma, os jovens falam cada vez mais e, um pouco por todo o pais, vão dizendo que as crianças que mendigam e morrem à fome nas ruas de Luanda também amam Angola. Amam-na e declararam esse amor.

O já saudoso Rui Mingas dizia que, “nos antigamente”, os angolanos apenas tinham “peixe podre, fuba podre, 30 angolares e porrada se refilares”. E hoje, 48 depois da independência e com 22 anos de paz absoluta, o que dizem os jovens? Esses, que serão os líderes naturais de Angola, continuam a dizer que levam porrada, mesmo sem refilar, e nem peixe ou fuba podre têm.

É, por isso, urgente que o regime olhe a sério para a juventude no seu todo, não apenas para a JMPLA, mesmo para aquela que está fora do país, procurando potenciar os seus conhecimentos e corresponder aos seus anseios.

Ao contrário do que eventualmente podem pensar os dirigentes do regime, a juventude está atenta a tudo isto e é sobretudo isto que a preocupa. Nós temos jovens que, como nos ensinou Nelson Mandela, são heróis não porque não sintam medo, mas porque o vencem.

João Lourenço garante aos jovens que uma das bandeiras do Executivo que lidera é a liberdade e garantias fundamentais. “Entendemos, pois, que a liberdade gera oportunidades e, por via desta, são concretizados os sonhos mais sublimes da cada um de nós”, afirmava o Presidente da República.

“Não sendo inteligente a eventual repetição dos erros do passado, é fundamental resgatar dos jovens de ontem a ideia de que a Pátria está acima de todos os interesses individuais e Angola é centro de todas as nossas lutas”, diz o Presidente.

João Lourenço afirma que “a juventude angolana posiciona-se hoje como a legítima guardiã de todas as conquistas” por ter herdado a glória dos heróis nacionais.

“Por uma Angola exemplar, os nossos heróis internacionalizaram a luta pela liberdade e promoveram a solidariedade africana”, concluindo com um “Estamos juntos!!!.”

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