O general Francisco Furtado, Chefe da Casa Militar do presidente João Lourenço, diz que existem grupos de pessoas que incentivam os jovens a práticas que chamou de subversivas com o objectivo de criar instabilidade em Angola. Bento Bento dizia que a direcção do MPLA “tinha dados da inteligência (informações) nas suas mãos que apontam que a UNITA estava prestes a levar a cabo um plano B”.
Em Setembro de 2011, o MPLA desafiou, em Luanda, os organizadores de protestos a conseguirem mobilizar mais pessoas do que as que o partido mobiliza. Hoje o MPLA responde à iniciativa da UNITA para destituir o Presidente da República diabolizando-a, tenta comprar os votos de deputados da UNITA, investiga as mortes na Jamba e prepara-se para descobrir paióis e grupos armados afectos ao partido de Adalberto da Costa Júnior.
Num encontro convocado pelo Comité Provincial de Luanda do MPLA, com membros de várias direcções do partido, para análise da situação política em Angola, o então primeiro secretário do comité de Luanda, Bento Bento, considerou que a situação “inspirava cuidados especiais”, por ser “delicada”.
Este Bento Bento fez lembrar um outro Bento… Bembe que, na época, atento ao seu papel de súbdito de sua majestade o rei de então, José Eduardo dos Santos, afirmava que “não se pode exigir que Angola respeite na sua totalidade todos os direitos humanos, uma vez que neste país se registou um conflito armado que durou mais de três décadas, é impossível mudar em poucos anos a mentalidade de um povo”.
Bento Bento acusou a UNITA de ser o líder, em aliança com alguns partidos da oposição, nomeadamente o Bloco Democrático e alguns Partidos da Oposição Civil (POC’s), de um plano para “derrubar o MPLA e o seu líder, José Eduardo dos Santos”.
“Têm como executivos mais dinâmicos nesta luta o secretário-geral da UNITA, Kamalata Numa, o presidente da JURA, Mfuka Muzemba, o Presidente do Bloco Democrático, Justino Pinto de Andrade, David Mendes, que têm outros executores, mas esses são os principais mentores”, afirmou Bento Bento. Entretanto, David Mendes foi reeducado com carradas de dólares e já passou para o outro lado.
“Quando um político entra em conflito com o seu próprio povo, perde a sua credibilidade no seu agir, torna-se um eterno ditador”, afirmou (recordam-se?) o bispo emérito de Cabinda, Paulino Madeca, falecido em 2008, numa carta dirigida a António Bento Bembe, mas que serve às mil maravilhas para este outros Bento… Bento.
Segundo Bento Bento, o plano tinha em vista unicamente “sabotar a realização das próximas eleições em Angola”. “Infelizmente entre os executores dessa conjura consta um deputado, que de manhã à noite instiga a sublevação contra as instituições, contra as autoridades e contra o MPLA, o senhor Makuta Nkondo”, acusou o político do MPLA.
Nesse sentido, Bento Bento pediu aos militantes do seu partido para que controlem “milimetricamente” todas as acções da oposição, em especial da UNITA, para não serem “surpreendidos”.
De acordo com o então primeiro secretário de Luanda do MPLA, a oposição liderada pela UNITA decidiu enveredar por “manifestações violentas e hostis, provocando vítimas, inventando vítimas, incentivando a desobediência civil, greves e tumultos, provocando esquadras e agentes e patrulhas da polícia com pedras, garrafas e paus”.
Que bandidos são estes tipos da oposição. E então quando o MPLA descobrir que Alcides Sakala, Lukamba Gato, Abílio Kamalata Numa, Adalberto da Costa Júnior, Adriano Abel Sapiñala, Nelito da Costa Ekuikui têm em casa um arsenal de Kalashnikov, mísseis Stinguer e Avenger, órgãos Staline, katyushas, tanques Merkava e muito mais…
“Em reacção da nossa polícia pretenderão a arma dos Direitos Humanos para em carreira legitimar uma intervenção estrangeira em Angola, tipo Líbia”, denunciou, Bento Bento, considerando que o mais grave era que a direcção do MPLA “tem dados da inteligência (informações) nas suas mãos que apontam que a UNITA está prestes a levar a cabo um plano B”.
Este plano previa (prevê), segundo os etílicos delírios de Bento Bento, “uma insurreição a nível nacional, tipo Líbia, Egipto e Tunísia”, sendo as províncias de Luanda, Huambo, Huíla, Benguela e Uíge as visadas.
Sempre que no horizonte se vislumbra, mesmo que seja uma hipótese remota, a possibilidade de alguma mudança, o regime dá logo sinais preocupantes quanto ao medo de ver a UNITA a governar o país.
Para além do domínio quase total dos meios mediáticos, tanto nacionais como estrangeiros, o MPLA aposta forte numa estratégia que tem dado bons resultados. Isto é, no clima de terror e de intimidação.
