Os angolanos há vários dias tem sido assolados por notícias ”bombásticas”, em todos os meios de comunicação, sobre o aumento salarial. Sinceramente, pensando bem, isto parece ser uma brincadeira de muito mau gosto.
Por Maia Luísa Abrantes (*)
Em 2015 o salário mínimo era de 122 euros a 179 euros e não deixava de ser muito insuficiente (DW, 22/05/2015). Em 2017 houve um aumento de 30% do salário, devido à inflação e desvalorização cambial, ocasionada pela queda do preço do petróleo em 2016.
Como é que 8 anos depois, em 2024, com o aumento dos preços da cesta básica mais de 10 ( dez) vezes em alguns produtos, fazem a operação inversa, isto é, reduzem os magríssimos salários dos trabalhadores angolanos a 10 ( dez) vezes menos?
Como é que se pode melhorar, num país onde qualquer um que seja do Partido no poder, pode ser dirigente do Executivo, porque pressupõe que vai ter sempre ao lado um ”batalhão ” de consultores estrangeiros, que ganham não raras vezes, 20 (vinte) a 100 (cem) vezes mais , que um bom quadro angolano?
A Sra. Cristine Lagarde, enquanto Presidente do FMI, ficou chocada e afirmou publicamente, que havia um peso excessivo, nos orçamentos dos Estados dos países africanos da África Subsaariana, com a contratação de consultores estrangeiros.
É inadmissível que um trabalhador angolano, tenha um salário mínimo cerca de 50% do seu salário de há 8 (oito) anos atrás, e os trabalhadores que auferem o salário máximo, recebam SÓ cerca de 10% do salário que usufruíam até Janeiro de 2018. Isso não pode ser sério. Os últimos, de um salário equivalente a cerca 7.000,00 euros, passaram a receber 700 euros e agora, lá vai mais uma esmolinha de 29 euros.
– Os pensionistas estão bem pior. O aumento da pensão dos antigos combatentes, por ser um insulto à própria Nação, nem é referido na comunicação social oficial.
Perguntarão de onde sairia o dinheiro?
Como muito gosto responderei, que sairia de:
1. poupança , em vez do despesismo com futilidades;
2. redução de gastos em projectos não prioritários, por não serem estruturantes (Ex: teleférico), priorizando os investimentos na reabilitação das infra-estruturas básicas existentes, na construção de estradas terciárias e pontes robustas, de escolas, centros de saúde e na formação do capital humano em;
3. fiscalização efectiva;
4. responsabilização;
5. aumento da percentagem do pagamento da dívida interna;
6. redução DO PAGAMENTO da percentagem da dívida externa;
7. informatização de todos serviços públicos, incluindo quadros nacionais na construção dos sistemas informáticos, independentemente da terceirização.
Só há trabalho sério e digno, com gente com sentimento patriótico, mas também, com salário condigno, que ponha o país e os contribuintes sempre em primeiro lugar. Não é possível pensar no país, discriminando ideologias, cor, etnia e religião. Existem angolanos descendentes e originários de vários países. Porque não enquadrá-los também?
Não podemos ter apenas o ”lobby dos São-tomenses ” e o ”Lobby dos congoleses da RDC ”.
Temos jovens com mentes brilhantes?
-Sim temos e muitos.
Porque é que os jovens têm de pertencer à JMPLA, serem familiares de dirigentes desse Partido, pertencerem à segurança de Estado de determinada etnia, ou serem ”bajuladores”, para serem tidos em conta, ou aparecer na comunicação social oficial?
ANGOLA TEM DE ESTAR SEMPRE EM PRIMEIRO LUGAR!
Os estrangeiros residentes, também pagam impostos e também tem o direito de dar a sua contribuição, dentro ou fora no sector privado, com as suas ideias, porque são contribuintes neste país. Porque não?
Nos Estados Unidos de América, assim conseguiram torná-lo na primeira economia do mundo.
A desvalorização deslizante sucessiva do Kwanza e a estabilização temporária da taxa de câmbio, não nos parece ter obedecido a critérios de mercado. Possivelmente, pode ter obedecido a calendários políticos e de “lobbies” de parceiros estrangeiros, ligados ao sector petrolífero. Angola, só ganharia com o Kwanzas fraco, se tivesse uma exportação diversificada, como até 1974. Vivendo sobretudo da receita da venda do petróleo, quem ganha com o Kwanza fraco?
– As empresas associadas à SONANGOL (as empresas que compram o petróleo e algumas que o reexportam já refinado), ou que tem acordos ”Barter” (permuta) com o China.
Temos de pensar mais país e em conjunto, para o tirá-lo do fundo do poço, enquanto for tempo. Se o povo depauperado cair no abismo, Angola será neocolonizada. O pior ainda, é se for por outros povos africanos de países vizinhos, que tem invadido silenciosamente este histórico país. Angola já foi a capital do reino do Congo, mas é uma amálgama de várias tribos e culturas.
Compete ao Estado, o papel de intervir economicamente para melhor governar, em vez de despender mais recursos financeiros escassos, dividindo o país em 325 municípios para melhor ”reinar”, desunindo ainda mais os nossos povos.
Como é possível, um país amigo com poucos recursos financeiros como a Guiné Bissau, a quem o Estado angolano já ”emprestadou” (a palavra é de minha autoria) dinheiro para pagar salários da função pública, ter um salário mínimo superior ao de Angola?
Como é possível, que um país a quem o Estado de Angola ofereceu o único grande projecto agrícola, como São Tomé (na altura Angola não tinha igual), por escassez de recursos financeiros, que por falta de escolas de qualidade, muitos dos seus cidadãos estudaram neste país (e, quando lhes dá jeito, são angolanos, para serem dirigentes cá ou lá, mas quando não estão no governo são cooperantes portugueses), tenha um salário mínimo superior que o praticado em Angola?