O líder da UNITA, Adalberto da Costa Júnior, principal partido da oposição que, a muito custo, o MPLA ainda permite em Angola, usou “o que aconteceu” agora em Portugal para questionar se em Angola seria possível a investigação de um primeiro-ministro e a detenção de membros do Governo português. Não, não seria. Mas todos, sobretudo os portugueses, sabem que desde José Sócrates a António Costa, todos os socialistas lusos gostavam que a justiça portuguesa fosse como é a do… MPLA.
Adalberto da Costa Júnior disse: “Convido a todos, vejamos o que aconteceu em Portugal: uma suspeita de corrupção, uma suspeita de favorecimento e contratação pública, levou as instituições a investigar, inclusive o primeiro-ministro, os seus ministros e a prender membros do Governo”.
Segundo o líder da UNITA, a Procuradoria da República em Portugal, assumindo toda a sua independência, actuou em defesa do interesse público e da transparência. No caso da PGR do MPLA é diferente. Desde logo porque no reino “socialista” de João Lourenço – como também acontece diversas vezes em Portugal – “interesse público” e “transparência” significa o que o MPLA quiser que signifique.
“E um primeiro-ministro, que tem uma maioria absoluta na Assembleia Nacional, apresentou de imediato a sua demissão, colocou-se à disposição dos órgãos de justiça! Era possível estes factos terem lugar em Angola? As nossas instituições investigam o Presidente da República? A Procuradoria faz a defesa dos interesses públicos, com coragem e isenção? O SIC (Serviço de Investigação Criminal) e demais instituições ligadas à investigação criminal têm autonomia e os seus comandantes servem o Estado com total independência aos interesses do partido que governa? Sabemos todos que não!”, declarou.
O presidente da UNITA recorreu também à situação política em Moçambique para dizer que naquele país começa a haver mudanças.
“Em Moçambique as vozes dos grandes começam a ser ouvidas: Samora Machel Júnior, falou, a mamã Graça Machel também falou com coragem e falou bonito. O antigo presidente da Comissão Eleitoral também fez declarações com muita coragem. E aqui? Aqui os Mais Velhos precisam de trazer a sua voz e a sua acção, para que o país perceba que não estão abandonados! Urge escolher Angola. Retomar a capacidade de dialogar. Ir ao médico e pedir uma pílula contra a intolerância, contra o medo, contra a arrogância, contra a extrema corrupção e, mais importante, uma pílula para abrir as portas do nosso Kremlin à democracia”, acrescentou.
Entretanto, no reino lusitano a Norte (embora cada vez mais a Sul) de Marrocos, as autoridades apreenderam 75.800 euros em numerário no escritório de Vítor Escária, chefe de gabinete de António Costa. Estavam – revela o jornal Público – repartidos por diversos envelopes, escondidos em livros e em caixas de vinho. Os elementos da PSP, o juiz de instrução e o procurador Rosário Teixeira encontraram no gabinete de Vítor Escária na residência oficial do primeiro-ministro
As buscas ao escritório do chefe de gabinete do primeiro-ministro António Costa foram realizadas na tarde de terça-feira, tendo começado enquanto o primeiro-ministro fazia a declaração ao país anunciando ter pedido a demissão ao Presidente da República.
Nas buscas ao gabinete de Vítor Escária não foi apreendido qualquer material directamente ligado ao primeiro-ministro, mas a prova digital recolhida, como agenda electrónica, emails, conversas por sms e Whatsapp, será analisada nas próximas semanas e só então se poderá verificar se existem referências a António Costa.
O Público apurou também que em casa do ministro João Galamba foi apreendida uma pequena quantidade de haxixe, mas dentro do valor legal admissível por lei para autoconsumo. Ali foram também apreendidos telemóveis e computadores para extrair informação, como e-mails Whatsapp e SMS.
O chefe de gabinete de António Costa foi detido logo ao início da manhã em sua casa onde a equipa de investigadores da Operação Influencer esteve a realizar buscas desde as 7h, assim como o consultor próximo de Costa, Diogo Lacerda Machado, e o presidente da Câmara de Sines, o socialista Nuno Mascarenhas, assim como dois executivos de empresas.
Segundo o Expresso, Vítor Escária é (era) o homem-chave de António Costa no Governo, embora formalmente não faça parte do Executivo. É tão discreto quanto poderoso. A tal modo que é a porta que se fecha, até a ministros. Para falarem com o chefe do Governo têm de passar pelo apertado filtro do seu chefe de gabinete. Economista de profissão, especialista em fundos europeus, é a sombra do primeiro-ministro e uma espécie de ‘ministro-adjunto’ com poderes reforçados.
Quando António Costa saiu de Belém, no célebre dia do conflito com o Presidente da República por causa do ministro João Galamba, em Maio deste ano, foi com Vítor Escária que desabafou e traçou a estratégia de resposta, ainda no átrio do Palácio de Belém. Ambos com ar grave, Escária olhou para cima e entraram no carro. Foi então que o primeiro-ministro decidiu ligar o seu destino ao do seu ministro das Infra-estruturas. Quem lá estava no momento da decisão era o seu chefe de gabinete.
Aluno excepcional do ISEG, Vítor Escária foi assessor económico de José Sócrates e regressou a São Bento em 2015 com a geringonça. Foi constituído arguido em 2017 no caso conhecido como “Galpgate”, demitiu-se e regressou em 2020. No ano passado voltou a ser nomeado chefe do gabinete de António Costa.