A inflação em Angola voltou a subir em Junho, pela 14ª vez consecutiva, atingindo uma variação homóloga de 31%, estimulada sobretudo pela subida dos preços na alimentação e bebidas. Trata-se do nível mais elevado desde Maio de 2017 e representa um acréscimo de 19,75 pontos percentuais em relação à taxa observada em igual período do ano anterior.
Entretanto, o economista angolano Wilson Chimoco defendeu hoje uma posição “mais energética” do Banco Nacional de Angola (BNA) para conter o aumento de preços no país, onde a inflação atingiu os tais 31%, admitindo que as actuais taxas directoras devem manter-se.
De acordo com o especialista, a desaceleração (o INE diz que em Junho subiu, pela 14ª vez consecutiva) da inflação mensal deve levar o Comité de Política Monetária do Banco Nacional de Angola (BNA) a manter as suas principais taxas, após a 118ª reunião ordinária que decorre no Cuando-Cubango.
“As perspectivas apontam para a manutenção das actuais taxas de juro praticadas pelo BNA, isto porque a desaceleração (repita-se: o INE diz que em Junho subiu, pela 14ª vez consecutiva) da inflação, que se tem assistido nos últimos dois meses, a redução do aumento da massa monetária disponível na economia e a estabilidade que se tem assistido na taxa de câmbio poderão então justificar essa decisão”, disse o economista.
Wilson Chimoco, que projectava a política monetária do BNA para Julho, considerou, no entanto, que os níveis de preços continuam altos (31% em Junho, estimulados pela subida dos preços na alimentação e bebidas), o que exigiria do BNA uma “posição mais energética” para conter este aumento.
“As últimas decisões tomadas em Novembro de 2023 e Janeiro, Março e Maio de 2024, de agravamento da política monetária, têm vindo a surtir efeito e os efeitos [são] a desaceleração da inflação nos dois últimos meses e é de continuar a esperar”, frisou.
Recorde-se, mais uma vez, que a inflação em Junho atingiu o nível mais elevado desde Maio de 2017 e representa um acréscimo de 19,75 pontos percentuais em relação à taxa observada em igual período do ano anterior.
O banco central angolano decidiu, em Maio passado, aumentar a sua taxa directora de 19% para 19,5% e a taxa de juro de Facilidade Permanente de Cedência de Liquidez de 19,5% para 20,5%, visando travar a inflação, ocasião em que decidiu manter a taxa de juro da Facilidade Permanente de Absorção de Liquidez em 18,5% e aumentar o coeficiente das reservas obrigatórias em moeda nacional de 20% para 21%.
Wilson Chimoco, que entende que o BNA deve manter as referidas taxas, assinalou, por outro lado, que o organismo tem sido “muito cauteloso” no domínio das suas políticas “e, quando necessário, apresenta uma posição mais ponderada para o agravamento da política monetária”.
“Penso que não há-de ser ao contrário nesta reunião. Vão é dar indicação de que estão preocupados e atentos à evolução da taxa de inflação, mas não deverão tomar uma medida adicional àquelas já tomadas para conter os níveis de preços na economia”, insistiu.
Por sua vez, o secretário de Estado do Planeamento, Luís Epalanga, destacou, em Junho, o impacto positivo das medidas no sector produtivo, e, com isso, na trajectória da inflação dos últimos meses.
“A [variação face ao mês anterior da] inflação em Fevereiro situou-se em 2,58%, depois passou para 2,54%, voltamos a ter o pico de 2,61%, por causa do ajustamento do preço dos transportes, e ela estabilizou o mês passado [Maio] em torno de 2,41%, e as nossas previsões para o mês de Junho é que ela venha a estar muito próximo de dois ou muito abaixo disso”, sublinhou o governante.
Segundo Wilson Chimoco, se os preços continuarem a variar abaixo dos 3% é provável que, até final de 2024, a taxa de inflação homóloga se venha fixar nos 23%, meta prevista pelo BNA para 2024.
“Mas, é importante destacar que depende muito essa evolução daquilo que é o preço da classe dos bens alimentares e bebidas não alcoólicas e da classe de saúde, são as duas principais classes que têm vindo a registar aumento e que têm vindo a pressionar a inflação em Angola. Essa tendência poderá vir a ser moderada à medida em que a economia conseguir produzir mais bens”, concluiu o economista.
Wilson Chimoco é economista, professor de Macroeconomia na Universidade Católica de Angola, investigador colaborador no Centro de Estudos e Investigação Científica na Universidade Católica de Angola, Analista bancário e “Contributor da Economist Intelligent Unit”.