JURA ABANDONA O CNJ

O secretário-geral a JURA, departamento de juventude do maior partido da oposição que o MPLA ainda permite em Angola, a UNITA, Nelito Ekuikui, acusou hoje, em declarações à Lusa, o MPLA de instrumentalizar o Conselho Nacional da Juventude, razão porque suspendeu a participação neste órgão.

Nelito Ekuikui diz que a UNITA “está a contestar a instrumentalização do Conselho Nacional da Juventude (CNJ) pelo MPLA (partido no Poder há 47 anos), particularmente pelo Presidente da República (João Lourenço)”, igualmente Presidente do MPLA.

O líder da Juventude Unida Revolucionária de Angola (JURA) considera que o CNJ “nos últimos anos desviou-se da sua missão fundante. Significa que o Conselho Nacional da Juventude hoje tornou-se num movimento de mobilização para elevar a imagem do actual Presidente da República e do MPLA, que tem a imagem completamente para baixo”.

Nelito Ekuikui acusa designadamente o CNJ de estabelecer o “culto de personalidade” de João Lourenço e de ser o “braço de apoio” do Presidente angolano.

“A direcção da UNITA, partido político interessado e vocacionado para o poder, não pode estar numa organização que legitima acções para a manutenção do poder do MPLA”, frisou.

Nelito Ekuikui acrescentou que pondera voltar a integrar a organização somente quando o CNJ “se transformar numa verdadeira plataforma de defesa dos direitos da juventude angolana”.

“Nós vamos agora apreciar para ver se eles mudam. Aí nós voltaremos. Se não mudarem, nós vamos fazer o quê? Tenho de liderar a Juventude angolana, portanto, vamos transformar a JURA na plataforma capaz de congregar a juventude angolana no sentido de fazer a alternância e permitir que a juventude consiga salvaguardar os seus direitos, direito ao trabalho, direito à habitação, direito à educação”, manifestou.

Nelito Ekuikui deu como exemplos da instrumentalização do CNJ pelo MPLA a distribuição de casas e dinheiro “com camisolas de propaganda do Presidente da República, condicionando a consciência (dos jovens angolanos) a um sentido de gratidão ao Presidente da Republica”.

SE EKUIKUI O DIZ, HÁ QUEM ACREDITE

Recorde-se que o então secretário provincial da UNITA para Luanda, Nelito Ekuikui, afirmou no dia 16 de Setembro de 2022, pouco antes de tomar posse como deputado para a quinta legislatura, que “é importante que a UNITA esteja nas instituições”.

Convidado a dirigir uma palavra às pessoas que se sentiam defraudadas e entendiam que a UNITA não devia tomar posse, Nelito Ekuikui afirmou que “o tempo vai ajudar a esclarecer, mas é importante que a UNITA esteja nas instituições, para melhor defender [o povo] e continuar a fazer esta caminhada”.

Nelito Ekuikui considerou o resultado das eleições “obriga os políticos todos a respeitarem o povo, porque estas eleições demonstraram que o povo tem uma voz”.

“E nós vimos a arrogância desaparecer. Por isso, seja qual for o desfecho [em relação ao apuramento dos resultados das eleições nacionais de 24 de Agosto e reconhecimento da sua legitimidade], os angolanos devem sentir-se orgulhosos pelo trabalho que fizeram”, disse ainda.

“Somos obrigados a dialogar mais com o povo, a ficar junto do povo, para corresponder às suas expectativas. ‘Nem sempre quem perde perdeu e nem sempre ganha quem ganhou’, é uma frase que se diz por aí. Por isso estou certo de que há pessoas com legitimidade para falar em nome deste povo e nós temos legitimidade”, acrescentou Nelito Ekuikui.

O responsável do partido do Galo Negro considerou ainda, na altura, que o discurso de tomada de posse do Presidente João Lourenço foi o “mesmo” de sempre e que pecou “essencialmente” por não se referir à realização de eleições autárquicas em Angola no futuro próximo, uma das maiores reivindicações do maior partido da oposição em Angola.

“O Presidente fez o mesmo discurso [de sempre]. O Presidente não falou das autárquicas. O Presidente não falou do que é essencial. Eu esperava um discurso que indicasse balizas para a construção de um futuro comum e [este] passa necessariamente pela realização das autárquicas”, disse.

“Em função dos resultados destas eleições, há vários espaços onde o MPLA já não tem legitimidade para continuar a governar e só as autárquicas podem conferir legitimidade a outros”, acrescentou Nelito Ekuikui.

O deputado e agora líder da JURA afirmou ainda esperar do Presidente “um discurso de mais unidade para Angola e para os angolanos, um discurso de maior despartidarização das instituições do Estado. Mas também já sabemos que quem tem que fazer este caminho são os angolanos”, apontou.

Já agora recorde-se que quanto à hipótese de a UNITA vir a ser convidada para governar nos círculos eleitorais onde obteve a vitória nestas eleições, como Luanda, Zaire ou Cabinda, enquanto não são realizadas as eleições locais, Nelito Ekuikui entendia que esta não é “necessariamente” uma compensação adequada, até porque, acrescentou, “a UNITA não anda à procura de espaços para governar num partido que não seja o seu”.

“O importante é que o senhor Presidente convoque as eleições autárquicas e nos seja conferido efectivamente esse poder”, declarou Nelito Ekuikui.

Folha 8 com Lusa

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