Portugal é porta de entrada na Europa para muitos jovens angolanos, que, “desesperados” pela falta de emprego e melhores condições de vida, apesar de o Presidente da República (João Lourenço) dizer que o país é (quase) um paraíso, no que é corroborado pelo Presidente do MPLA (João Lourenço) e pelo Titular do Poder Executivo (João Lourenço), dizem-se ávidos em emigrar para o espaço europeu por “faltar quase tudo” em Angola.
No novo centro de vistos dedicado a Portugal, inaugurado na segunda-feira em Luanda, as filas quase intermináveis desde as primeiras horas do dia são símbolo da pretensão dos jovens que apostam no sonho europeu para realizar as suas vidas.
Buscar melhores condições de vida, oportunidade de emprego, formação qualificada ou turismo são os propósitos de muitos jovens que acreditam em dias melhores, mas fora do território angolano que, como se sabe, é “excelentemente” governado há 47 anos pelo MPLA.
A ansiedade leva muitos a acordar cedo para obter um lugar prioritário nas filas, onde muitas vezes os ânimos se exaltam, devido ao tempo de espera para obter resposta ao seu visto, passaporte ou apenas obter o agendamento.
“Há muita procura dos vistos para Portugal, porque Portugal para nós é a porta para Europa, por isso é que há mesmo muita procura”, diz Damião Mabiala, 30 anos, agente comercial, ansioso por emigrar pela primeira vez.
No meio de centenas de jovens, que não passam despercebidos para quem circula no Largo da Ingombota, centro de Luanda, está a jovem empresária Mirela Almeida, que quer conhecer Portugal e fazer turismo, embora não descarte a possibilidade de ali fixar residência.
“Vou a Portugal em turismo, para conhecer, apenas para conhecer. Sempre tive vontade de ir para lá e, então, acho que agora é o momento certo, vim cá para fazer o agendamento”, disse.
Mirela Almeida, 27 anos, sabe do “desespero” de muitos jovens que desejam emigrar à procura de melhores condições de vida: “É muito normal as pessoas estarem à procura de melhores condições e por isso está essa enchente toda”.
Apontando para as pessoas em redor do novo centro de emissão de vistos para Portugal, Mirela Almeida assegurou que não pretende ficar em Portugal, mas admite essa possibilidade para o futuro.
“Todo mundo quer sair para conhecer novos países e aqui está essa procura toda. Até ao momento não vou para ficar, quem sabe mais para a frente”, explicou.
Fazer turismo é também a pretensão do engenheiro agrónomo Abreu Sateco, 28 anos, que diz estar expectante para conhecer “as terras de Camões”, mas não quer emigrar. “Cada um tem os seus propósitos e as suas metas a atingirem na vida”, disse.
Já Cristo Lomba quer emigrar para fazer formação superior em Portugal e procurar outros rumos no espaço europeu, porque diz estar “desesperado” com a “falta de oportunidades de emprego e formação qualificada” em Angola.
“É uma vontade dos jovens, porque aqui as condições de vida e a facilidade ou qualidade do ensino não é tão eficaz quanto aos países europeus, como Portugal (que) tem uma qualidade de ensino boa, tem uma estabilidade de vida, em que qualquer um consegue viver ou ter emprego”, referiu.
O estudante e funcionário de bar de 24 anos, que acorreu ao local para saber os procedimentos para obtenção de visto para Portugal, afirma que o desespero dos jovens angolanos para emigrar é generalizado, sobretudo devido ao elevado índice de desemprego.
“Um dos maiores problemas daqui de Angola é o desemprego, então essa ansiedade de emigrar para (países da) Europa, como Portugal, vem surgindo através dessa situação de falta de emprego”, argumentou.
“Sim, digo que sim, estamos desesperados. Hoje em dia, você pergunta aos jovens se querem emigrar eles dizem que não olhariam para trás se tivessem oportunidade, tudo por causa dessas situações, a qualidade de vida é péssima, não tem emprego”, disse.
Portugal inaugurou um centro de vistos dedicado em Luanda, com o qual espera acelerar os processos, segundo a cônsul-geral, que pediu “tempo” e “confiança” aos utentes e avançou que será dada prioridade aos vistos de cidadãos da CPLP – Comunidade dos Países de Língua Portuguesa.
Rosa Lemos Tavares salientou que foi iniciada em Outubro a tramitação de novas tipologias de vistos nacionais, introduzidas pela nova Lei de Estrangeiros que permitiu implementar o Acordo de Mobilidade da CPLP, criando o sub-regime de vistos CPLP.
Estes vistos nacionais prevêem estadias em Portugal superiores a 90 dias e têm como finalidade a frequência do ensino superior, trabalho, tratamento médico prolongado e reagrupamento familiar, entre outras categorias, aos quais se juntaram novas como a dos nómadas digitais, procura de trabalho e acompanhamento familiar.
Até agora os pedidos de visto para Portugal eram entregues e processados num centro da VFS Global, juntamente com os da África do Sul, Bélgica, Brasil, China, França, Países Baixos e Ucrânia.
A empresa VFS Global, contratada pelo Governo português, trata do agendamento e aceitação de candidaturas de solicitação de vistos online, enquanto a autorização dos pedidos de visto é feita pelo consulado.
Segundo Rosa Tavares, as novas instalações estão divididas em duas áreas (submissão de pedidos de visto e entrega de passaportes), dispondo de mais balcões, mais funcionários e duas salas de espera em cada área, uma com 40 e outra com 34 lugares sentados, bem como um quiosque digital com acesso aos sites da VFS Global, Consulado de Portugal em Luanda e portal de vistos do Ministério dos Negócios Estrangeiros.
Folha 8 com Lusa