A FORÇA DA RAZÃO É A ÚNICA SOLUÇÃO

É sempre bom fazer pouco barulho, fazer menos anúncios inúteis que só impressionam as pessoas emocionais… e deixar que o trabalho nos convença pela qualidade das acções porque a nobreza de nossa causa deve sempre levar-nos a agir com mais humildade e responsabilidade.

Por Osvaldo Franque Buela

O contexto de crise global deve levar-nos a olhar para a realidade política com grande coragem e a comprometer-nos cada vez mais com soluções pacíficas e políticas do que com os efeitos de anúncios de uma ofensiva de guerra que só resultará no empobrecimento e na degradação social das nossas já pobres populações.

A força da razão deve sempre motivar-nos numa actuação inteligente e não permitir que sejamos conduzidos por acções que levem os nossos inimigos a usar a razão da força para continuarem a destruir-nos com armas de guerra.

Olhando à nossa volta, olhando para o que está a acontecer na Ucrânia, e não muito longe de nós na Palestina, incluindo o cenário da ofensiva do Hamas contra as populações israelitas em 7 de Outubro do ano passado, não encontro a utilidade destes efeitos de abjectos anúncios, irresponsáveis, imaturos e improdutivos, caso contrário, quando ocorrerem, não serão os dirigentes da FLEC que vivem longe do teatro de operações que pagarão as contas.

O desejo de liberdade, o direito à autodeterminação de que sofremos a injustiça por parte da comunidade internacional, nunca mais nos devem levar a apoiar a guerra como solução, uma estratégia pela qual a FLEC tem optado desde então e que não produziu quaisquer frutos dignos de paz para Cabinda. O tempo para libertar Cabinda com as armas expirou há muito tempo, causado pela perda de credibilidade da própria FLEC. Ultrapassaram os prazos e os contextos que lhes eram favoráveis para libertar Cabinda pela força das armas.

Mesmo que assim fosse, preferiria que a FLEC-FAC nos surpreendesse com a sua capacidade de fazer a guerra e libertar o território, ao mesmo tempo, evitasse que a crise humanitária dos habitantes de Gaza se transformasse na dos Cabindas.

A FLEC-FAC, do meu ponto de vista como exilado, refugiado político, intelectual, e como tantos outros intelectuais Cabindeses, não deveria mais persistir no caminho da guerra.

A FLEC-FAC deve entender que estes efeitos de anúncios não são acolhidos com esperança e cegueira como era nos tempos, devemos, finalmente pela minha parte, ter a coragem de dizer que o tempo da guerra acabou, e não é em matar uma dezena de FAA em cada emboscada que encontraremos um caminho para a independência de Cabinda.

O Tratado de Simulambuco nunca foi assinado sob pressão e controlo de armas, e é sem armas de guerra que devemos continuar a reinvindicá-lo, aos verdadeiros actores e por meios pacíficos em união política com outras forças vivas do território.

A FLEC-FAC deve parar com a guerra, observar uma trégua unilateral capaz de convencer o mesmo incompetente governo de João Lourenço e não nos contar promessas que ninguém conhece onde foram feitas e com quem, e finalmente, juntar-se às iniciativas de paz das outras forças políticas no território, iniciar um novo processo de paz, ou rever em conjunto os pontos inaceitáveis e não resolvidos do imperfeito memorando do Namibe

Só a este preço, só por este caminho, neste mundo incerto, encontraremos as nossas soluções, ainda que intermédias, capazes de devolver uma aparência de dignidade a este povo e não permitir mais que as nossas populações revivam as cenas de guerra e exílio dos últimos anos, numa altura em que a atenção da comunidade internacional está centrada noutros espaços geográficos estratégicos para a paz mundial.

Ninguém se pode dar ao luxo de usar o monopólio da violência, nem a FLEC-FAC, de querer criar instabilidade a uma população que, hoje, já luta apenas com dificuldade pela sua sobrevivência. Os desafios da nossa juventude hoje centram-se no desenvolvimento, na paz, na educação, na saúde e não numa guerra ideológica e retrógrada de divisões internas entre FLEC’s, enquanto todos temos o monopólio para procurar soluções e fazer a paz sem matar.

Pelo respeito ao símbolo da nossa identidade, muitas iniciativas de paz estão neste momento à mesa à espera da adesão da FLEC-FAC para olharmos juntos, sem complexos, e sem paixões egoístas e ideológicas, uma solução que nos tornará vencedores de uma nova página no caminho para uma paz duradoura e próspera para todos.

Sou um espírito amante da justiça e da paz, como antigo político de alto escalão dentro da FLEC-FAC, conheço o ambiente político em que operamos, não sou contra uma pessoa ou um grupo de pessoas, estou a falar de nossa organização, a única, onde trabalhei com os dois presidentes (Nzita TIAGO e Emmanuel Nzita) onde sempre defendi a minha visão política de paz.

Por isso tenho legitimidade de falar e falo da FLEC-FAC como autoridade moral no seu conjunto e assumo as minhas palavras sem ódio nem ressentimento… falo com pleno conhecimento dos factos…

Não devemos comprometer o nosso povo nem o nosso território com ambições de um grupo de indivíduos ou de uma pessoa porque tem um nome ligado ao nosso percurso histórico de luta, todos temos um só compromisso, dizer a FLEC-FAC que toma nota do fim da guerra e que começa vencer a batalha pela paz dentro das actuais instituições do País.

Este é o desafio do futuro, e vamos aprender as lições que o HAMAS não previu em termos de consequências quando lançou a sua ofensiva contra Israel por que , Gaza nunca mais será a mesma e o povo Cabinda já não estará a reboque de qualquer grupo armado, para destruir o pouco que temos desde a ocupação efectiva do nosso território por Angola, os tempos mudaram há muito.

No caminho certo, sempre venceremos porque a nossa causa é justa.

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