O Presidente Emmanuel Macron fez um discurso sobre o que afirma destacar como a sua política externa, antes de iniciar a sua viagem que o levará a países de língua francesa, Gabão, Congo e RD Congo, e Angola.
Por Osvaldo Franque Buela (*)
I mporta referir que esta viagem decorre num contexto de crise diplomática, onde a influência francesa se perde em África, pela ascensão da influência russa e chinesa, pontuada também pela guerra entre a Rússia e a Ucrânia, apoiada pelo Ocidente, numa altura em que certas guerras injustas em África estão quase esquecidas pelos mesmos.
O que nos chamou um pouco a atenção neste discurso é que, em geral, o presidente Macron se dirigiu mais à opinião pública francesa, diante da qual tem dificuldades de convencer graças às suas reformas injustas e por a sua política de imigração, do que à juventude africana e aos países que visitará. É, portanto, um discurso vazio para a nossa juventude e, em última análise, um insulto a esta juventude africana que espera soluções de futuro para os muitos desafios das suas vidas.
Quando vejo os temas que vai desenvolver nestes países, há razão para colocar a questão concreta de saber realmente o que vai trazer aos angolanos e à sua juventude que sofrem com a exclusão política, a falta de espaço para manifestações e uma oposição desrespeitada sem espaço de expressão na mídia estatal.
Quatro países, em quatro dias – Gabão, Angola, Congo-Brazzaville e República Democrática do Congo (RDC) – e quatro temas: luta contra as alterações climáticas e protecção das florestas em Libreville, segurança alimentar em Luanda, questões memoriais em Brazzaville e, finalmente, intercâmbios e parcerias económicas, científicas e culturais em Kinshasa.
Segurança alimentar em Luanda? Mas a quem engana num país com grande sede de justiça, de distribuição equitativa da riqueza, diversificação económica e o fim da instrumentalização da justiça para fins políticos ligados ao regime corrupto de João Lourenço?
Os angolanos que estão habituados com o fuba podre e à morte precoce antes dos 5 anos com febre tifóide e malária precisam de perspectivas futuras e não slogans vazios. O povo Angolano precisa de mais lições de direitos humanos e boa governação por parte de um país de prestígio como a França, porque continua ser privado do banquete por parte dos dignitários do MPLA com o seu próprio dinheiro, e o banquete ainda piorou com a chegada de João Lourenço ao poder.
O Presidente Macron prestar-se-á desnecessariamente a um acto de equilíbrio de que não necessita em dois países, Gabão e RDC, em pleno ano eleitoral, com eleições presidenciais previstas, respectivamente no final do Verão e no final do ano, calendário que já provocou a reacção de parte da oposição e da sociedade civil gabonesa, para quem esta viagem pode ser vista como um apoio ao presidente Ali Bongo que, apesar da saúde física e mental muito precária, pode concorrer a um terceiro mandato.
O senhor Macron em seu roteiro só falou rapidamente sobre corrupção, não pronunciou a palavra ‘boa governança’… sabendo perfeitamente que a África hoje está completamente arruinada porque a governabilidade política obscureceu todos os outros aspectos, como se estivesse a proteger esses ditadores providenciais que decidem tudo em seus países, que criam as instituições, que enriquecem empobrecendo seus povos violando as Constituições.
Tive a impressão de ouvir as mesmas palavras do seu discurso em Ouagadougou em 2017, as mesmas palavras, as mesmas promessas de ruptura que nunca aconteceram, foi um discurso “infantilizante”, com muitas contradições, ambiguidades, por exemplo, quando o presidente Macron afirma que não deseja entrar em uma competição no continente, é justamente porque sabe que a competição é acirrada com a China e a Rússia e que a França já se posiciona como perdedora declarada, embora eu seja contra essa influência negativa da Rússia em África.
Também sobre a democracia, notei que há realmente um “peso duplo, duas medidas” da França na questão dos terceiros mandatos na África, na transição no Chade, para não dizer na guerra injusta e vergonhosa que o Ruanda leva no RD Congo e sobre a situação em Cabinda onde a Total explora grande parte do petróleo e do gás que abastecem a indústria francesa.
Vivendo em França, assumo o meu ponto de vista, sem ofensas aos colonialistas e neocolonialistas que ocupam Cabinda e empobrecem o seu povo, pois sei que a força da razão estará sempre certa na razão da força como costuma dizer jornalista e amigo Orlando Castro.
Deus abençoe Cabinda e África!
(*) Activista e refugiado político na França
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