NO QUE NÃO INTERESSA, ANGOLA LIDERA

Trinta e quatro técnicos de saúde do município da Caála, província do Huambo, poderão ser formados, este ano, em matérias de prevenção, diagnóstico, tratamento e combate à tuberculose.

Com este plano estratégico, as autoridades sanitárias do município da Caála pretendem, segundo a Angop, aproximar a rede de tratamento da doença nas quatro comunas, nomeadamente Calenga, Catata, Cuima e Sede.

Segundo o supervisor do Centro local de Diagnóstico e Tratamento da Tuberculose, José Castilho, depois da formação, com início previsto para breve, os técnicos deverão ser distribuídos pelas 34 unidades sanitárias que compõem o Sistema de Saúde da localidade, excepto o Hospital municipal.

O responsável disse que a ideia visa prevenir, diagnosticar e tratar a doença, de forma eficiente, em todas as localidades do município, no quadro da aproximação dos serviços de saúde junto à população.

Sem apresentar dados comparativos, José Castilho lembrou que, em 2022, foram diagnosticados 177 casos de tuberculose, na sua maioria, em tratamento ambulatório.

Acrescentou que ao longo deste período, quatro doentes abandonaram o tratamento, enquanto igual número com casos resistentes foi reavaliado pelos técnicos do Hospital municipal, que dispõe de stock suficiente de medicamentos para distribuição gratuita. O responsável adiantou que os doentes graves têm sido transferidos, com regularidade, para o Hospital Sanatório do Huambo.

O município da Caála, um dos 11 que compõem a província do Huambo, conta com o método de Tratamento Directo Observado (DOT) de tuberculose aos doentes ambulatórios, para evitar a proliferação patológica e encurtar a distância percorrida pelos doentes em busca de cuidados clínicos.

Aqui chegados, recorde-se que a unidade especializada de tratamento da tuberculose em Luanda registava em 2017 mais de 500 novos casos da doença por mês, números que preocupavam a direcção do Hospital Sanatório da capital. Num país rico que tem 20 milhões de pobres é apenas mais uma das suas bandeiras.

Os números foram divulgados nos primeiros meses do ano da graça da chegada ao comando de Angola do general João Lourenço, pelo director clínico daquela unidade hospitalar, João Chiwana, em alusão ao dia mundial de luta contra a tuberculose, que se comemora a 24 de Março.

De acordo com o responsável, as novas infecções são maioritariamente pulmonares e tendem a crescer significativamente, devido à ineficácia dos programas de combate à tuberculose desenvolvidos e à procura tardia pelos doentes de tratamento.

“A não procura dos cuidados médicos durante o aparecimento dos primeiros sintomas pode levar a uma infecção dos membros da família, colegas de escola e vizinhos próximos”, referiu João Chiwana.

O responsável salientou que são mais afectados jovens e o insucesso nos programas de combate à doença deve-se sobretudo ao abandono do tratamento pelos pacientes, bem como ao consumo exagerado de bebidas alcoólicas, drogas e tabaco.

Na sua mensagem para assinalar a data, a então directora regional da Organização Mundial de Saúde (OMS) para África, Matshidiso Moeti, disse que a tuberculose continua a ser uma das dez principais causas de morte no mundo e que cada um em quatro novos casos de infecção ocorre no africano, que conta também com 16 dos 30 países que têm o fardo mais elevado da doença.

Segundo Matshidiso Moeti, embora o número de casos de tuberculose a nível mundial esteja a diminuir, houve uns estarrecedores 10,4 milhões de novos casos estimados da doença em 2015.

“Mais de um terço destes continuam por diagnosticar e tratar, ou encontram-se diagnosticados, mas não estão registados nos programas nacionais de luta contra a tuberculose”, salienta.

HÁ 47 ANOS SEMPRE NO TOP

Moçambique, Angola e Brasil estavam entre os 20 países com maior incidência de tuberculose no mundo, estimando-se que cada um tenha registado mais de 80 mil novos casos da doença em 2015.

O relatório global sobre a tuberculose, publicado pela Organização Mundial de Saúde (OMS), estimava que tenham surgido 10,4 milhões de novos casos de tuberculose no mundo e alertava que, embora a incidência e a mortalidade estejam a cair, era preciso acelerar o ritmo para se alcançarem os objectivos da estratégia para a eliminação da doença.

Com base em dados recolhidos junto de 202 países e territórios, que representam mais de 99% da população mundial e dos casos globais de tuberculose, o relatório destacava os 20 países com maior número absoluto de novos casos, a que junta os dez países que, não estando na lista anterior, têm maior proporção de novos casos na sua população.

