QUEM AGE ASSIM NÃO É POLÍCIA, É TERRORISTA

A Polícia angolana voltou violentamente a deter e reprimir uma marcha pacífica dos activistas, hoje, em Luanda. Desta vez, era para exigirem justiça, fim de perseguição às zungueiras e liberdade já para os presos políticos. Infelizmente, o itinerário da marcha com a partida do Largo das Heroínas até ao Ministério da Justiça e dos Direitos Humanos findou no mesmo lugar onde a Polícia do regime MPLA distribuiu os “rebuçados e chocolates”, aos activistas e não dando espaço aos Jornalistas.

Por Elias Muhongo

A Polícia angolana voltou a reprimir e deter violentamente mais de dez activistas numa marcha pacífica que pretendiam realizar este sábado, em Luanda. Os activistas convocaram uma marcha “pela justiça e liberdade” a fim de pedir a libertação de presos políticos. Tanaice Neutro, Luther King, José Julino Kalupeteca e o líder do Movimento Protectorado Lunda-Tchokwe, José Domingos Mateus “Zecamutchima”, alguns dos presos citados e as perseguições predatórias às mulheres zungueiras e vendedores ambulantes, levada a cabo pela Policia Nacional de Angola e pelos fiscais do Governo da Província.

O uso descontrolado da força por parte destes, tem resultado em lesões físicas graves e na morte de alguns cidadãos. Os exemplos mais recentes remontam do dia 9 de Dezembro de 2022, no bairro do Cassequele, zona da Teixeira, onde agentes da polícia assassinaram a jovem zungueira Raquel Kalupe, cidadã de 30 anos de idade e que deixou em vida 7 filhos. No mesmo episódio foram gravemente feridos Lucas Mandamba e António Kicongo, cidadãos transeuntes que apenas passavam por aquele local.

A brutalidade violenta contra os manifestantes aconteceu por volta das 11h:50 de Angola, período da concentração dos manifestantes no largo das Heroínas, com o destino no Ministério da Justiça e dos Direitos Humanos na capital angolana.

“Não é só os activistas da organização que foram detidos, a polícia já começou a busca desde ontem dia 27, foram detidas pessoas e não sabemos quantos são de momento e ninguém sabe quantos foram, estamos a fazer o alevantamento”, explicou o activista Adolfo Campos antes de ser detido e algemado violentamente.

Entre os detidos antes do Adolfo Campos dentro da viatura da polícia estava a activista Laurinda Gouveia, Geraldo Dala e os demais que gritavam “estamos a ser preso e não sabemos onde estão a nos levar”, informam, aos órgãos presentes.

O jornal Folha 8 assistiu e reportou a forte presença da Policial em todos os cantos do largo das Heroínas de Luanda. Igualmente, Os agentes cercaram o Largo da Independência e das Heroínas, locais onde se pretendia a realização da Manifestação. Efectivos da Polícia Nacional e outros agentes à paisana impedem os cidadãos de permanecerem nos espaços públicos, inclusive os jornalistas que estavam no local para reportar a marcha.

Joaquim Manuel, de 39 anos, deslocou-se até ao largo das heroínas após tomar conhecimento da iniciativa pelas redes sociais: “Como não poderia ficar indiferente ao que está a passar-se no país resolvi dar uma volta para ver como estão as coisas e não gostei do que vi. O futuro do povo angolano é incerto sem lucidez e consciência patriótica, a liberdade das pessoas está a ser violada“, disse.

“Não sei o que se passa com os dirigentes do nosso país, por um cidadão se fazer presente num local público é logo preso. Hoje deveria ser preso e não faria nada mal porque já temos presos políticos e agora dos activistas que estão a ser detidos. Nós estamos aqui a mostrar descontentamento com o nosso país e com a governação do MPLA”, criticou.

O cidadão Abel Fernando salientou que “ninguém criou desordem, ninguém partiu para a agressão, ninguém destruiu bens públicos” e que as pessoas estavam ali “pacificamente”.

