45% DOS POÇOS PETROLÍFEROS ESTÃO FECHADOS

Cerca de 45% dos 1.630 poços de petróleo perfurados em Angola estão fechados, embora nem todos definitivamente abandonados, disse hoje Ana Miala, administradora da concessionária angolana.

Ana Miala, administradora executiva da Agência Nacional de Petróleo, Gás e Biocombustíveis (ANPG), que falava aos jornalistas em Luanda, adiantou que há, distribuídos pelas várias concessões petrolíferas, 760 poços fechados por avarias mecânicas, problemas técnicos ou esgotamento de reservas, dos quais apenas 70 são ‘onshore’.

Alguns deles serão abandonados definitivamente por terem esgotado as reservas, enquanto outros serão reabertos quando houver oportunidade, acrescentou a responsável da ANPG à margem de um encontro com jornalistas onde foi feito um balanço das actividades da concessionária nacional e apontadas perspectivas para os próximos anos.

Ana Miala indicou que “há muito trabalho a ser feito” para melhorar a atracção do investimento para o sector petrolífero angolano, entre os quais um projecto de produção incremental que vai permitir aos operadores aumentarem os investimentos para maximizarem a produção.

“O projecto de produção incremental vai dar esta oportunidade aos operadores voltarem a investir nos poços”, adiantou, explicando que envolve também alterações quanto às condições de partilha entre o Estado e o grupo investidor.

Questionada sobre como estão a ser usados os fundos de abandono, destinados ao desmantelamento dos poços que chegaram ao fim da sua vida útil, frisou que ainda não houve nenhum abandono definitivo de poços, o que quer dizer que estes fundos ainda não estão a ser utilizados.

“Mas há a previsão de começarmos a abandonar definitivamente alguns poços nalgumas concessões”, adiantou Ana Miala, esclarecendo que “só se pode mexer nos fundos de abandono quando a concessão tiver um plano de abandono definitivo aprovado pelo Estado.

“Só se submete um plano final de abandono quando a concessão é para encerrar”, afirmou, admitindo que “existe necessidade de diminuir o número de poços fechados temporariamente e fechá-los definitivamente”.

Os fundos de abandono são recursos financeiros depositados pelas operadoras em nome dos grupos empreiteiros dos blocos petrolíferos em contas de garantia da concessionária nacional de petróleo e gás, para serem utilizados futuramente no desmantelamento de campos petrolíferos.

O presidente da ANPG, Paulo Jerónimo, indicou que o fundo conta neste momento com cerca de 5,5 mil milhões de dólares depositados em contas garantias e cerca de 800 milhões de dólares em títulos.

O plano estratégico da ANPG 2023-2027 prevê, entre outras acções, a estabilização da produção petrolífera acima de um milhão de barris de petróleo/dia, quadro regulatório para acelerar as actividades, incentivos à produção incremental com redução da carga fiscal e partilha mais equilibrada, licitação de blocos no pré-sal, regulamentação favorável ao investimento em biocombustíveis, etc..

Desde 2019, a concessionária nacional adjudicou 32 concessões petrolíferas, das quais 16 por meio de licitação e 16 por atribuição directa.

Recorde-se que a Agência Internacional de Energia (AIE) prevê que a produção de petróleo em Angola fique ligeiramente acima de 1 milhão de barris por dia até 2030, caindo 100 mil barris face aos 1,18 milhões de produção actual.

“Angola, que saiu da Organização dos Países Exportadores de Petróleo no princípio de 2024, deverá ver a sua produção de petróleo abrandar cerca de 100 mil barris por dia, para cerca de 1 milhão por dia até 2030”, lê-se num relatório recentemente divulgado em Paris, a sede da Agência.

No documento, os peritos da AIE salientam que “a produção petrolífera em Angola tem estado em queda há anos devido a activos com desempenho abaixo do esperado e problemas operacionais”.

A produção de Angola, o segundo maior produtor de petróleo na África subsaariana, a seguir à Nigéria, “atingiu o pico entre 2008 e 2016, com 1,7 a 1,8 milhões de barris bombeados diariamente, antes de começar um declínio agravado por problemas operacionais nos seus poços ultra-profundos e de elevado custo”, lê-se no relatório, que aponta também para 2028 como o primeiro ano de produção dos poços Cameia e Golfinho, da francesa TotalEnergies, que deverão render 70 mil barris por dia.

Nas previsões, a AIE vê Angola a bombear 1,11 milhões de barris por dia em 2024, e depois 1,08 e 10,9 nos dois anos seguintes; em 2027 a produção deverá subir para 1,10 milhões, mas depois cai para 1,08 no ano seguinte, para 1,06 milhões em 2029 e chega a 2030 bombeando 1,04 milhões de barris por dia.

No relatório anual sobre o mercado petrolífero a médio prazo, a AIE estima que a produção deverá aumentar para cerca de 113,8 milhões de barris por dia até ao início da década, o que resultará num excedente de extracção de cerca de oito milhões de barris, cerca de dois milhões mais do que actualmente.

Esta margem “maciça”, de dimensão apenas comparável à da crise da covid (em 2020 ultrapassou nove milhões de barris por dia), ameaça directamente a estratégia do cartel petrolífero OPEP+ para evitar a queda dos preços.

O ministro dos Recursos Minerais, Petróleo e Gás de Angola disse que o esforço do país actualmente não está virado para o aumento da produção petrolífera, mas sim em mantê-la em torno de um milhão de barris diários.

“A nossa grande luta agora não é para aumentar a produção, é para estabilizar a produção aí em um milhão mais ou menos [de barris diários]”, disse Diamantino Azevedo, quando respondia perante deputados da Comissão de Economia e Finanças da Assembleia Nacional, numa audição parlamentar para abordar a situação do sector que dirige.

O titular da pasta dos Recursos Minerais, Petróleo e Gás sublinhou que “é natural” o declínio da produção que Angola regista há alguns anos.

“É como um copo de água, bebemos, ele acaba, temos que repor. É como o petróleo, nós estamos a explorar há anos, as reservas vão exaurindo, é necessário procurar e se tivermos sorte encontramos e nem sempre encontramos na mesma proporção que retiramos”, referiu.

Segundo o ministro, “é preciso investir”, porque Angola esteve, depois de “anos de ouro da indústria do petróleo”, um período longo sem novos investimentos.

Folha 8 com Lusa

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