O enorme aumento da inflação (à revelia do MPLA e por obra e graça dos arruaceiros da Oposição), no segundo semestre deste ano, afectou a vida dos angolanos, sobretudo daqueles que para se “remediarem” têm no mercado informal a forma de garantir o seu sustento, mas os vendedores queixam-se do negócio. Enquanto isso, ao que consta, nas grandes superfícies alimentares criadas pelo MPLA para alimentar os 20 milhões de pobres (conhecidas por lixeiras) a inflação é… zero!
Também a desvalorização do kwanza, estratégica segundo os peritos dos peritos do MPLA, influenciou o aumento dos preços nos armazéns, a principal fonte de abastecimento dos pequenos comerciantes, que nos mercados, nas ruas, revendem os produtos e com os lucros satisfazem as suas necessidades básicas.
Para colmatar a situação, em estudo está também a aplicação de medidas macro e micro económicas específicas para fomentar a proliferação das ditas grandes superfícies alimentares, conhecidas por lixeiras.
Com a época festiva (a que só os clãs dirigentes do reino terão um merecido e digno direito) às portas, espera-se que se venha a acentuar o aumento dos preços, apesar de as autoridades (as tais que estão no Poder há 48 anos) garantirem que estão a ser implementadas medidas para se evitar a especulação. Estão já a ser preparados “outdoors”, que serão colocados à entrada das lixeiras, a dizer “Proibido especular”.
O fraco, ou inexistente, poder de compra da população foi outro factor a provocar uma queda nos negócios, como contou à Lusa Eva Agostinho, zungueira (vendedora ambulante) há 20 anos, mãe de sete filhos.
“O negócio está duro, está difícil, não aparece, está muito caro”, disse, acrescentando que tem ainda de lidar com o problema dos fiscais (funcionários do Estado, ou seja, do MPLA), que recebem e ficam com os produtos ou pedem dinheiro.
Dedicada à venda de pedaços de redes de pesca, que são utilizadas para o banho, o seu negócio vem da província de Benguela, mas o preço “aumentou muito, desde que o Presidente da República entrou no poder”, queixou-se Eva Agostinho.
Recorde-se que o Presidente da República é o general João Lourenço, igualmente Presidente do MPLA, Titular do Poder Executivo e Comandante-em-Chefe das Forças Armadas (apartidárias).
Também Joana Bezerra, há 24 anos zungueira, vende roupas feitas com pano africano, mas considera que este negócio valeu a pena em tempos anteriores, porque os preços aumentaram e quase já não lucra.
“Há vezes que compramos a 1.000 kwanzas (1,1 euros) e vendemos a 1.500 (1,6 euros), para ganhar 500 kwanzas (0,5 euros) e é com isso que estamos a sustentar a nossa vida”, disse.
Joana Bezerra, com casa própria, tem ajuda do marido, que trabalha na Coca-Cola, diferente de Celestina Codina, de 51 anos, viúva e mãe de cinco filhos, que chegou a Luanda em 2014, vinda da província do Uíje, e um ano depois se tornou zungueira.
Celestina Codina comercializa vassouras, mas lamenta que o preço do produto subiu e “não ganha quase nada”.
“Com o bocado que ganhamos é que conseguimos comprar um quilo de fuba e conseguir criar os filhos”, salientou, acrescentando que tem já alguma ajuda da filha mais velha, que também é zungueira de sacos de plástico.
Segundo Celestina Codina, diariamente consegue vender duas a três vassouras, e tem o ganho de 350 kwanzas (0,3 euros) em cada vassoura.
Esclareça-se, não vão os nossos leitores começar a zurzir na benemérita estratégia do MPLA, que esta situação se insere nas aulas de educação patriótica onde é vital, condição “sine qua non” para obter o diploma, aprender a viver sem… comer!
Conta a Lusa que entre as centenas de vendedores ambulantes na zona da estalagem, no município de Viana, estava também António Givunge, 58 anos, que há quase 38 anos está nas ruas a vender livros de ensino da língua portuguesa, inglesa e francesa.
António Givunge, natural da província de Malanje, disse que “o custo do negócio subiu”, mas vai “remediando a vida”, vendendo diariamente quatro ou cinco livros, com um ganho de 3.000 kwanzas (3,3 euros). Uma verdadeira fortuna, claro.
“Esse dinheiro é que está a sustentar-nos, o importante é ter forças para trabalhar”, disse o zungueiro, que sustenta uma das três filhas que teve – duas já morreram – e mais três netos.
Apesar de o negócio ser fraco, António Givunge disse que vai continuar a vender os livros entre o centro da cidade e o município de Viana, “mesmo à rasca e com uma vida precária”.
Um estudo do Instituto Nacional de Estatística (INE) de Angola, em parceria com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e a Organização Internacional do Trabalho (OIT), publicado em Junho deste ano, refere que se estima que mais de 8,5 milhões de pessoas em Angola tenham um emprego informal.
Enquanto isso, a elite angolana (quase toda formada por dirigentes do MPLA e seus bajuladores) já prepara a sua ementa para as festas de Natal. Dela constam: Trufas pretas, caranguejos gigantes, cordeiro assado com cogumelos, bolbos de lírio de Inverno, supremos de galinha com espuma de raiz de beterraba e queijos acompanhados de mel e amêndoas caramelizadas e umas garrafas de Château-Grillet 2005.
Por sua vez, o resto da população escrava (onde figuram os nossos 20 milhões de pobres) terão uma melhorada ementa com, talvez, peixe podre e fuba podre.
Folha 8 com Lusa
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