Entre os 20 primeiros surgem Moçambique, com 154 mil novos casos em 2015, Angola, com 93 mil novos casos, e o Brasil, com 84 mil novos casos.

A taxa de incidência, o número de novos casos em relação ao tamanho da população, é muito variável entre países, indo desde menos de 10 novos casos em cada 100 mil habitantes até mais de 500.

Entre os países com maior taxa de incidência está Moçambique, com 551 novos casos em cada 100 mil habitantes, taxa só superada pela Coreia do Norte, com 561 novos casos por 100 mil habitantes, o Lesoto, com 788, e a África do Sul, com 834.

O relatório cruzava a lista dos 30 países com alta incidência de tuberculose com duas outras listas: a dos 30 países com mais novos casos de tuberculose multirresistente e a dos 30 países com mais novos casos de tuberculose associada ao HIV/Sida.

Há 48 países que estão pelo menos numa das três listas e 14 países que surgem nas três listas, dois dos quais são de língua portuguesa: Moçambique e Angola.

O Brasil está em duas – grande incidência de tuberculose e grande incidência associada ao HIV – e há ainda outro lusófono que surge apenas na lista dos países com mais tuberculose ligada ao VIH: a Guiné-Bissau.

Em Angola, estimava-se 93 mil novos casos de tuberculose em 2015 (uma taxa de 370 em cada 100 mil), dos quais 28 mil eram HIV positivos (30%) e 4.100 casos de tuberculose multirresistente. No mesmo ano morreram no país, por causa da tuberculose, 11 mil pessoas com HIV negativo (45 em 100 mil habitantes) e 7,2 com HIV positivo (29 em 100 mil habitantes).

A OMS alertava, no entanto, que os números estimados não correspondem necessariamente a casos notificados. Dos 10,4 milhões de novos casos estimados, apenas 6,1 milhões foram detectados e oficialmente notificados em 2015, o que representa uma diferença de 4,3 milhões.

Esta diferença reflecte uma mistura de subnotificação de casos detectados (principalmente em países com grandes sectores privados) e de subdiagnóstico (especialmente nos países com maiores dificuldades de acesso aos serviços de saúde).

Um dia no meio de muitos dias

No dia 24 de Março celebra-se o Dia Mundial de Combate à Tuberculose. A data criada em 1982 pela Organização Mundial da Saúde homenageia o anúncio (há mais de 100 anos) do descobrimento do bacilo causador da tuberculose, ocorrida em 24 de Março de 1882, pelo médico Robert Koch. Apesar de mais de 43 milhões de vidas tenham sido salvas no mundo por meio de diagnóstico e tratamento efectivo, entre os anos de 2006 e 2015 a tuberculose estava entre as doenças infecciosas que mais matou.

Segundo o pneumologista brasileiro do Hapvida Saúde, Jorge Benevides, é importante reforçar que: “Se o tratamento for interrompido, pode levar à necessidade de troca de medicamento para um mais forte e um prolongamento da terapia por um ou até dois anos”.

A tuberculose é uma doença causada pelo bacilo de Koch, que destrói o pulmão, podendo ser disseminadas para outras partes do corpo, tais como ossos, meninges, órgãos genitais e rins. Nos infectados, os sintomas mais frequentes são a perda de peso, revelando um emagrecimento, febre baixa, que se apresenta mais ao fim do dia, tosse que se estende por mais de três semanas. “Entretanto, alguns pacientes não exibem nenhum sintoma perceptível da doença, mas apresentam fraqueza e cansaço excessivo, que também devem ser avaliados por médicos”, pondera o pneumologista.

O tratamento da tuberculose é feito à base de antibióticos e é eficaz desde que seja feito correctamente, sem abandonar os cuidados necessários ou a medicação. “Alguns pacientes sentem os efeitos colaterais da medicação e apresentam enjoos, indisposição e mal-estar geral, mas, ainda assim, é fundamental que o tratamento não seja interrompido. Seguindo correctamente as orientações e cuidados da terapia, em seis meses obtém-se cura total”, reforça Jorge Benevides.

Alguns grupos estão mais vulneráveis a adquirir a doença, tais como portadores de doenças que debilitem o sistema imunológico (imunodeficiências) e pessoas que sejam dependentes de álcool ou outras drogas. Indivíduos que apresentem quadros de desnutrição também são consideradas grupos de risco. Por isso, algumas medidas de prevenção são fundamentais para evitar a doença.

A primeira das recomendações de prevenção seria fazer a vacina da tuberculose (BCG) até aos 30 dias depois do nascimento, ou o mais rápido possível durante a infância. De acordo com o especialista, hábitos de vida mais saudáveis também são formas de prevenção.

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