No início de 2008, notícias de Angola diziam que, no Moxico, “indivíduos alegadamente nativos criaram um corpo militar que diz lutar pela independência”. Disparate? Não, de modo algum. Aliás, um dia destes vamos ver por aí outros dos Kundi Paihamas do regime, como aconteceu com Bento Bento e agora com Francisco Furtado, afirmar que todos aqueles que têm, tiveram, ou pensam ter qualquer tipo de armas são terroristas da UNITA.
E, na ausência de melhor motivo para aniquilar os adversários que, segundo o regime, são isso sim inimigos, o MPLA poderá sempre jogar a cartada, tão do agrado das potências internacionais que incendeiam muitos países africanos, de que há o perigo de terrorismo, de guerra civil. Se no passado, pelo sim e pelo não, falaram de gente armada no Moxico, agora deverão juntar o Bié ou o Huambo.
Tal como Kundi Paihama, um dos maiores especialistas do MPLA nesta matéria, não tardará que Francisco Furtado redescubra mais uns tantos exércitos espalhados pelas terras onde a UNITA tem mais influência política (Luanda incluída), para além de já ter dito que quem falar contra o MPLA vai levar no focinho.
Tal como mandam os manuais, o MPLA começa a subir o dramatismo para, paralelamente às enxurradas de propaganda, prevenir os angolanos de que ou fica eternamente no Poder ou será o fim do mundo.
Além disso, nos areópagos internacionais vai deixando a mensagem de que ainda existem por todo o país bandos armados que precisam de ser neutralizados.
Aliás, como também dizem os manuais marxistas, se for preciso o MPLA até sabe como armar uns tantos dos seus “furtados” para criar a confusão mais útil. E, como também todos sabemos, em caso de dúvida a UNITA será culpada até prova em contrário.
Numa entrevista à LAC – Luanda Antena Comercial, no dia 12 de Fevereiro de 2008, o então ministro da Defesa, Kundi Paihama, levantou a suspeita de que a UNITA mantinha armas escondidas e que alguns dos seus dirigentes tinham o objectivo de voltar à guerra.
Kundi Paihama, ao seu melhor estilo, esclareceu, contudo, que os antigos militares do MPLA, “se têm armas”, não é para “fazer mal a ninguém” mas sim “para ir à caça”. Ora aí está. Tudo bons rapazes.
Quanto aos antigos militares da UNITA, Kundi Paihama disse que a conversa era outra e lembrou que mais cedo ou mais tarde iriai ser preciso falar sobre este assunto. Francisco Furtado já está a falar do assunto… Na entrevista à LAC, Kundi Paihama disse textualmente: “Ainda hoje se está a descobrir esconderijos de armas”.
O regime reedita agora, obviamente numa versão acrescentada e melhorada, as linhas estratégicas de um documento datado de 20 de Março de 2008, então elaborado pelos Serviços Internos de Informação, SINFO.
Na cruzada de então estavam os turcos do regime: Kundi Pahiama, Dino Matross, Bento Bento e Kwata Kanawa, com os meios de comunicação do Estado.
“A situação interna não transparece em bons augúrios para o MPLA, devido a várias manobras propagandísticas por parte dos partidos da oposição e de cidadãos independentes apostados em incriminar o Partido no Poder para fazer vingar as suas posições mercenárias junto da população civil e das chancelarias e comunidade internacional”, lia-se na versão de 2008 do documento do SINFO que propunha o seguinte plano operacional:
«1- Iniciar de imediato uma onda propagandística sobre a UNITA e os seus dirigentes nos órgãos de comunicação social, relacionados com a descoberta de novos paióis de armamento nas províncias e denegrir a imagem de dirigentes como Abel Chivukuvuku, Carlos Morgado, Alcides Sakala e Isaías Samakuva, com notícias com carácter escandaloso como contas bancárias no exterior, contactos com serviços secretos estrangeiros e também de espancamento de mulheres e crianças junto do núcleo familiar destes mercenários oposicionistas.
2- Avançar com processos criminais sob denúncia de elementos da população que podem compreender acusações de violações de menores, tráfico de influências em negócios ilegais e transacção ilegal de diamantes e indivíduos como William Tonet, Filomeno Vieira Lopes Rafael Marques, Alberto Neto e Carlos Leitão.
3- Aumentar a vigilância pessoal sobre os dirigentes da cúpula da UNITA e as escutas telefónicas em curso desde o nosso Departamento de Comunicações e reactivar as células-mortas de informadores no interior do Galo Negro sendo para isso necessário um plafond financeiro urgente.
4- Expulsar do território nacional, pelo menos seis ONG já identificadas em relatórios anteriores por operância de contactos em Luanda e nas capitais provinciais com elementos conotados com a cúpula da UNITA.
5- Reactivar as Brigadas Populares de Vigilância nos bairros de Luanda e nas capitais provinciais em acto paralelo com a distribuição de armamento ligeiro aos seus efectivos para defesa da população civil.»
Afinal, na História recente (desde 1975) do regime angolano, nada se perde e tudo se transforma para que os mesmos continuem a ser donos do poder e, é claro, de Angola.
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