O activista Adolfo Campos, em entrevista, afirmou que “o país está em paz, não há motivo de as forças de segurança reprimirem, intimidarem as pessoas, baterem, prenderem”, apelando à polícia: “Quando as pessoas querem manifestar-se deixem manifestarem-se, ninguém está a roubar nada a ninguém, estamos aqui a mostrar o nosso descontentamento com a governação do país. Exigimos novas medidas para combater a fome e o desemprego, reduzir o preço dos produtos da cesta básica, além de melhorias na qualidade dos serviços de saúde, sem esquecer que a marcha é pela libertação dos presos políticos” e foi reprimida pelas autoridades nacionais.

O F8 e a TV8, persistiu questionar aos agentes que alegaram a ausência de autorização do Governo da Província de Luanda e do Ministério do Interior. Mais 10 activistas e organizadores foram detidos quando se concentravam para a marcha que visava exigir a libertação de activistas considerados “presos políticos”.

Os activistas Laurinda Gouveia, Adolfo Campos e os demais, organizadores da marcha, também foram detidos, segundo as autoridades policiais, que impediram os manifestantes de falarem à imprensa, alegando que a manifestação não foi autorizada pelo Governo da Província de Luanda.

O activista Adolfo Campos viveu um clima de “terror” no ponto de encontro da marcha, “pela justiça e liberdade”, depois de 5 activistas terem sido detidos pelas autoridades angolanas.

Adolfo Campos diz que “O MPLA pensa que este país é dele, apesar das constantes agressões, as manifestações vão continuar até que os chamados presos políticos forem libertados. No nosso ponto de vista, eles são inocentes e estão presos injustamente. Neste momento, já se esgotou todo o processo de prisão preventiva, não há justificação legal para manterem o Luther e o Tanaice presos. Os polícias retiraram cartazes e prenderam os meus colegas, nomeadamente, a Laurinda Gouveia, o Geraldo Dala, o Matulunga Cesar Kiala e já estão a vir para me deter, olhem senhores jornalistas, é triste saber isso, estão a algemar-me, estão a me a matar, estão a me afogar aí, grita e choraminga”, o activista Adolfo Campos.

O largo das Heroínas foi “completamente cercado” por veículos da polícia de intervenção rápida, “num clima de terror”, aponta o activista Osvaldo Kaholo. “Há carros de água, carros blindados. A repressão da marcha já começou”, denuncia.

O deputado Carlos Xavier Lucas também foi detido hoje pela polícia Nacional momentos depois da dispersão da marcha. Mesmo com uma forte chuva que a cidade capital recebeu, não impediu que a polícia partidocrata colocasse um forte aparato policial para dispersar com uso da força todas aglomerações de jovens desde o largo das Heroínas até ao Primeiro de Maio. Na origem estava a convocação de uma manifestação a exigir a libertação dos presos políticos.

De realçar que, há um ano que os activistas, Gilson da Silva Moreira “Tanaece Neutro” e Luther Campos são acusados de vários crimes, entre os quais o de ultraje ao Estado. O “Tanaice Neutro”, condenado a pena de prisão suspensa de um ano e três meses, aguarda o acórdão do Tribunal da Relação face ao recurso interposto pelo Ministério Público. Já o julgamento de Luther Campos foi adiado na sexta-feira (27.01) devido ao falecimento da juíza da quarta sessão do Tribunal de Luanda, onde o activista é julgado. A defesa afirma que “já não se justifica a prisão preventiva do arguido”. São considerados “presos políticos” os activistas Tanaice Neutro, Luther Campos, presos há um ano, ainda o líder da seita religiosa “A Luz do Mundo”, José Kalupeteca, e o líder do auto-denominado Movimento do Protetorado Lunda Tchokwe, José Domingos Mateus “Zecamutchima”.

O Jornal Folha 8 contactou o porta-voz do Comando Provincial de Luanda da Polícia Nacional, superintendente-chefe Nestor Goubel, sem sucesso.

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